Regularmente são feitas campanhas para
promover o uso social do galego. Não escasseiam, por sua parte, debates
públicos sobre o seu estado de saúde social e por onde devemos transitar a
médio prazo. Um debate recorrente a respeito do discurso em volta do galego,
quando queremos promover o seu uso social, é: devemos focar apenas aspetos
positivos ou mostrar também o avançado estado de substituição linguística? Há
uns anos apareceram, na cidade onde moro, pintadas com um número que indicava
os falantes perdidos no ano anterior. Depois surgiram vozes diversas, quer
criticando a campanha, por pessimista, quer gabando-a, por promover a
consciência.
Uma regra básica da publicidade, poderia-se
arguir, é que o comum das pessoas não costuma pegar, para si, no que está
associado ao fracasso. Ainda, os que finalmente pegarem são tão poucos que nem
justifica a promoção.
Ora, acontece que este “tapemos o negativo”
dá muito jeito aos responsáveis da estratégia institucional para esconder um
fracasso e não questionar um modelo. Trinta anos deveria dar para fazer
análises embora também seja certo que, quando alguém só tem UMA estratégia,
para que servem as análises? Se correr bem, regozijemo-nos, se correr mal, é a
vida.
Os inícios dos anos 80 foram muito
importantes na história da nossa língua. Foi quando se começou a implementar a
estratégia “oficial”. Partia da base de que a cidadania do Brasil e de Portugal
e as suas produções, do género que forem, não tinham nada a ver connosco. Eram
estrangeiras.
A consequência mais relevante desta focagem
era que, para construir, havia que partir de zero. Queríamos o Windows em
galego? Partir de zero. Queríamos ler Paul Auster? Partir de zero. Queríamos os
desenhos animados da Peppa Pig? Partir de zero. Queríamos o Asterix? Partir de
zero.
O pior é que conseguiram convencer a maioria
dos galegos de que o seu zero particular era de todos, e multiplicar por zero
sabemos no que dá.
É o momento de trabalhar com outras aritméticas,
sobretudo porque não vamos ter muitas mais sequências de trinta anos. Valentim Fagim – Galiza in “Portal Galego da
Língua”
Valentim
Fagim
- Nasceu em Vigo. Professor de Escola Oficial de Idiomas (Ourense, Santiago de
Compostela e desde 2013 em Vila Gardia), é licenciado em Filologia
Galego-portuguesa pola Universidade de Santiago de Compostela e diplomado em
História. Trabalhou e trabalha em diversos âmbitos para a divulgaçom do ideário
reintegracionista, nomeadamente através de artigos em diversas publicações
(PGL, Novas da Galiza, Praza Pública, Sermos Galiza, etc.), mas também livros
como O Galego (im)possível, Do Ñ para o NH.Manual de língua para transitar do
galego-castelhano para o galego-português (2009) ou O galego é uma oportunidade
(2012). Tem realizado trabalho associativo através da AR Bonaval, da Assembleia
da Língua de Compostela, do local social A Esmorga e da AGAL, entidade que
promove a estratégia luso-brasileira para a nossa língua, de que foi presidente
entre 2009 e 2012 e de cujo Conselho continua a fazer parte como
vice-presidente. Também é académico da AGLP.
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