Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 11 de outubro de 2014

Galiza – Partir de zero

Regularmente são feitas campanhas para promover o uso social do galego. Não escasseiam, por sua parte, debates públicos sobre o seu estado de saúde social e por onde devemos transitar a médio prazo. Um debate recorrente a respeito do discurso em volta do galego, quando queremos promover o seu uso social, é: devemos focar apenas aspetos positivos ou mostrar também o avançado estado de substituição linguística? Há uns anos apareceram, na cidade onde moro, pintadas com um número que indicava os falantes perdidos no ano anterior. Depois surgiram vozes diversas, quer criticando a campanha, por pessimista, quer gabando-a, por promover a consciência.

Uma regra básica da publicidade, poderia-se arguir, é que o comum das pessoas não costuma pegar, para si, no que está associado ao fracasso. Ainda, os que finalmente pegarem são tão poucos que nem justifica a promoção.

Ora, acontece que este “tapemos o negativo” dá muito jeito aos responsáveis da estratégia institucional para esconder um fracasso e não questionar um modelo. Trinta anos deveria dar para fazer análises embora também seja certo que, quando alguém só tem UMA estratégia, para que servem as análises? Se correr bem, regozijemo-nos, se correr mal, é a vida.

Os inícios dos anos 80 foram muito importantes na história da nossa língua. Foi quando se começou a implementar a estratégia “oficial”. Partia da base de que a cidadania do Brasil e de Portugal e as suas produções, do género que forem, não tinham nada a ver connosco. Eram estrangeiras.

A consequência mais relevante desta focagem era que, para construir, havia que partir de zero. Queríamos o Windows em galego? Partir de zero. Queríamos ler Paul Auster? Partir de zero. Queríamos os desenhos animados da Peppa Pig? Partir de zero. Queríamos o Asterix? Partir de zero.

O pior é que conseguiram convencer a maioria dos galegos de que o seu zero particular era de todos, e multiplicar por zero sabemos no que dá.

É o momento de trabalhar com outras aritméticas, sobretudo porque não vamos ter muitas mais sequências de trinta anos. Valentim Fagim – Galiza in “Portal Galego da Língua”


Valentim Fagim - Nasceu em Vigo. Professor de Escola Oficial de Idiomas (Ourense, Santiago de Compostela e desde 2013 em Vila Gardia), é licenciado em Filologia Galego-portuguesa pola Universidade de Santiago de Compostela e diplomado em História. Trabalhou e trabalha em diversos âmbitos para a divulgaçom do ideário reintegracionista, nomeadamente através de artigos em diversas publicações (PGL, Novas da Galiza, Praza Pública, Sermos Galiza, etc.), mas também livros como O Galego (im)possível, Do Ñ para o NH.Manual de língua para transitar do galego-castelhano para o galego-português (2009) ou O galego é uma oportunidade (2012). Tem realizado trabalho associativo através da AR Bonaval, da Assembleia da Língua de Compostela, do local social A Esmorga e da AGAL, entidade que promove a estratégia luso-brasileira para a nossa língua, de que foi presidente entre 2009 e 2012 e de cujo Conselho continua a fazer parte como vice-presidente. Também é académico da AGLP.

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