SÃO
PAULO – Criado há quase 24 anos – mais precisamente a 26 de março de 1991 –,
depois da assinatura pelos presidentes do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai
do Tratado de Assunção, que constitui, na verdade, a ata de sua fundação, o
Mercosul ainda causa grande apreensão a industriais, exportadores, importadores
e formuladores da política de comércio exterior, todos preocupados com os seus
rumos. De alcance regional, o acordo apresentou resultados animadores em seus
primeiros anos: basta ver que, em 1998, os demais países do Mercosul absorveram
17% das exportações brasileiras. Mas depois entrou numa fase de retrocesso.
Em
2005, aquela fatia representava apenas 9,9% e o Mercosul seguia um caminho que
poderia levá-lo ao definhamento completo. Talvez por isso, em 2006, buscou-se
um “novo Mercosul” com o ingresso da Venezuela, à época comandada pelo presidente
Hugo Chávez (1954-2013), o que só se efetivou em 2012. Mas, transformado em
fórum ideológico pelos governos do Brasil, Argentina e Venezuela, o Mercosul
não se abriu para negociações com vistas à formalização de outros acordos
comerciais. Nem avançou nas reformas e na abertura econômica.
Hoje,
é senso comum que o Mercosul deve passar por uma flexibilização, sem que haja
rompimento entre os parceiros. Até porque a sua sobrevivência ainda é
importante para o comércio e a economia dos seus sócios. Segundo dados do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), entre 1991 e 2013, o
fluxo de comércio entre os sócios do Mercosul aumentou 800% e o Brasil registrou
saldo comercial com o bloco de aproximadamente US$ 80 bilhões, valendo-se
principalmente da diversidade de sua pauta de exportação.
Essa
flexibilização vai exigir o apoio dos setores industriais, que tradicionalmente
sempre se opuseram à liberalização tarifária para os produtos importados. É de lembrar que o Mercosul já firmou acordo
com Chile, Colômbia e Peru para levar a tarifa a zero até 2019, mas ainda
estuda a possibilidade de antecipar essa medida de desgravação, o que poderá
estimular ainda mais o comércio sul-americano, que vem crescendo sobremaneira.
Se o esforço der certo, o Brasil, com
certeza, ampliará seus mercados, com a criação de uma zona sul-americana de
livre comércio, inclusive com a adesão da Bolívia ao acordo. Pena que o México,
que forma com Chile, Peru e Colômbia a Aliança do Pacífico, não tenha sido
incluído nas negociações, o que ampliaria o espectro do tratado. Seja como for,
não se pode imaginar que a ampliação do Mercosul resolverá todos os problemas
do País na área de comércio exterior.
É preciso recuperar o tempo perdido
com a assinatura de tratados com outros países ou blocos, independente do
Mercosul, que, aliás, não impede os seus parceiros de buscar isoladamente
outros acordos. E seguir o exemplo de Colômbia e México. Só o México possui 12
acordos com o total de 44 países e regiões. Já a Colômbia tem tratados de livre
comércio com Estados Unidos, Canadá e China e pode levar seus produtos a esses
mercados com preços melhores do que os dos países do Mercosul. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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