SÃO
PAULO – A opção adotada no início da década passada pelo governo Lula de
diminuir a corrente de comércio (exportações/importações) com os Estados
Unidos, a pretexto de reduzir uma possível dependência, mostrou-se mais uma vez
equivocada. Até porque a ideologização do comércio nunca foi um caminho seguro,
como bem sabem os asiáticos que fazem todos os esforços para vender seus produtos
para o maior mercado do planeta.
Como
sabe todo bom comerciante, melhor vender para quem pode pagar em dia do que ficar
com o produto na prateleira ou vendê-lo para quem poderá ter problemas na hora
de honrar o compromisso. Mesmo assim, a diplomacia comercial brasileira
preferiu desdenhar o mercado norte-americano, adotando a chamada estratégia
Sul-Sul que privilegiava mercados emergentes e as nações que ficam na parte
inferior do mapa mundi. Como se uma
estratégia implicasse necessariamente o abandono de outra...
O
resultado disso é que, pelo terceiro ano consecutivo, as exportações
brasileiras para a África estão em queda. Segundo o Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC), de janeiro a setembro de 2014, o Brasil
vendeu US$ 7 bilhões em mercadorias para a região contra US$ 8,7 bilhões no
mesmo período em 2011, o que significa um decréscimo de 20%.
Uma
das regiões com maior potencial de crescimento no mundo, a África passou a
absorver maior quantidade de produtos nacionais a partir de 2003, quando o
governo a escolheu como prioritária em sua política comercial, mas, desde 2011,
as vendas registram queda. E isso não se dá porque a África tem importado menos
do mundo. É que tem preferido optar por outros fornecedores, provavelmente em
busca de preços mais competitivos e condições de pagamento mais favoráveis.
E
não deveria ser assim porque, afinal, a África, em cujos principais países
começa a aflorar uma classe média, busca essencialmente mercadorias em que o
Brasil é competitivo, ou seja, produtos agrícolas, como soja e açúcar. É
verdade que, apesar de toda a retórica do governo no início dessa estratégia
comercial que se mostrou com muita frente e pouco fundo, a África tem presença
modesta na pauta exportadora do Brasil (5%), mas isso não quer dizer que o seu
potencial deve ser menosprezado.
Urge,
portanto, uma retomada de estratégia que coloque o Brasil como fornecedor
também de produtos manufaturados. É
certo que sempre se levantam incertezas quando se tenta aprofundar o
relacionamento com determinados países africanos, alguns vivendo ainda
conflitos internos. Mas a partir da disposição de se transformar a Comunidade
de Países de Língua Portuguesa (CPLP) em bloco econômico, podem surgir
oportunidades para a intensificação desse intercâmbio. Nesse sentido, o MDIC
deveria procurar formalizar o acordo de investimentos que vem sendo negociado
com Angola e Moçambique desde o ano passado que, com certeza, dará maior
segurança a quem pretende fazer negócios naquele continente. Milton Lourenço
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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