SÃO PAULO – Estudo preparado pela Confederação
Nacional da Indústria (CNI), com base em dados da Organização Mundial de
Comércio (OMC), levando em conta as correntes de comércio de 2008 e 2013 dos
países que formam o G-20, apontou o Brasil na penúltima colocação no segmento
de bens industriais, à frente apenas da Arábia Saudita. O déficit brasileiro no
comércio de produtos manufaturados aumentou 150% entre 2008 e 2013. Outros 12
países também registraram déficit, ou seja, importaram mais do que exportaram,
mas só a Arábia Saudita apresentou resultado negativo maior que o do Brasil.
Esses dados constituem um argumento irrespondível e
refletem com fidelidade o que foi a política de comércio exterior colocada em
prática pelos últimos governos. Em outras palavras: são o retrato fiel do
fracasso de uma estratégia que está levando o País a uma situação de crise, que
custará muitos anos de sacrifício para ser revertida, se o novo (velho) governo
que saiu das urnas não reformular sua estratégia para o comércio exterior.
Os números da OMC mostram que o Brasil vem perdendo
eficiência exatamente nos bens manufaturados, que têm maior valor agregado, em
razão de um processo que já ficou consagrado como “desindustrialização”. Se já
não exporta tanto bens manufaturados como antes, o Brasil ampliou o seu déficit
de US$ 35 bilhões para US$ 88 bilhões no período de 2008 a 2013. Isto porque
suas exportações também não acompanharam a tendência das nações mais
desenvolvidas: enquanto as exportações mundiais de manufaturados chegaram a US$
11,8 trilhões em 2013, registrando um crescimento de 13,4% em relação a 2008,
as do Brasil caíram 1% no período.
O que explica esse fracasso já se sabe há muito
tempo. São causas que até já ganharam um termo apropriado: custo Brasil, que
inclui dificuldades de logística, burocracia alfandegária e um elevado peso
tributário que tornam os produtos brasileiros pouco competitivos, inclusive os
do agronegócio, que precisam viajar dias e dias em cima de carretas por
estradas nem sempre asfaltadas. Além disso, o Brasil, nos últimos tempos,
insistiu em fechar-se para o mundo, deixando de firmar acordos de preferências
com países e blocos, limitando-se a participar do Mercosul, que, até agora, não
conseguiu fechar um tratado de livre-comércio com a União Europeia, depois de
mais de uma década de negociações.
A rigor, a única conquista política no setor do
governo que se encerra foi a eleição há um ano do brasileiro Roberto Azevêdo
para a direção-geral da OMC, em Genebra. Mas, se Azevêdo tem se saído bem no
desafio de lutar em favor do multilateralismo e da liberalização do comércio,
razão de ser da OMC, o que lhe tem rendido elogios dos jornais econômicos do
Primeiro Mundo, para o Brasil em termos práticos pouco significou até agora.
Em dezembro de 2013, em boa parte, graças aos
esforços de Azevêdo, chegou-se na OMC ao acordo de Bali, que então foi
considerado o relançamento da Rodada de Doha, que estabelece dezenas de medidas
para facilitar o fluxo de bens nas alfândegas e para reduzir a burocracia. Mas,
desde então, os países-membros não conseguiram aprovar um protocolo técnico, o
que praticamente levou as negociações outra vez à estaca zero. Milton Lourenço - Brasil
_______________________________________
Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística
Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional
dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail:
fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
Sem comentários:
Enviar um comentário