É
hora de reagir
SÃO PAULO – Estudo feito
pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que o Brasil está em xeque
no tabuleiro do comércio exterior. Embora o governo federal tenha baixado quase
20 pacotes desde a eclosão da crise financeira internacional em 2008, nada foi
suficiente para alterar um quadro de declínio na participação do País no
comércio global.
Nem mesmo a redução de
juros e a manutenção do dólar na casa dos R$ 2,00 foram fatores capazes de
mudar esse quadro preocupante. O resultado disso é que está cada vez mais
difícil vender produtos nacionais no exterior, enquanto a participação dos
importados no consumo dos brasileiros não para de crescer.
Diante de uma
infraestrutura pública pesada e ineficiente que só aumenta os custos, uma
burocracia que não dá sinais de que possa ser reduzida a níveis civilizados e
uma carga tributária assustadora, a indústria se contrai e tende a investir
pouco à espera de horizontes mais favoráveis. Sem contar que o Brasil não
participa de nenhum bloco econômico de peso, já que o Mercosul só tem
retrocedido. Basta ver que hoje as trocas dentro do Mercosul representam apenas
12% do comércio exterior dos países-membros, quando já foram 17%.
E, no entanto, não
deveria ser assim, pois, depois do fracasso da Rodada Doha, cujo objetivo é
reduzir as barreiras comerciais, a tendência é o mundo regionalizar-se. Para
piorar, ao menos em relação ao Brasil, EUA e União Europeia desenvolvem amplas
negociações para a eliminação de barreiras para a circulação de bens e
serviços. Isso significa que cada vez haverá menos espaço para os produtos manufaturados
brasileiros.
É hora, portanto, de
reagir e estabelecer um plano estratégico para a reinserção do Brasil no
comércio exterior, a partir da eleição do diplomata Roberto Azevêdo para a
direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o que se pode dar com a
reativação das negociações iniciadas há mais de uma década entre Mercosul e União
Europeia. E quem sabe com a assinatura de outros acordos de livre-comércio ou
de preferências tarifárias, a exemplo daqueles que foram firmados com Israel,
Palestina e Índia que, se não representam muito, ao menos constituem um bom
começo. Um grande parceiro pode ser o México, que já manifestou vivo interesse
em firmar esse tipo de tratado.
Para tanto, porém, o
Brasil precisa superar as dificuldades que se levantam para a exportação de
manufaturados, o que equivale a dizer que o País precisa assegurar custos mais
baixos de produção. E deixar de depender do agronegócio para equilibrar a
balança comercial, valendo-se de uma circunstância episódica que mantém em alta
os preços das matérias-primas e insumos.
Por fim, o governo
precisa deixar de misturar política com economia e passar a encarar a Área de
Livre Comércio das Américas (Alca) como, de fato, ela é, ou seja, uma grande
oportunidade de negócios. Até porque os EUA compram do Brasil não só pastas
químicas, ferro-liga, petróleo em bruto e café em grão como manufaturados de
elevado teor tecnológico, como aviões. Mauro
Dias - Brasil
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Mauro
Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística
Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e
Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
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