Para
escrever o poema
e o pássaro foge-lhe do verso.
O
poeta quer escrever sobre a maçã:
e
a maçã cai-lhe do ramo onde a pousou.
O
poeta quer escrever sobre uma flor:
e
a flor murcha no jarro da estrofe.
Então,
o poeta faz uma gaiola de palavras
para
o pássaro não fugir.
Então,
o poeta chama pela serpente
para
que ela convença Eva a morder a maçã.
Então,
o poeta põe água na estrofe
para
que a flor não murche.
Mas
um pássaro não canta
quando
o fecham na gaiola.
A
serpente não sai da terra
porque
Eva tem medo de serpentes.
E
a água que devia manter viva a flor
escorre
por entre os versos.
E
quando o poeta pousou a caneta,
o
pássaro começou a voar,Eva correu por entre as macieiras
e todas as flores nasceram da terra.
O
poeta voltou a pegar na caneta,
escreveu
o que tinha visto,e o poema ficou feito.
Nuno Júdice –
Portugal – Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-americana
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