Paiol é considerado um bairro mítico da cidade da Praia, mas com muitos problemas sociais, e o ‘click’ que faltava começou com a pintura de algumas casas, num projecto de prevenção do consumo de álcool e drogas.
O
projecto de transformação da zona do Paiol é da autoria do artista e activista
social Gá Dalomba, dono da casa dos pais no mesmo bairro, que virou um
pardieiro e um amigo queria comprá-la, mas surgiram outras ideias para a
moradia. “Vim cá com algumas pessoas, limpámos o espaço, convidei um amigo
artista, fizemos um ‘graffiti’ e transformámos a casa. E depois vi que ambos os
lados também precisam de ser requalificados, quer dizer, a zona toda, e porque
não juntos tentarmos fazer isso?”, descreveu à Lusa o cantor, de 39 anos,
natural do Paiol.
Gá
Dalomba é presidente da Fundação Garah (garra), em que desde 2016 o próprio
percorre as ilhas com o projecto “Nunca Experimentar”, contando a sua própria história
de superação do consumo de álcool e outras drogas. Considerando-se como um
adicto em recuperação, o activista recordou que depois da ideia falou com os
vizinhos, contrataram os artistas e pintaram as fachadas de cinco casas.
“Depois
disso, fiquei a pensar, podemos ir mais profundo”, afirmou, indicando que,
nesta fase, o objectivo é dar cor e brilho a 15 moradias do Paiol, o segundo
bairro à entrada da Praia, à direita, para quem chega do aeroporto.
Uma
das cinco casas que foram pintadas foi a de António Monteiro, de 59 anos,
natural do Fogo, mas há 55 anos a morar no mesmo sítio na capital do país. Este
pedreiro de profissão disse que acolheu o projecto de bom grado e pós
literalmente a mão na massa, rebocando a fachada da casa, que primeiro foi de
chapas metálicas, depois de telha e actualmente com cobertura de betão armado e
paredes de pedra e barro.
“É
um bom projecto, gostei”, afirmou à Lusa o morador, prometendo apoiar em tudo o
que for preciso para que o projecto chegue a mais casas da zona.
“Com
esta apresentação, ficou mais ou menos. Se estava danificado a 100%, agora está
requalificado em 25%, precisa de mais um passo”, manifestou um dos
beneficiados.
Depois
de começar nas casas, Gá Dalomba viu que ainda havia muito trabalho por fazer
no bairro, tendo criado um projecto para ocupar os jovens, com formação
profissional, e também campanhas de sensibilização para a necessidade de manter
as ruas limpas. E a casa do pai que serviu de inspiração para todo o projecto
vai acolher um estúdio de gravação, uma escola de música e uma biblioteca, para
promover o acesso à cultura e à educação.
“O
projecto é muito maior do que qualquer um de nós, não sou eu, fui só um
instrumento, porque o vizinho também fez algo, deu um toque na casa para
podermos pintar, e não é uma pintura de outro mundo, mas o amor, o tempo
dedicado à pintura, não tem preço”, frisou o mentor da ideia para esta que é
considerada uma das zonas míticas da cidade da Praia.
Com
estes projectos, Gá Dalompa espera aumentar a auto-estima dos moradores, mas
também criar atractivos para os turistas e visitantes. “Se transformarmos o
bairro será muito mais fácil uma pessoa vir cá”, enfatizou, dando como exemplo
a Rua d’Arte, na Terra Branca, que serviu de inspiração com as suas pinturas,
funcionando já como que um museu a céu aberto, recebendo muitos visitantes e
servindo de cenário para fotos e palco para gravação de vídeos.
“Paiol
é uma zona mítica, e acho que está a precisar agora é de um ‘click’”,
identificou ainda o activista, elogiando o envolvimento dos moradores nos
projectos. “A minha ideia agora é tentar juntar todos, porque todos somos muito
mais fortes, e tentar desenvolver a nossa zona, a nossa cidade, o nosso país”,
traçou do presidente da Fundação Garah, que está em fase de oficialização.
Com
o projecto “Nunca Experimentar”, Gá Dalomba já passou por seis ilhas de Cabo
Verde, entre liceus, universidades, comunidades e casas de famílias, num total
de 40 famílias, e já foi também à diáspora cabo-verdiana, beneficiando cerca de
20 mil pessoas. “O efeito é diário, o meu telemóvel transformou-se numa sala de
terapia, mas não sou um terapeuta, ajudo até onde eu puder e encaminho”,
avançou, dizendo, por isso, que a solução é a prevenção, com benefícios para
todos, evitando sofrimento para a família, para os amigos, para a sociedade,
para o Governo e para o próprio dependente de álcool e de outras drogas.
“Queremos
dar uma resposta à sociedade. Acho que chegou o momento de pararmos de apontar
o dedo e vermos o que estamos a fazer para nos melhorar e para melhorar a nossa
sociedade, sermos a mudança que queremos da nossa sociedade”, apelou o
presidente da fundação, que tem ainda uma marca de roupa. Ricardino Pedro –
Agência Lusa in “Jornal Tribuna de Macau”
Sem comentários:
Enviar um comentário