Este sábado, dia 19, o espaço Art Garden vai ser preenchido por sons de djambés, didgeridoos e outros instrumentos invulgares como o asalato ou o handpan, um instrumento metálico de percussão que muitos dizem se assemelhar a um ovni, uma carapaça de tartaruga, ou a uma cataplana. Os Asura são sete músicos de Macau que vão apresentar as sete músicas do álbum de estreia neste concerto de entrada gratuita
Os
Asura, um colectivo de sete músicos naturais de Macau, vão apresentar o
primeiro álbum num evento de entrada livre, que começa com um concerto às 20h,
e depois segue com um momento de conversa com os músicos, sendo ainda possível
manusear e tocar estes instrumentos acústicos. Ao Ponto FinaL, Dave Wan, um dos
membros centrais do grupo, explicou que os Asura são o próprio, que toca
handpan, o Lobo, que toca djambé, o Tou e o Peter, que tocam didgeridoo, o
Gallant, que toca guitarra acústica, e o Patrick e o IQ, que tocam asalato, um
instrumento de percussão composto por duas esferas presas a uma corda. Os sete
amigos começaram a tocar juntos por volta de 2017. “Já nos conhecíamos há algum
tempo, costumávamos juntar-nos para tocar e improvisar asalato ao ar livre, e
depois alguns músicos começaram a querer aprender mais instrumentos; eu aprendi
a tocar handpan, outros didgeridoo, e depois decidimos formar um grupo de World
Music, e assim foi que surgiram os Asura”.
O
processo criativo das composições originais, partilhou o músico, começa com uma
improvisação. Depois de uma melodia do handpan tomar a dianteira, “os outros
músicos vão interagindo com os seus elementos nessa melodia, e é assim que se
vai criando uma nova canção”. Dave Wan quis acrescentar que os Asura gostam de
tocar sempre em “montanhas”, na Guia ou em Mong Há: “tocamos nesses lugares à
noite, e criamos música assim juntos”.
Quanto
ao nome escolhido para o colectivo, a palavra “Asura” refere-se a personagens
da mitologia hindu, que eram demi-deuses, metade humano, metade deus. “É uma
criatura brincalhona, como um espírito da floresta. Decidimos escolher este
nome como mote para explorar este espaço entre o divino e humano”, revelou o
representante da banda. Será que a música dos Asura consegue atingir esse espaço
“mais perto do céu”? Dave Wan admitiu a possibilidade: “sim, a nossa música
pode levar o ouvinte a explorar essas dimensões, pelo menos eu gostaria que
tivesse esse efeito de elevar o espírito (risos)”.
Falando
sobre o álbum em si, que tem o mesmo nome da banda, o músico explicou que na
verdade este já foi lançado há um ano, mas que, com a pandemia, os Asura
adiaram o lançamento oficial até agora. Foi a convite da produtora local
Mowave, que promove música feita em Macau, que os músicos produziram o álbum.
“A Mowave, que tem membros que são nossos amigos e que apreciam World Music,
sabiam que tínhamos músicas originais, e então, por volta de 2020,
perguntaram-nos se queríamos fazer um álbum, e nós claro que aceitámos”,
afirmou Dave Wan. O álbum foi inteiramente gravado no estúdio da banda, o
Native Cave. “Nós fizemos a gravação e eles trataram de tudo, a promoção,
edição, etc”.
Na
página de promoção do concerto nas redes sociais, para além do percurso dos
Asura, e dos vários festivais e eventos em que estes participaram, pode-se ler
que “no mundo acelerado da tecnologia electrónica e da Internet de hoje, é
importante respeitar e preservar os conhecimentos tradicionais da nossa
sociedade, para que possam ser transmitidos à próxima geração”. Estes instrumentos
acústicos e tradicionais são aquilo que os juntou, e foi por sentirem a
necessidade de dar a conhecer estes instrumentos, explica Dave Wan, que os
Asura decidiram também organizar o concerto do próximo sábado. “Queremos
partilhar a nossa música com o público, queremos que saibam que temos um álbum
editado, e dar a conhecer os nossos instrumentos, e como se cria música com
eles. Actualmente, ainda não há muita gente que conheça World Music em Macau”,
observou.
Música e conversa
No
evento no espaço do n.º 265 da Av. do Dr. Rodrigo Rodrigues, o colectivo de
World Music irá apresentar as sete músicas do álbum, seguindo-se depois um
momento de conversa com o público, e se os presentes assim o desejarem, podem
ainda experimentar tocar e improvisar com os instrumentos. No espaço estarão
CD à venda, mas Dave Wan quis também referir que “como agora já não há muita
gente que tenha leitores de CD, também quero destacar que o álbum está
disponível na Apple Music, Spotify, e outras plataformas digitais como a QQ
Music”.
Projectos
futuros, de aproveitar a abertura das fronteiras para participar em eventos
fora de Macau, ou de mesmo voltar a organizar concertos e workshops de “música
étnica” no Festival Hush, como na edição do ano passado, para já não há, mas
vontade não falta. “Com a pandemia não pudemos tocar muito em Macau nem no
estrangeiro, por isso agora, com este álbum, que mostra as nossas músicas
originais, temos um bom cartão de visita, e se se proporcionar a oportunidade
de colaborarmos com outros eventos relacionados com meditação, yoga, e assim,
claro que queremos ir e tocar fora de Macau, porque é uma experiência especial
para nós”, projectou.
Dave
Wan recordou as experiências passadas do Hush, onde já tocou três vezes, mas
não no palco principal, que é mais focado no Rock. “Tocámos no Summer Stage,
porque a nossa música é mais calma, e no ano passado tivemos uma área especial,
através da nossa Associação de Música Étnica Rítmica de Macau, em que fomos
responsáveis por uma zona de acampamento e vários workshops de introdução a
estes instrumentos”. Para a edição de 2023 do festival local, para já, não há
nada alinhavado, porque para além de alguns membros estarem “muito ocupados” e
um deles ter sido pai recentemente, “ao fim de três anos de colaboração com o
Hush preferimos criar conteúdo diferente”.
Os
Azura já actuaram no Festival de Música “A Few” e no “Beishan World Music
Festival” em Beishan, Zhuhai. Para além de ser membro dos Asura, Dave Wan
também tem outro projecto musical com Manuel Variz, o duo Nàv, onde ambos tocam
handpan e organizam sessões de música intituladas “Sessions for the Soul” no
estúdio Native Cave.
Perguntámos
a Dave Wan qual é o a razão que o atraiu a este estilo de música, em vez de
outra, ao que este respondeu que para ele, a World Music não tem um formato
específico, e é única por isso. “Por exemplo, quando se toca jazz ou rock &
roll, há um formato particular, que normalmente é seguido pelos músicos. Mas na
World Music isto não acontece, podemos improvisar, e explorar à vontade. Este
estilo de música, para mim, é mais livre, e faz-me sentir mais livre”.
O
músico fez ainda referência ao seu instrumento de eleição, o handpan, “um
instrumento relativamente novo que tem cerca de 20 anos de história”, e que, na
sua perspectiva, “revolucionou por completo a World Music, porque se soube
encaixar tão bem com os outros instrumentos que já eram usados”. Para Dave Wan
o handpan e o didgeridoo “são uma combinação perfeita”. Rita Gonçalves –
Macau in “Ponto Final”
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