As
autoridades de Nagasaki aproveitaram ontem o 78.º aniversário do bombardeamento
atómico da cidade japonesa pelos Estados Unidos para exortar as potências
mundiais a abolir as armas nucleares, mesmo para efeitos de dissuasão. O apelo
foi feito depois de o grupo das sete potências industriais (G7) ter adoptado,
em Maio, um documento sobre o desarmamento nuclear que apelava para utilização
das armas nucleares como meio de dissuasão. O Japão integra o G7, juntamente
com Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália e Reino Unido. “Enquanto
os Estados dependerem da dissuasão nuclear, não poderemos construir um mundo
sem armas nucleares”, afirmou o presidente da câmara de Nagasaki, Shiro Suzuki,
citado pela agência norte-americana AP.
A
ameaça nuclear da Rússia encorajou outros países a acelerar ou a aumentar as
capacidades nucleares, elevando ainda mais o risco de uma guerra nuclear, disse
Suzuki. Desde que invadiram a Ucrânia, em 24 de Fevereiro de 2022, as
autoridades russas têm avisado o Ocidente de que um envolvimento no conflito
pode levar a uma guerra nuclear. Os Estados Unidos lançaram a primeira bomba
atómica do mundo sobre a cidade japonesa de Hiroshima em 6 de Agosto de 1945,
destruindo a cidade e matando 140 mil pessoas. Três dias depois, um segundo
ataque contra Nagasaki matou mais 70 mil pessoas. O Japão rendeu-se seis dias
depois, em 15 de Agosto, pondo fim à Segunda Guerra Mundial e a quase meio
século de agressão na Ásia.
Às
11:02 locais, no momento em que a bomba explodiu sobre a cidade do sul do
Japão, os participantes na cerimónia ontem realizada por ocasião da efeméride
guardaram um momento de silêncio com o som de um sino da paz. Suzuki manifestou
a preocupação dos sobreviventes com o facto de a tragédia ser esquecida à
medida que o tempo passa e as memórias se desvanecem. A preocupação aumentou
depois de uma reação generalizada de indignação no Japão às publicações nas
redes sociais sobre “Barbenheimer”, uma combinação dos títulos dos filmes
“Barbie” e “Oppenheimer”, lançados no Verão. A associação da boneca a J. Robert
Oppenheimer, que ajudou a desenvolver a bomba atómica, foi vista por muitos
japoneses como uma forma de minimizar o número de vítimas dos bombardeamentos.
Shiro Suzuki, cujos pais eram ‘hibakusha’ (pessoas afectadas pela explosão),
disse que os testemunhos dos sobreviventes são uma verdadeira dissuasão do uso
de armas nucleares. Numa mensagem vídeo, o primeiro-ministro japonês, Fumio
Kishida, reconheceu que o caminho para um mundo sem armas nucleares se tornou
mais difícil devido ao aumento das tensões e dos conflitos, incluindo a guerra
da Rússia contra a Ucrânia. Kishida, que representa Hiroshima no parlamento,
irritou os sobreviventes por justificar a posse de armas nucleares para fins de
dissuasão e por se recusar a assinar o Tratado sobre a Proibição de Armas
Nucleares. Suzuki exigiu a aprovação rápida do tratado “para mostrar claramente
a determinação do Japão em abolir as armas nucleares”, apesar das tensões provocadas
pela China e Coreia do Norte. In “Ponto Final” - Macau
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