O núcleo de Paris do Grupo Mulheres do Brasil celebrou o
seu segundo aniversário, na passada segunda-feira, dia 21 de outubro, na Maison
de l’Amérique Latine, em Paris
A temática escolhida para este aniversário foi a questão da violência doméstica que, como explicou ao LusoJornal a dirigente Nazish Munchenbach, do Núcleo de Paris, se deveu ao facto de ser “um tema que toca toda a sociedade, todas as classes sociais, e as estatísticas são assustadoras quer seja em França, no Brasil como no resto do mundo”. O objetivo principal da escolha deste tema é o de sensibilizar as mulheres a falarem pois “antes as mulheres ficavam caladas, mas agora começam a levantar a voz e uma das primeiras vozes conhecidas a fazê-lo no Brasil foi a Luiza Brunet que convidámos para falar hoje”.
Nazish
Munchenbach explicou a importância deste encontro para as mulheres brasileiras
em França porque “A mulher expatriada, emigrante, quando vem para cá está
fragilizada, está longe da família, não fala o idioma, não sabe como a
sociedade funciona, e um dos objetivos deste encontro é que elas saibam que há
possibilidade de apoio aqui”, e prosseguiu explicando que por vezes o homem pode
pressionar ficando com os documentos da mulher ou utilizando os filhos. Para
esta dirigente, é necessário levantar a voz não somente das vítimas, mas também
de quem é testemunha da violência doméstica e mostrou-se muito emocionada
confessando que esta temática a toca pessoalmente devido à sua história: “mora
no meu coração, na minha alma, me deixa muito emocionada, quero trabalhar com
isso”.
O
encontro, numa sala cheia sobretudo por mulheres e que contou com a presença do
Embaixador do Brasil em França, começou com as intervenções das dirigentes do
Núcleo de França, Nazish Munchenbach, Anna Carolina Coelho e Andrea Clemente.
Depois
foi feita uma apresentação geral do Grupo Mulheres do Brasil. O Grupo nasceu em
2013, a partir de um grupo de 40 mulheres que “sonhavam em engajar a sociedade
na conquista de melhorias para o país. (..) Um grupo heterogêneo, de diferentes
classes sociais, cores e credos. Mas com o mesmo objetivo em comum: estimular a
participação feminina na construção de um Brasil que seja melhor para todos os
cidadãos”.
Hoje,
o Grupo Mulheres do Brasil existe em outros 12 países do mundo – Alemanha,
Bélgica, Colômbia, Chile, Espanha, Estados Unidos, França, Inglaterra, Itália,
Portugal, Singapura, Suécia – através de 18 núcleos e conta com cerca de 35 mil
aderentes.
Foram
mostrados vários slides e um filme sobre o Grupo, cujo um dos lemas é “Não
somos contra os homens, somos a favor das mulheres” e que tem como premissas
ser feminista, lutar pelo fim da violência contra a mulher, a favor dos
direitos humanos, da liberdade de imprensa, da igualdade racial, contra
qualquer tipo de discriminação, a favor de um sistema público e eficiente de
saúde, a favor da educação de qualidade e a favor da democracia.
Os
vários Comités do Núcleo de Paris foram em seguida apresentados de forma
detalhada por Andrea Clemente. Estes Comités trabalham mais especificamente
temáticas como a cultura, a educação, o empreendedorismo, a saúde ou a
integração social.
Jaminny
Benício e a psicóloga Tatiane Schneider apresentaram, em seguida, o Comité de
combate à violência contra a mulher.
Jaminny
Benício apresentou algumas leis referentes à proteção das mulheres, quer em
França como no Brasil, mas também alguns números reveladores do trabalho
essencial que resta a fazer nesta matéria, como por exemplo, o facto de que,
segundo a OMS, o Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídios do mundo com
uma mulher assassinada a cada duas horas.
A
intervenção da psicóloga Tatiane Schneider foi um dos momentos mais fortes
deste encontro ao explicar os mecanismos da violência através da sua própria
experiência como profissional.
Por
fim, a conhecida atriz e modelo brasileira Luiza Brunet fez uma palestra
intitulada “Cada voz conta – A importância da discussão e união no combate à
violência contra as mulheres”. Luiza Brunet alicerçou a sua intervenção sobre a
sua própria vivência pessoal. Tendo crescido num ambiente familiar difícil e
vivido no corpo a violência doméstica, em 2016 decidiu comprometer-se por esta
causa e percorre vários países do mundo para levar a sua experiência ao maior
número. Como explicou ao LusoJornal, este trabalho de ajudar outras mulheres
“também me ajuda a mim”.
No
fim houve um momento de perguntas e respostas com o público, sobretudo
direcionadas a Luiza Brunet e à psicóloga.
Nas
suas declarações ao LusoJornal, tanto Nazish Munchenbach como Luiza Brunet,
mostraram-se otimistas para o futuro com a dinâmica impulsionada pelo movimento
“#MeToo” pois, segundo esta última, este movimento “abriu um precedente
maravilhoso”.
Para
Nazish Munchenbach é importante este passo que “consiste em ter consciência de
que existe um problema” e defende que seria importante que os homens dessem
bons exemplos aos filhos e que deveriam existir modelos positivos de
masculinidade porque hoje os super-heróis ainda são muito violentos e os homens
também sofrem da toxicidade masculina, sendo que a violência doméstica é um dos
seus sintomas.
Luiza
Brunet regozijou-se de haver muitos movimentos de mulheres no Brasil, mas que
isto ainda não é suficiente para mudar esta situação. É, segundo a atriz,
necessário “trazer os homens para as conversas, eles têm de nos ouvir” e
concluiu dizendo que deseja empoderar outras mulheres através do seu
testemunho, dar o exemplo para que outras mulheres também falem porque “quando
se fala, a pessoa cura as outras e cura-se a si própria”. Luísa Semedo –
França in “LusoJornal”
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