Espécie consumida como chimarrão, tereré ou mate alia
manejo florestal sustentável e continuidade cultural; plantio em florestas de
araucária, no Paraná, ajuda a proteger a biodiversidade ameaçada. A
comercialização do produto oferece emprego rural digno e conecta produtores por
meio de cooperativas
O
cultivo de erva-mate no sul do Brasil entrou para a lista do Património de
Sistemas Agrícolas de Importância Global, Giahs. O anúncio foi feito nesta
quarta-feira pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura,
FAO.
A
agência também incluiu na lista outros cinco sítios, localizados na China, no
México e na Espanha. Com as novas adições, a rede mundial de património
agrícola agora conta com 95 sistemas em 28 países.
Manejo sustentável e continuidade cultural
No
caso do Brasil, o título foi concedido para o cultivo de erva-mate em sistemas
agroflorestais sombreados nas florestas de araucária no Estado do Paraná.
As
folhas da espécie nativa são tradicionalmente consumidas como chimarrão, tereré
ou mate, inclusive noutros países como Argentina, Uruguai e Paraguai.
O
sistema tradicional de plantio remonta a práticas ancestrais de povos indígenas
e comunidades tradicionais do sul do Brasil, que existem há mais de cinco
séculos. Para a FAO, as técnicas usadas representam um modelo globalmente
significativo de manejo florestal sustentável e continuidade cultural.
A
agência destaca que o cultivo fortalece a biodiversidade, a soberania alimentar
e a identidade cultural. Além disso, ajuda a conservar a floresta de araucária,
um dos berços de biodiversidade mais ameaçados do planeta.
Numa
região fortemente impactada pelo desmatamento, onde resta apenas 1% da floresta
original, este sistema oferece um raro exemplo de práticas agrícolas que
preservam a cobertura florestal e, ao mesmo tempo, apoiam os meios de
subsistência e o património cultural.
Emprego rural digno
Mais
de 100 espécies de plantas coexistem com a erva-mate. Muitos produtores
conservam intencionalmente árvores frutíferas nativas, plantas medicinais e
espécies forrageiras, apoiando tanto as funções ecológicas quanto o uso humano.
Esses
agroecossistemas também preservam parentes selvagens de espécies cultivadas e
diversidade genética dentro das populações de erva-mate, oferecendo potencial
adaptativo diante das alterações climáticas e pragas emergentes.
Nesse
sentido, a produção de erva-mate contribui com compromissos globais ligados à
restauração de ecossistemas e resiliência climática.
A
comercialização do produto, principalmente por meio de cooperativas e mercados
solidários, oferece emprego rural digno e conecta produtores a cadeias de valor
regionais e nacionais.
Coletores de flores “sempre-vivas” em Minas-Gerais
Este
foi o segundo património brasileiro incluído na lista da FAO, ao lado do
sistema agrícola tradicional na Serra do Espinhaço, em Minas Gerais.
O
local é considerado a savana mais biodiversa do planeta, com um papel muito
importante na regulação das chuvas da região.
Os
agricultores locais desenvolveram um complexo sistema agrícola denominado
"coletores de flores sempre-vivas", com base no seu profundo
conhecimento dos ciclos naturais, ecossistemas e manejo da flora nativa,
alcançando uma grande harmonia com o meio ambiente.
Os
outros itens que passaram a integrar a lista do património da FAO são o cultivo
de mexilhões perolados, chá branco e peras na China, um sistema que preserva
mais de 140 espécies nativas no México e um conjunto de práticas agrícolas nas
areias vulcânicas da ilha de Lanzarote, na Espanha. ONU News – Nações Unidas
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