O Zé Povinho está a celebrar 150 anos e o Museu Bordalo Pinheiro, em Lisboa, vai renovar a sua coleção permanente e preparar festejos a partir de julho até ao próximo ano, disse o diretor
“Mais
do que uma ideologia, o Zé Povinho é uma figura de cidadania e contra as
injustiças”, disse à agência Lusa João Alpuim Botelho, diretor do Museu
Bordalo, referindo que a figura foi apropriada “por todos, lembrando a ‘Cantiga
da Rua’, ‘não é minha nem é tua é de toda a gente'”.
A
personagem Zé Povinho surgiu pela primeira vez no dia 12 de junho de 1875, nas
páginas centrais do jornal A Lanterna Mágica, de Rafael Bordalo Pinheiro
(1846-1905).
“O
que torna a figura do Zé Povinho absolutamente genial e faz com que ela
sobreviva ao longo destes 150 anos é que ele criou a figura como quem nos põe
um espelho à frente da cara e diz: ‘estás a ver, eles estão a fazer aquela
negociata, ou uma lei contra a liberdade de imprensa’, e é sempre uma maneira
de provocar o Zé Povinho ou o levar a reagir, portanto é uma mensagem de
cidadania”, argumentou o responsável.
O
diretor do museu acrescentou: “É uma mensagem para estarmos sempre atentos, a
Democracia tem de se construir todos os dias, temos de estar sempre atentos,
podem vir outras forças políticas que derrubem a democracia, e essa é a grande
mensagem do Zé Povinho, a Democracia constrói-se com o nosso esforço, o nosso
trabalho, e uma das coisas com que o Bordalo se preocupa com o Zé Povinho é que
é preguiçoso e analfabeto, não se preocupa em aprender a ler, e é através do
trabalho e do ensino que o Zé Povinho é capaz de tornar a sua vida melhor”.
João
Alpuim Botelho referiu-se à figura do Zé Povinho como “uma criação genial” de
Bordalo Pinheiro por “ser praticamente intemporal e se aplicar a várias
situações”.
“Ele
critica os políticos, mas cada situação dos políticos, não diz ‘os políticos
são todos iguais’ ou ‘os políticos são todos corruptos’, como os populismos que
ouvimos hoje em dia. O Zé Povinho, pela mão do Bordalo, critica situações
concretas”, afirmou.
A
figura do Zé Povinho foi imediatamente apropriada, nomeadamente por outros
artistas que “ainda em vida do Bordalo o desenharam e continuou depois da sua
morte”.
Bordalo
Pinheiro era “muito generoso como pessoa, e teria muito interesse e gosto em
ver a sua figura a ser usada por outros”.
O
Zé Povinho surgiu na Monarquia Constitucional, passou a I República, o Estado
Novo – “tendo sido muito censurado” -, “explodiu com o 25 de Abril, e continua
a ser usado”.
“Com
o advento da República [1910], o Zé Povinho, que era essencialmente republicano
e contra a monarquia, aparece numa série de jornais como monárquico a lutar
contra a República”, relatou o diretor do museu.
Alpuim
Botelho realçou a forte ligação do Zé Povinho à causa republicana, associado
sempre à personagem a “Cartilha Maternal”, de João de Deus, recordando que a
instrução era um dos postulados do republicanismo.
No
âmbito do 150.º aniversário do Zé Povinho, o Museu Bordalo Pinheiro inaugura,
em 21 de julho, a sua nova exposição permanente, que incluirá uma sala dedicada
exclusivamente ao Zé Povinho.
Em
novembro, é inaugurada uma exposição temporária constituída por ‘Zés Povinhos’,
desde o século XIX até à atualidade, com curadoria do ‘designer’ Jorge Silva.
Está
previsto a colocação ‘online’ no sítio do Museu Bordalo, a 12 de
junho, de uma página dedicada aos 150 anos, expondo os resultados de uma
investigação, e com várias galerias de imagens com Zés Povinhos, desde o século
XIX, passando pela 1.ª República, pelo 25 de Abril e até à atualidade.
A
cidade de Caldas da Rainha, à qual Bordalo esteve ligado, celebra também o
150.º aniversário com uma exposição no Centro Cultural e de Congressos a partir
de 28 de junho. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo
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