Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Estados Unidos da América - Ação de Formação de Professores de Português

“Queremos introduzir algumas estratégias para tornar o ensino da gramática mais contextualizado e mais perto daquilo que são as funções da comunicação”

 - Professora Cláudia Martins, Mestrado em Linguística, ao Portuguese Times

Com organização da Coordenação do Ensino de Português nos Estados Unidos, e apoio do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, Porto Editora, LIDEL, Rhode Island College, Discovery Language Academy/DeMello International Center, escolas portuguesas comunitárias e escolas públicas e rede diplomática e consular nos EUA, decorreu na passada semana nesta região, em Cambridge, New Bedford e Providence, uma ação de formação de professores de Português Língua Não Materna nos EUA, tendo por temática a gramática na aula da PLE: estratégias de ensino.

Nesta formação foram abordados vários tópicos relacionados com o ensino da gramática nas aulas de PLE, partindo de duas questões relevantes:

- O ensino da gramática nas aulas de PLE – um “mal” necessário;

- A gramática como ferramenta da comunicação.

Em conjunto, professores dos vários níveis de ensino de Português e ainda dois representantes das editoras LIDEL e da Porto Editora e da dra. Cláudia Martins, que orientou estas sessões, e com o apoio do dr. João Caixinha, coordenador do ensino de Português nos EUA, refletiu-se sobre a forma como, dentro das abordagens comunicativas, a gramática pode ser trabalhada em contexto, através (e ao serviço) do uso da língua, e em estreita relação com os objetivos e interesses comunicativos, e pôr em prática algumas estratégias para um ensino significativo dos conteúdos gramaticais.

Portuguese Times marcou presença numa dessas sessões, na passada sexta-feira no DeMello International Center, em New Bedford, que contou com a presença de Jimmy DeMello, grande apoiante do ensino de Português e de outras iniciativas culturais que visam a expansão da língua e da cultura nestas paragens, da dra. Leslie Ribeiro Vicente, diretora da Discovery Language Academy, e da cônsul de Portugal em New Bedford, Shelley Pires, que abriu a sessão, regozijando-se com esta iniciativa e enaltecendo o trabalho da coordenação do ensino de Português e dos professores presentes.

Cláudia Martins, que concluiu o seu Mestrado em Linguística em 2015, professora de Português Língua não Materna desde 2006 em diferentes universidades e instituições e que tem colaborado em diferentes projetos relacionados com o ensino/aprendizagem de PLNM, nomeadamente no âmbito da formação de professores e da criação de materiais didáticos e de referência, tem orientado estas ações.

Em entrevista ao Portuguese Times, Cláudia Martins manifestou-se muito satisfeita pela grande adesão de professores a esta iniciativa.

“Está a correr tudo muito bem e confesso que esta ação de formação de professores de Português superou as minhas expetativas iniciais, tem sido muito participativa, com salas cheias, os professores têm tido um feed back muito interessante e estou muito satisfeita”, começou por dizer ao Portuguese Times a professora Cláudia Martins.

“Os professores têm reagido muito bem aos tópicos apresentados do ensino da gramática, porque na verdade às vezes na sala de aula ensinar os conteúdos gramaticais é um pouco desafiante e mais difícil e portanto eu tenho tentado introduzir algumas estratégias para tornar o ensino da gramática mais contextualizado, mais perto daquilo que são as funções da comunicação, no fundo mostrar que podemos trabalhar a gramática de uma forma menos tradicional e mais incorporada naquilo que é o objetivo, que é falar, comunicar fazermo-nos entender... Sei que os professores por vezes têm algumas dificuldades mais relacionadas com o currículo, programas, manuais... Acho que tem sido um tema bastante bem recebido porque os professores no final das sessões dizem-nos que têm boas ideias, que vão tentar implementar algumas diferenças na sua forma de abordar algumas questões e portanto acho que está tudo bem”, salienta a dra. Cláudia Martins, durante um interregno na sessão de formação de professores de Português no passado sábado no Rhode Island College.

Sobre o ensino de Português nos Estados Unidos e aumento da procura por parte de alunos lusodescendentes e até mesmo americanos, a professora Cláudia Martins, salienta:

“Tenho ouvido pelo dr. João Caixinha e por vários professores que o número de alunos a estudar Português tem vindo a aumentar e isso é muito bom e pelos vistos não são apenas os jovens lusodescendentes, mas também alguns jovens americanos que procuram o Português como língua estrangeira e isso para nós é um desafio maior, porque nos leva a investir um pouco mais tanto na formação de professores, quer na elaboração de materiais e destas ações de partilha”, conclui Cláudia Martins, que agradece ao dr. João Caixinha pela convite a dirigir estas ações de formação de professores de Português e pela forma bem organizada e coordenada como tudo tem decorrido.

Por sua vez, Nuno Marques, assessor pedagógico e ligado à editora LIDEL, em Lisboa, salienta que já há algum tempo que esta editora tem apoiado a coordenação de ensino de Português nos EUA através de João Caixinha com Duarte Pinheiro, coordenador na Califórnia.

“Temos efetuado uma estreita ligação com a coordenação do ensino de Português tanto aqui na Costa Leste com João Caixinha e com Duarte Pinheiro na Califórnia, desde 2013, em matéria de formações contínuas uma vez por ano aqui nos EUA, e para além disso é um trabalho que temos desenvolvido de acordo com as necessidades dos professores e muitas das vezes fazemos planos de trabalho em coordenação com o dr. João Caixinha, mais em matéria de conteúdos e tenho participado desde 2013 às formações e além disso tenho vindo também a outras sessões, na primavera e outono. A editora LIDEL já há muito tempo que apoia este trabalho contínuo em prol da língua portuguesa no mundo e nos EUA em particular”, sublinha Nuno Marques, que adianta sobre esta iniciativa da formação de professores de Português nos EUA.

“Penso que está a decorrer muito bem, com grande adesão dos professores nestas sessões com introdução de conteúdos específicos adaptados à realidade norte-americana e temos tentado dar uma resposta adequada a essas questões que nos são colocadas e este trabalho tem dado já os seus frutos, o primeiro pela forte presença dos professores e o segundo pela inegável qualidade das formações e depois cada um dos professores levará o trabalho de casa a pôr em prática esses conteúdos nas aulas”.

“Gostaria de acrescentar um aspecto importante e tem a ver com este trabalho que estamos a fazer em conjunto, a LIDEL há 30 anos que tem vindo a trabalhar em parceria com os agentes próprios no ensino do Português e devo salientar não apenas a qualidade destas formações mas também a qualidade dos materiais que têm sido desenvolvidos, tanto na quantidade como na qualidade, havendo uma variedade bastante grande de materiais adaptados à realidade dos EUA e portanto este é um trabalho que tem sido feito em parceria com os professores, a coordenação de ensino e as escolas e isto é muito importante para a qualidade de trabalho a apresentar para bem de todos os alunos que estão a aprender a nossa língua”, conclui Nuno Marques.

Sérgio Marques, da Porto Editora, manifestou também o seu contentamento pelo sucesso desta ação de formação de professores de Português nos Estados Unidos.

“Para nós é sempre um motivo de orgulho participar nestas iniciativas uma vez que nos permite estar junto dos professores e saber das dificuldades que eles enfrentam e o que pretendem para o futuro. Nós, como uma editora de referência ao nível do ensino, é muito importante ter conhecimento das dificuldades que os professores têm para podermos ajudá-los no desenvolvimento de novos projetos para a lecionação e por isso foi com muito orgulho que recebemos o convite”, refere Sérgio Marques, que encarou com entusiasmo estas ações de formação de professores aqui na Costa Leste (estão a decorrer neste momento na Califórnia).

“Penso que esta temática do ensino da gramática ajudou ao interesse dos professores e queria realçar a coordenação do ensino que tudo fez para esta ação fosse um sucesso junto dos professores e escolas ao divulgar muito bem esta iniciativa”, conclui Sérgio Marques afirmando ainda que o ensino de Português nos EUA está no caminho certo uma vez que há um maior número de alunos a aprender a nossa língua, reconhecendo o trabalho de qualidade e dedicado nesta área do coordenador de ensino de Português, João Caixinha e o papel da comunicação social portuguesa nesta região na sua tarefa de divulgar estas iniciativas que visam a expansão da língua de Camões.

João Caixinha, coordenador do ensino de Português nos EUA, que teve grande mérito no sucesso desta ação de formação de professores de Português, manifestou também o seu contentamento pela forma como tudo decorreu.

“A adesão a esta iniciativa foi claramente muito maior do que em anos anteriores e penso que isso se deve a várias circunstâncias e uma delas tem a ver com o trabalho das editoras que estão a oferecer ferramentas e recursos on-line e hoje em dia todos sabemos que o ensino não pode ser apenas dirigido pelo professor, há que ter outros recursos e hoje em dia os jovens dispõem desses recursos, nomeadamente os iphones, ipads, e as editoras em Portugal têm de facto acompanhado essa evolução e portanto uma coisa que constatamos aqui é que anteriormente os professores queixavam-se muito de falta de recursos e hoje em dia temos mais recursos e isso aliciou muito a participação dos professores, tanto em Boston, como em New Bedford e no Rhode Island College, provenientes não só das escolas comunitárias, mas também do ensino público que estão a ensinar nas escolas americanas e isso é para nós muito positivo e o outro aspecto positivo é que os próprios professores vão sugerindo ideias às editoras que é preciso adaptar também estes manuais, estes recursos à realidade dos EUA e aqui dou um exemplo: não adianta um aluno ler a Serra da Estrela num livro se ele nem sequer conhece Portugal, pois a referência para ele é limitada, mas se tiver uma montanha ou monte branco nos EUA em comparação com a Serra da Estrela em Portugal talvez ele possa relacionar-se. Temos que alargar o ensino a todos e na perspectiva das comunidades”, sublinha João Caixinha, salientando que o Português é uma língua com uma dinâmica muito forte, pluricêntrica e em expansão nos Estados Unidos e no mundo inteiro.

De referir ainda que estas ações de formação de professores de Português nos EUA, que já decorreram em Cambridge, New Bedford, Providence, Connecticut, Newark e New York, continuam na costa oeste, em Berkeley e Davis, Califórnia. Francisco Resendes – Estados Unidos da América in “Portuguese Times”

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