Artigo direcionado a informação dos efeitos legais do
projeto de lei nº 2687/2022 que classifica o diabetes mellitus tipo 1 como
deficiência para efeitos legais
No
ano de 2022 foi proposto na Câmara dos deputados o projeto de lei nº 2687/2022,
de autoria dos deputados Flávia Morais (PDT-GO) e Dr. Zacharias Calil
(União-GO).
É
importante antes de explicar sobre o Projeto de Lei nº 2687/2022, tratarmos
também as primeiras impressões e efeitos legais e práticos que esse projeto de
lei pode trazer à população com Diabetes Mellitus tipo 1 no Brasil, bem como
alguns pontos de extrema relevância sobre o diagnóstico, para no fim,
entendermos a relevância da matéria.
O que é o Diabetes Mellitus Tipo 1?
O diabetes
mellitus é uma síndrome metabólica de origem múltipla, decorrente da falta
de insulina e/ou da incapacidade desse hormônio exercer adequadamente os
efeitos no organismo. É caracterizada por altas taxas de açúcar no sangue
(hiperglicemia) de forma permanente.
O
Brasil é o 5º país em incidência de diabetes no mundo, com 16,8 milhões de
doentes adultos (20 a 79 anos), perdendo apenas para China, Índia, Estados
Unidos e Paquistão. A estimativa da incidência da doença em 2030 chega a 21,5
milhões. Esses dados estão no Atlas
do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF).
Importante
destacar que, mundialmente, o diabetes se tornou um sério problema de saúde
pública, cujas previsões vêm sendo superadas a cada nova triagem. Por exemplo,
em 2000, a estimativa global de adultos vivendo com diabetes era de 151
milhões. Em 2009, havia crescido 88%, para 285 milhões. Em 2020, calcula-se que
9,3% dos adultos, entre 20 e 79 anos (assombrosos 463 milhões de pessoas) vivem
com diabetes. Além disso, 1,1 milhão de crianças e adolescentes com menos de 20
anos apresentam diabetes tipo 1.
Há
uma década, em 2010, a projeção global do IDF (Federação Internacional de
Diabetes) para diabetes, em 2025, era de 438 milhões. Com mais cinco anos pela
frente, essa previsão já foi ajustada para 463 milhões.
A
crescente prevalência de diabetes em todo o mundo é impulsionada por uma
complexa interação de fatores socioeconômicos, demográficos, ambientais e
genéticos. O aumento contínuo se deve, em grande parte, ao aumento do diabetes
tipo 2 e dos fatores de risco relacionados, que incluem níveis crescentes de
obesidade, dietas não saudáveis e falta de atividade física. No entanto, os
níveis de diabetes tipo 1, com início na infância, também estão aumentando.
Segundo
o Atlas (Federação Internacional de Diabetes), a crescente urbanização e a
mudança de hábitos de vida (por exemplo, maior ingestão de calorias, aumento do
consumo de alimentos processados, estilos de vida sedentários) são fatores que
contribuem para o aumento da prevalência de diabetes tipo 2 em nível social.
Enquanto a prevalência global de diabetes nas áreas urbanas é de 10,8%, nas
áreas rurais é menor, de 7,2%. No entanto, essa lacuna está diminuindo, com a
prevalência rural aumentando.
O
Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome do metabolismo, de origem múltipla,
decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina exercer
adequadamente seus efeitos.
A
insulina é o hormônio produzido pelo pâncreas responsável pela manutenção do
metabolismo da glicose. Sua falta provoca déficit na metabolização da glicose
e, consequentemente, diabetes. Caracteriza-se por altas taxas de açúcar no
sangue (hiperglicemia) de forma permanente.
Quais
são as principais complicações que podem surgir com o diabetes mellitus não
tratado?
O
tratamento correto do diabetes significa manter uma vida saudável, evitando
diversas complicações que surgem em consequência do mau controle da glicemia. O
prolongamento das altas taxas de açúcar no sangue pode causar sérios danos à
saúde:
- Retinopatia diabética: lesões que aparecem na retina do olho, podendo causar pequenos sangramentos que podem provocar a perda da acuidade visual;
- Nefropatia diabética: alterações nos vasos sanguíneos dos rins fazem com que haja a perda de proteína na urina; o órgão pode reduzir sua função lentamente, porém de forma progressiva, até sua paralisação total;
- Neuropatia diabética: os nervos ficam incapazes de emitir e receber as mensagens do cérebro, provocando sintomas como: formigamento, dormência ou queimação das pernas, pés e mãos; dores locais e desequilíbrio; enfraquecimento muscular; traumatismo dos pelos; pressão baixa; distúrbios digestivos; excesso de transpiração e impotência;
- Pé diabético: ocorre quando uma área machucada ou infeccionada nos pés desenvolve uma úlcera (ferida). Seu aparecimento pode ocorrer quando a circulação sanguínea é deficiente e os níveis de glicemia são mal controlados. Qualquer ferimento nos pés deve ser tratado rapidamente para evitar complicações que podem levar à amputação do membro afetado;
- Infarto do miocárdio e acidente vascular: ocorrem quando os grandes vasos sanguíneos são afetados, levando à obstrução (arteriosclerose) de órgãos vitais como o coração e o cérebro. O bom controle da glicose, somado à atividade física e medicamentos que possam combater a pressão alta e o aumento do colesterol e a suspensão do tabagismo, são medidas imprescindíveis de segurança. A incidência deste problema é de 2 a 4 vezes maior nas pessoas com diabetes;
- Infecções: o excesso de glicose pode causar danos ao sistema imunológico, aumentando o risco de contrair algum tipo de infecção. Isso ocorre porque os glóbulos brancos (responsáveis pelo combate aos vírus, bactérias, etc.) ficam menos eficazes com a hiperglicemia.
O
alto índice de açúcar no sangue é propício para que fungos e bactérias se
proliferem em áreas como boca e gengiva, pulmões, pele, pés, genitais e local
de incisão cirúrgica.
O
Brasil não conta com uma política pública estruturada para o paciente com
Diabetes Mellitus tipo 1, tanto que menos de 25% dos pacientes apresentam
controle adequado da doença, dado que se reflete no elevado grau de
complicações associadas, tais como, perda da visão, doenças renais crônicas,
amputações, cardiopatias, além de transtornos alimentares e quadros
depressivos. Infelizmente, estas complicações podem ocorrer durante a
adolescência (13 a 19 anos de idade) e no Brasil temos 31,4% dos adolescentes
com alguma complicação crônica do diabetes, sendo complicação renal em 14%,
neuropatia autonômica em 12,5%, retinopatia diabética em 8,5% e neuropatia
periférica em 4,9%.
Quais os tratamentos do Diabetes Mellitus Tipo 1?
O
tratamento do diabetes mellitus tipo 1 é baseado em quatro pilares principais:
insulinoterapia, monitoramento da glicemia, adoção de um estilo de vida
saudável e educação em diabetes.
Como
já abordado, o diabetes tipo 1 é uma condição crônica em que o pâncreas não
produz insulina suficiente, ou nenhuma insulina, exigindo a administração de
insulina exógena para controlar os níveis de glicose no sangue.
A
insulinoterapia é fundamental para o tratamento do diabetes tipo 1, sendo que a
insulina pode ser administrada através de injeções subcutâneas (tratamento MDI
- Múltiplas doses de insulina) ou por meio de bombas de insulina (SICI -
Sistema de Infusão Continuada de Insulina).
O
objetivo é manter os níveis de glicose no sangue dentro da faixa-alvo, evitando
tanto hipoglicemia (níveis baixos de açúcar no sangue) quanto hiperglicemia
(níveis altos de açúcar no sangue).
O
monitoramento da glicemia pode ser realizado através do teste de glicemia
capilar, que mede os níveis de glicose no sangue, bem como ser realizado hoje
com sensores de glicemia, sendo realizado o teste através da glicemia
intersticial (refere-se a concentração de glicose no espaço intersticial, que é
o fluido encontrado entre as células nos tecidos do corpo).
É
fundamental para o bom controle dos pacientes com diabetes tipo 1 realizar a
monitoração regularmente sua glicemia para ajustar a dose de insulina, avaliar
a eficácia do tratamento e identificar possíveis episódios de hipoglicemia ou
hiperglicemia, combatendo a variabilidade glicêmica.
Adotar
um estilo de vida saudável é importante no tratamento do diabetes tipo 1. Isso
inclui seguir uma dieta equilibrada, rica em alimentos saudáveis e com baixo
teor de açúcar, praticar exercícios físicos regularmente e manter um peso
adequado. Essas medidas ajudam a controlar os níveis de glicose no sangue e a
melhorar a sensibilidade à insulina.
É
fundamental que pessoas com diabetes tipo 1 recebam orientações médicas e de
uma equipe multidisciplinar, que pode incluir endocrinologistas, nutricionistas
e educadores em diabetes. Cada caso é único, e o tratamento deve ser
individualizado de acordo com as necessidades e características de cada
paciente.
Além
disso, a Educação em Diabetes (sobre os tratamentos) é de suma importância na
vida da pessoa com diabetes, até mesmo para poder entender a dinâmica do
tratamento e todos os fatores externos e internos que podem afetar a sua
glicemia durante toda a sua vida.
Conceito da Deficiência para fins legais.
De
acordo com a lei (Lei nº 13.146/2015), a deficiência é uma condição que afeta
algumas pessoas e pode ser de diferentes tipos, como física, mental,
intelectual ou sensorial. Essa condição é caracterizada por um impedimento que
dura por um longo período de tempo.
Esse
impedimento pode se tornar mais desafiador quando se encontra com obstáculos ou
barreiras na sociedade. Como resultado, pode dificultar a participação plena e
efetiva dessas pessoas em atividades e oportunidades, o que não é justo.
O
objetivo da lei é garantir que todas as pessoas, independentemente de suas
deficiências, tenham igualdade de condições na sociedade. Isso significa que
elas devem ter as mesmas oportunidades de participar ativamente, compartilhar
suas habilidades e contribuir para a comunidade.
Trazendo
essa definição para o dia a dia da pessoa com deficiência, significa um
atendimento especial, seja na tramitação prioritária de processos
(administrativos e judiciais), prioridade de atendimento em instituições
públicas e privadas, benefícios tributários, como também regras da previdência
social.
Vale
lembrar que, na regra atual da legislação, é concedido benefício previdenciário
(aposentadoria, auxílios) à pessoa com diabetes, nas situações onde há
constatação de danos severos e irreversíveis à saúde do trabalhador. Em outras
palavras, quando há incapacidade da pessoa de exercer suas atividades
laborativas (perde sua capacidade de trabalhar).
Este
processo é regulado pela Lei nº 8213/1991, não determina a natureza etiológica
da doença.
Dessa
forma, atualmente, o simples fato de possuir o diagnóstico de diabetes mellitus
não traz condições especiais para o indivíduo, a não ser nos casos em que tiver
a constatação de danos severos e irreversíveis à saúde que incapacitam para o
trabalho.
Primeiras impressões do Projeto de Lei nº 2687/2022
De
acordo com o que já foi apresentado até aqui, é de fácil percepção entender que
as pessoas com diabetes enfrentam diversas dificuldades no seu dia a dia.
O
projeto de lei tem como justificativa a ausência de uma política pública
estruturada para o paciente com Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1), ausência de
amparo legal que garanta ao estudante com DM1 atendimento adequado enquanto
permanece dentro do estabelecimento escolar.
Em
consequência disso, milhares de mães deixam seus empregos para poderem realizar
e fiscalizar o tratamento de seus filhos, diminuindo sua capacidade tributária
passiva, além de refletir também na diminuição da capacidade econômica familiar.
É
também justificativa a "dificuldade de acesso ao trabalho de jovens e
adultos. Concursos públicos que envolvam atividades físicas como forças
armadas, não podem ser prestados por insulinodependentes. Na iniciativa privada
atividades em máquinas e equipamentos veiculares não podem ser manuseados por
quem tem DM1, o que traz grande desigualdade principalmente entre os mais
carentes".
Com
a definição de diabetes mellitus como deficiência para efeitos legais, a pessoa
com o diagnóstico vai possuir uma condição especial que vai além das
prioridades perceptíveis em seu dia como já apresentado acima.
Existe
também a possibilidade de um regime especial para a concessão de aposentadoria,
auxílios previdenciários, tributação especial. Lucas Kelly – Brasil in “Jusbrasil”
Mais
informações aqui.
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