A história de uma língua é inseparável da de seus falantes, daqueles que a herdaram, a modificaram e a recriaram ao longo do tempo. Neste quarto arco narrativo, vamos continuar nossa viagem pela formação histórica da nossa língua, caminhando pela presença de imigrantes na língua portuguesa apresentada na experiência Português do Brasil, da exposição principal do Museu da Língua Portuguesa.
A
partir da segunda metade do século XIX, ocorreram fluxos migratórios de
trabalhadores europeus e asiáticos. Entre 1850 e 1950, movidos por dificuldades
econômicas, conflitos étnicos e guerras, sem condições de permanecer em seus
países ou desejosos de melhorar de vida, milhões de italianos, alemães,
japoneses, sírios, libaneses, chineses e poloneses, entre outros, instalaram-se
no Brasil. Os imigrantes e seus descendentes criaram raízes, e muitos de seus
traços linguísticos foram incorporados ao modo de falar o português nas terras
brasileiras.
Grande
parte das imigrações ocorreu desde a Europa, continente que, durante o século
XIX, viveu grande turbulência econômica e política. Populações da Itália,
Espanha, Portugal e Alemanha sofriam com desemprego, destituição de suas
terras, pobreza e fome, e a emigração era uma das alternativas de
sobrevivência. Em 1880, o Brasil se tornou o maior produtor e exportador de
café do mundo, e as lavouras necessitavam de grandes contingentes de
trabalhadores. Com a iminência da abolição, para substituir a mão de obra
escravizada, que era a base da economia, os grandes proprietários rurais
procuravam uma alternativa barata.
Havia
também um pensamento corrente nas classes dominantes no país, fundado no
racismo, de que era preciso promover o “branqueamento” da população nacional,
majoritariamente negra. Acreditaram também que os chamados “grandes vazios” de
terras no interior do território precisavam ser colonizados por pessoas
experientes na lavoura. Assim, com o incentivo e o financiamento do Estado, o
Brasil começou a receber os imigrantes da diáspora europeia.
Em
janeiro de 1908, foi publicado “O Immigrante”, material produzido pelo governo
do Estado de São Paulo para orientar as pessoas recém-chegadas.
Jornais
escritos em diversas línguas circulavam nas comunidades de imigrantes no começo
do século XX. Eles traziam informações sobre documentos e leis e notícias dos
países de origem, e as pessoas faziam publicidade de seus negócios. Essas
publicações tinham também um importante papel político. Era o caso, por
exemplo, dos jornais dos anarquistas e socialistas, movimentos ligados aos
operários italianos que haviam se engajado nas indústrias e manufaturas de São
Paulo.
Nos
portos, navios e hospedarias, tudo é desconhecido, diferente, especialmente a
língua. Para atravessar continentes e oceanos, o imigrante leva uma ou duas
mudas de roupa, um cobertor, objetos de uso pessoal, uma carta de recomendação,
algum dinheiro, uma relíquia, uma foto de família, o instrumento de seu ofício.
Com
a imigração, a língua portuguesa do Brasil foi assimilando novos vocábulos,
expressões e modos de falar de outros territórios. Ao longo do século XX,
muitos deles se generalizaram pelo país. A palavra italiana “ciao”, por exemplo,
tornou-se uma das mais comuns da língua portuguesa: tchau. Em italiano, “ciao”
é uma saudação informal utilizada tanto na despedida como na chegada. No
Brasil, ela só é empregada em situações de despedida.
Para
terminar esse percurso, ouça a atriz Denise Fraga lendo os textos “Sodades de
Zan Paolo” e “O studenti du Bó Ritiro”, escritos por Alexandre Ribeiro
Marcondes Machado em 1915 e presentes na publicação La Divina Increnca. In “Mundo
Lusíada” - Brasil
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