Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Timor-Leste - Jornalista Isaura Lemos vence Prémio Adelino Gomes com reportagem “Rostos da Pobreza”

 


Díli - A reportagem “Rostos da Pobreza em Timor-Leste” de Isaura Lemos de Deus, jornalista do jornal diário Timor Post, venceu o Prémio Adelino Gomes de 2020, um concurso levado a cabo pelo Conselho de Imprensa (CI) de Timor-Leste.

Isaura Lemos foi a primeira vencedora do prémio da categoria de melhor trabalho jornalístico em Língua Portuguesa. A premiada recebeu um troféu, um certificado e 1500 dólares americanos, atribuídos no 45.º aniversário da tragédia dos cinco jornalistas australianos assassinados por tropas indonésias em Bobonaro, conhecida como Balibo Five.

“Estou muito feliz. Não esperava ganhar este prémio”, contou a jornalista, visivelmente satisfeita, à Tatoli.

A reportagem apresenta três “rostos da pobreza” timorense – um catador na lixeira de Tíbar, onde diariamente centenas de pessoas se juntam à procura de algo que possam vender, um idoso que percorre a pé dezenas de quilómetros até Díli carregado de lenha, e uma criança de Oé-Cusse que se vê obrigada a vir para a capital vender ovos para sustentar a família.

Para chegar a esta reportagem que dá voz aos mais carenciados, “àqueles que vemos todos os dias e ignoramos, aos esquecidos”, a jornalista de 34 anos teve de sair de Díli por meios próprios, entrevistar várias fontes, nem sempre disponíveis, e consultar os dados sobre a pobreza ou insegurança alimentar em Timor-Leste.

“Esta reportagem levou duas semanas a construir. Deparei-me com várias dificuldades, nomeadamente as fontes. Saí da cidade para conseguir entrevistar algumas”, contou.

Outra dificuldade foi passar tudo o que viu, ouviu e sentiu para uma língua que não dominava tão bem como o tétum.

“Não é fácil escrever em português e, por isso, tive de ler, ler, ler, não só para alargar horizontes mas também para adquirir mais vocabulário que me permitisse passar tudo para o papel”, afirmou, lembrando a importância da abertura para a aprendizagem e do querer fazer cada vez melhor para se atingir os sonhos.

A jornalista lembra ainda o apoio do Timor Post e do projeto Consultório da Língua para Jornalistas (CLJ), que resulta da cooperação entre o Camões I.P e a Secretaria de Estado para a Comunicação Social. “Não esqueço a ajuda e orientações dos dois formadores do projeto”, acrescentou.

Isaura Lemos encoraja ainda os jornalistas timorenses a tentarem escrever sobre temas que interessem aos leitores e que “deem voz a quem não a tem”, mas também a trabalharem e lerem muito, porque “uma das chaves do sucesso para um jornalista é a leitura”, que lhes permite olhar para um tema através de várias perspetivas.

Recorde-se que o jornalista português Adelino Gomes foi enviado para Timor-Leste com uma equipa da RTP, em 1975, no período após a guerra civil e início da invasão indonésia do país.

O Presidente do CI, Virgílio Guterres, recordou, na cerimónia que assinalou o homicídio dos cinco jornalistas australianos, que são entregues, desde 2017, prémios em várias categorias – os prémios Greg Shackleton, Adelino Gomes, Borja da Costa, Bernardino Guterres e um novo, o Prémio Maria Goretti, que resulta da cooperação entre o Centro Nacional Chega e o CI.

Virgílio Guterres explicou ainda que a avaliação dos trabalhos é efetuada por um júri constituído por sete elementos de associações de jornalistas e académicos, que analisam diversos aspetos.

“O Conselho de Imprensa sente-se um pouco insatisfeito, porque não encontrou nenhum vencedor para o Prémio Borja da Costa, Bernardino e Greg Shackleton. Esperávamos também ter vencedores nestas categorias do Balibo Five, mas não podemos intervir na decisão do júri”, referiu.

Segundo o presidente, a atribuição dos prémios permite valorizar as obras dos jornalistas, incentivando-os e motivando-os, mas também valorizar aqueles que perderam a vida em Timor-Leste.

“Quanto ao Prémio Adelino Gomes, visa promover e desenvolver a qualidade jornalística e a Língua Portuguesa”, afirmou.

O Conselho de Imprensa premiou também o jornal Independente como o melhor órgão de comunicação social e Francisco José de Almeida do jornal eletrónico Neon Metin com o Prémio Maria Goretti, na categoria de jornalismo da paz. Maria Auxiliadora - Antónia Gusmão – Timor-Leste in “Tatoli”

 

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