Díli
- A reportagem “Rostos da Pobreza em Timor-Leste” de Isaura Lemos de Deus,
jornalista do jornal diário Timor Post, venceu o Prémio Adelino Gomes de 2020,
um concurso levado a cabo pelo Conselho de Imprensa (CI) de Timor-Leste.
Isaura
Lemos foi a primeira vencedora do prémio da categoria de melhor trabalho jornalístico
em Língua Portuguesa. A premiada recebeu um troféu, um certificado e 1500
dólares americanos, atribuídos no 45.º aniversário da tragédia dos cinco jornalistas
australianos assassinados por tropas indonésias em Bobonaro, conhecida como
Balibo Five.
“Estou
muito feliz. Não esperava ganhar este prémio”, contou a jornalista,
visivelmente satisfeita, à Tatoli.
A
reportagem apresenta três “rostos da pobreza” timorense – um catador na lixeira
de Tíbar, onde diariamente centenas de pessoas se juntam à procura de algo que
possam vender, um idoso que percorre a pé dezenas de quilómetros até Díli
carregado de lenha, e uma criança de Oé-Cusse que se vê obrigada a vir para a
capital vender ovos para sustentar a família.
Para
chegar a esta reportagem que dá voz aos mais carenciados, “àqueles que vemos todos
os dias e ignoramos, aos esquecidos”, a jornalista de 34 anos teve de sair de
Díli por meios próprios, entrevistar várias fontes, nem sempre disponíveis, e
consultar os dados sobre a pobreza ou insegurança alimentar em Timor-Leste.
“Esta
reportagem levou duas semanas a construir. Deparei-me com várias dificuldades,
nomeadamente as fontes. Saí da cidade para conseguir entrevistar algumas”, contou.
Outra
dificuldade foi passar tudo o que viu, ouviu e sentiu para uma língua que não dominava
tão bem como o tétum.
“Não
é fácil escrever em português e, por isso, tive de ler, ler, ler, não só para
alargar horizontes mas também para adquirir mais vocabulário que me permitisse
passar tudo para o papel”, afirmou, lembrando a importância da abertura para a
aprendizagem e do querer fazer cada vez melhor para se atingir os sonhos.
A
jornalista lembra ainda o apoio do Timor Post e do projeto Consultório da
Língua para Jornalistas (CLJ), que resulta da cooperação entre o Camões I.P e a
Secretaria de Estado para a Comunicação Social. “Não esqueço a ajuda e
orientações dos dois formadores do projeto”, acrescentou.
Isaura
Lemos encoraja ainda os jornalistas timorenses a tentarem escrever sobre temas
que interessem aos leitores e que “deem voz a quem não a tem”, mas também a
trabalharem e lerem muito, porque “uma das chaves do sucesso para um jornalista
é a leitura”, que lhes permite olhar para um tema através de várias
perspetivas.
Recorde-se
que o jornalista português Adelino Gomes foi enviado para Timor-Leste com uma
equipa da RTP, em 1975, no período após a guerra civil e início da invasão indonésia
do país.
O
Presidente do CI, Virgílio Guterres, recordou, na cerimónia que assinalou o homicídio
dos cinco jornalistas australianos, que são entregues, desde 2017, prémios em
várias categorias – os prémios Greg Shackleton, Adelino Gomes, Borja da Costa, Bernardino
Guterres e um novo, o Prémio Maria Goretti, que resulta da cooperação entre o
Centro Nacional Chega e o CI.
Virgílio
Guterres explicou ainda que a avaliação dos trabalhos é efetuada por um júri constituído
por sete elementos de associações de jornalistas e académicos, que analisam
diversos aspetos.
“O
Conselho de Imprensa sente-se um pouco insatisfeito, porque não encontrou nenhum
vencedor para o Prémio Borja da Costa, Bernardino e Greg Shackleton. Esperávamos
também ter vencedores nestas categorias do Balibo Five, mas não podemos
intervir na decisão do júri”, referiu.
Segundo
o presidente, a atribuição dos prémios permite valorizar as obras dos jornalistas,
incentivando-os e motivando-os, mas também valorizar aqueles que perderam a
vida em Timor-Leste.
“Quanto
ao Prémio Adelino Gomes, visa promover e desenvolver a qualidade jornalística e
a Língua Portuguesa”, afirmou.
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