O livro “Provérbios portugueses – Portugiesische Sprichwörter”, editado pela Oxalá, constitui para o seu tradutor e intérprete, Joaquim Peito, “um verdadeiro bico de obra”, ou em alemão “ein schönes Stück Arbeit sein” (um belo pedaço de trabalho, em tradução livre)
O
livro, de acordo com a página oficial da editora Oxalá, reúne “um vasto
conjunto de expressões idiomáticas correntes utilizadas pelos portugueses”,
traduzidas para alemão, e estão organizadas “por ordem alfabética, de modo a
permitir uma localização mais rápida”.
Joaquim
Peito, leitor de Português da Universidade de Göttingen, sublinhou à agência
Lusa a importância dos provérbios e expressões idiomáticas, “constantemente
presentes e utilizados no nosso quotidiano por gentes de todas as idades, que
recorrem a eles como uma chave de acesso ao património linguístico e cultural
português”.
“Mas
não são nada fáceis de dominar”, ressalvou, “e muito menos de traduzir, quando
não somos falantes nativos da língua”.
“Expressões
que fazem sentido numa determinada língua, tornam-se muitas vezes
incompreensíveis numa outra, se não conhecermos as referências linguísticas,
culturais e sociais que lhes deram origem”, revelou o tradutor e interprete
desta obra.
“Ao
traduzir literalmente expressões idiomáticas, acabamos com grupos de palavras
que têm sentido individualmente, mas que juntas não fazem sentido nenhum.
Palavra por palavra, a frase soa absurda na língua de destino”, continuou.
Para
Joaquim Peito, a “fórmula para o sucesso da tradução, é também o grande
desafio”, isto é, “conhecer bem os provérbios e expressões idiomáticas e
incorporá-los à nossa fala”.
“Ao
tentarmos aprender bem o português como língua estrangeira, devemos conhecer e
incorporar diversas expressões idiomáticas. Muitas delas guiam-nos por
armadilhas linguísticas, insinuando ser algo totalmente diferente do que de
facto significam”, explicou, dando alguns exemplos.
“A
expressão idiomática em português ‘pāo pāo, queijo queijo’, não quer dizer em
alemão ‘Brot Brot, Käse Käse’, como indica a tradução literal. Ou como também a
expressão ‘Sim ou sopas’, em alemão ‘Ja oder Suppen’. Para a primeira teríamos
‘Klar Text reden’ [texto claro] e para a segunda ‘Ja oder Nein’ [sim ou não]”,
apontou.
Com
este livro, o docente da Universidade de Göttingen, quis também mostrar aos
seus alunos do departamento de estudos portugueses que as expressões
idiomáticas são “interessantes para quem está a aprender um novo idioma, por
serem dependentes das palavras e da estrutura gramática utilizadas para
expressá-las, e por terem um significado figurativo”.
“O
livro nasceu, num primeiro momento, da necessidade de traduzir algumas destas
expressões idiomáticas – que expressam traços culturais – no espaço da sala de
aula [português como língua estrangeira]. A quase inexistência de materiais
bilingues nesta área dificultou a sua tradução. Por outro lado, os dicionários
monolingues, que analisei, privilegiam sempre a língua em detrimento do
discurso e funcionam, na maioria dos casos, como dicionários alfabéticos”,
clarificou.
Joaquim
Peito defende que uma das particularidades mais interessantes da língua portuguesa
é a “abundância de provérbios”, frequentemente com “várias versões do mesmo
provérbio”.
“Mesmo
como falantes nativos, existem várias expressões idiomáticas em português que
não conhecemos. Por exemplo, um habitante do Norte do país não irá necessariamente
entender um habitante do Sul, e já não falando da Madeira e dos Açores e dos
países lusófonos”, apontou.
O
professor universitário indica ainda algumas traduções mais complicadas ou
curiosas.
“Um
português não tem um problema, na realidade ele está ‘feito ao bife’. Um
português não repete o que diz, ele ‘vira o disco e toca o mesmo’. Nunca se
chateia, apenas ‘fica com os azeites’. Não diz que tem muita experiência, tem
‘muitos anos a virar frangos’”, exemplificou.
O
livro “Provérbios portugueses – Portugiesische Sprichwörter”, segundo o seu
tradutor e intérprete, pretende oferecer ao leitor “a descoberta e a aplicação
das expressões idiomáticas num contexto do quotidiano português.” In “Bom dia
Europa” - Luxemburgo
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