“No écran do exílio: A Nova Iorque de Rodrigues Miguéis” é o título do evento realizado ontem na Fundação Rui Cunha que serviu como homenagem a José Rodrigues Miguéis, um dos maiores ficcionistas portugueses do séc. XX, por ocasião dos 40 anos da sua morte. A apresentação da palestra esteve a cargo da professora Dora Gago
Realizou-se
ontem na galeria da Fundação Rui Cunha uma palestra acerca da obra de José
Rodrigues Miguéis, um dos maiores ficcionistas portugueses do séc. XX. O Ponto Final falou com a professora Dora Gago, que esteve responsável pela
apresentação da obra do escritor. “José Rodrigues Miguéis foi um escritor
bastante importante da nossa literatura, embora agora esteja um pouco
esquecido”, começou por contar a professora, recordando que o escritor viveu a
maior parte da sua vida nos Estados Unidos.
José
Rodrigues Miguéis nasceu em 1901, em Lisboa, e faleceu em 1980, em Nova Iorque,
tendo sido expatriado e exilado durante vários anos. “Esta palestra foi
precisamente para assinalar o aniversário da sua morte”, prosseguiu a
apresentadora da palestra. A professora descreve-nos o escritor emigrado como
de pensamento poliédrico, com um estilo muito “independente” que mistura
algumas características da geração da presença com outras do neorrealismo,
“embora nunca se tenha enquadrado nem numa corrente, nem na outra, porque
sempre foi muito marcado pela sua independência”, reitera Dora Gago. Rodrigues
Miguéis deixou uma vasta obra, tanto a nível de romance, da novela, com também
uma peça de teatro, mas que “foi sobretudo no conto e na crónica que ele mais
se distinguiu”.
Em
relação às características da sua escrita, a professora defende que “tem as
tais influências tanto do neo-realismo como do presencismo”, movimento
artístico que marca a segunda fase do modernismo português. “Rodrigues Miguéis
apresenta uma escrita que revela, acima de tudo, um profundo humanismo e uma
grande preocupação social, embora sem esquecer também a parte do indivíduo. A
sua escrita enquadra-se no realismo ético, portanto há uma profunda preocupação
humanista e ética na escrita do Rodrigues Miguéis”.
Tal
como o título do evento sugere, em relação ao exílio, é provável que o escritor
tenha encontrado na emigração uma temática fecunda que lhe permitiu desenvolver
a análise de problemas sociais, numa perspectiva crítica despertada já na sua
juventude e desenvolvida durante a vigência dos movimentos artísticos
anteriormente referidos, considera Dora Gago.
Quando
inquirida acerca da relevância da obra do escritor, Dora Gago diz:
“Infelizmente, o que acontece é que muita da obra do José Rodrigues Miguéis
está esgotada. Há planos para reedição, mas creio que há alguns problemas a
nível das editoras e dos direitos de autor, portanto é algo a ver com os
herdeiros, um problema jurídico inclusive, que está a dificultar a reedição da
obra do escritor. Creio que continua a ser um autor muito relevante e o seu
estudo continua a ser muito importante, a todos os níveis”.
A
professora frisa que devido ao humanismo que transparece na escrita do autor,
aliado a valores humanistas, “que são cada vez mais esquecidos na nossa
sociedade cada vez mais globalizada e que cada vez mais se preocupa com
questões materiais e com questões de aparências, que é muito o que a escrita de
José Rodrigues Miguéis contraria”. E prossegue: “Por isso é que eu considero
que continua a ser muito importante nos nossos dias e cada vez mais conhecida a
obra dele e estudada”.
Na
palestra de ontem, além da breve apresentação da vida e da obra de Rodrigues
Miguéis, Dora Gago centrou-se na intermedialidade como ponto de análise, ou seja,
analisou as técnicas cinematográficas utilizadas pelo escritor num conto
escrito em 1938 chamado “Beleza Orgulhosa”, no qual aplica, tal como noutros,
várias técnicas cinematográficas “como se o conto fosse escrito quase como se
fosse um filme, portanto, o leitor pode ir vendo ali um esquema fílmico à
medida que lê o conto”. Joana Chantre – Macau in “Ponto
Final”
Joanachantre.pontofinal@gmail.com
Sem comentários:
Enviar um comentário