Casa
cheia no TechDays em Aveiro para ouvir o que cidades como Dublin, Copenhaga e
Santander estão a fazer para se tornarem mais inteligentes — e sobretudo para
perceber que vantagens os cidadãos e as empresas podem ter quando isso
acontece. Aveiro, anfitriã do evento, teve também ontem uma boa notícia: vai
ter 6 milhões de euros de investimento via um programa europeu
É contagiante a forma como
Oliver Hall entra em palco e apresenta a "sua" Copenhaga. Tudo o que
ouvimos sobre a felicidade e "coolness" dinamarquesa está espelhada
na forma descontraída como apresenta o plano que a cidade dinamarquesa delineou
para em 2025 se tornar a primeira capital mundial neutra em emissões de
carbono. São menos de sete anos para conseguir compensar os quase dois milhões
de toneladas emitidas atualmente — um número elevado mas ainda assim já
resultado de uma redução de 38% nas emissões entre 2005 e 2015.
Copenhaga tem uma longa lista
de reconhecimentos internacionais no que respeita a qualidade de vida — e o
ambiente é, há largos anos, uma das grandes apostas da cidade. Provavelmente,
há bem mais anos do que a maior parte das pessoas perceciona. "Dinamarca,
Japão e Israel foram os primeiros países a criar legislação de ambiental em
matéria de energia". Aconteceu em 1973, após o primeiro choque do
petróleo. "Fomos atingidos de forma tão dura, dependíamos 97% do petróleo
do Médio Oriente, que todos estávamos conscientes que era necessário uma nova
direção" relata o mesmo Oliver Hall, atual responsável pelos investimentos
em tecnologia de Copenhagen Capacity, a agência dinamarquesa que é uma das
entidades promotoras do plano para alcançar emissões neutras de carbono.
Mais curioso, porém, são ainda
alguns números que traz na sua apresentação. Os mesmos números que usa para
garantir "não somos hippies". O que está a querer dizer à audiência —
e que repetirá depois em entrevista ao SAPO24 — é que "verde é bom para os
negócios". E, como irá ilustrar com números, isso significa que é possível
registar aumentos na riqueza gerada com reduções das emissões de carbono e do
consumo de água. Mais do que metas futuras, traz resultados já alcançados:
entre 2010 e 2015, Copenhaga reduziu em 8% as emissões de carbono nos
transportes, aumentou em 16% a sua população — atualmente, todos os meses,
cerca de mil pessoas mudam-se para a capital dinamarquesa — e a economia local
cresceu 18%.
Segundo Oliver, tudo isto tem
sido possível com um grande sentido de colaboração com as entidades públicas a
puxarem pela necessidade de opções ambientalmente sustentáveis e os parceiros
sociais — empresas, universidades, cidadãos em geral — a participarem no
desenvolvimento de soluções. Que são transversais à vida na cidade desde o
estacionamento à qualidade do ar, gestão do lixo, mobilidade, iluminação
pública, só para referir alguns dos mais óbvios.
Um dos exemplos mais
emblemáticos é o projeto em curso em Nordhavnen, o maior em áreas metropolitanas
na Escandinávia. Nordhavnen fica a quatro quilómetros do centro de Copenhaga e
tem em teste uma série de soluções de trânsito que têm a ver com a mobilidade
das pessoas na cidade mas também com o consumo de energia. O Energy Lab está a
testar nesta nova área da cidade soluções de integração de energia renováveis
na rede, tentando, por exemplo, perceber como se pode obter soluções de
estabilidade na energia disponível quando a fonte é o vento — por definição
instável e muitas vezes imprevisível. Isto ao mesmo tempo que se testam
soluções de mobilidade, com o conceito dos "5 minutos" de distância —
o tempo máximo que cada cidadão naquela área pode estar de distância de um
acesso de Metro. E para promover a preferência pelos transportes públicos, o acesso
a peões é fácil mas o de carros é bem mais difícil.
Todas estas soluções são
medidas e suportadas em análise de dados para que se possam tirar conclusões
sobre o que funciona e o que não funciona e construir novas possibilidades a
partir daí.
Dublin
é "perfeita para testar"
"Smart Docklands é o que
chamamos o testbed para as soluções
de smart city em Dublin", começa por nos dizer Miguel Guerin, o gestor do
programa de teste a soluções de smart cities na capital irlandesa.Paremos aqui,
tradução precisa-se. O que é "testbed":
basicamente trata-se de uma plataforma de testes em várias áreas da vida numa
cidade — gestão de lixo, transportes públicos, poluição, para dar alguns
exemplos — e que se monitoriza em tempo real. O projeto Smart Docklands junta
nesta iniciativa três entidades distintas, o município de Dublin, a
universidade e a indústria/empresas. E a empreitada a que se propuseram é
considerável: identificaram 300 desafios ou problemas e foram à procura de
soluções.
Se a dimensão de Dublin —
"perfeita para testar" — foi um dos primeiros aspetos destacados por
Michael Guerin, o facto de na cidade estarem sediadas algumas das principais e
maiores companhias tecnológicas do mundo (só o Google tem 7000 pessoas a
trabalhar nas Docklands, em Dublin) acaba por ser — ainda que um extremo em
matéria de tamanho — um "match" perfeito para os objetivos do
programa que gere. "Permite escalar com muita facilidade", aponta - e
escalar é o destino das soluções que se revelam bem sucedidas em modo teste.
Além disso, há outra vantagem — o tempo médio de permanência de vários
colaboradores destas empresas é de dois anos. Depois tendem a mudar e muitas
vezes a criar o seu próprio negócio, com predominância pela área tecnológica. O
que se torna um terceiro benefício para Dublin e para a sua plataforma de
testes. E, não menos importante, o facto de Dublin não ser tão grande quanto
Londres ou Berlin significa também que "nunca se está muito longe de
alguém que pode decidir" e rapidez na decisão é outro incentivo nestes
processos.
Em média, a plataforma Smart
Docklands tem em teste cerca de 20 soluções mas outros projetos paralelos
decorrem em simultâneo. Um deles destina-se a inovação no âmbito de empresas de
pequena dimensão e envolver um total de 42 entidades, tendo sido financiado em
1,5 milhões de euros.
Uma das premissas nestes
projetos — como aliás acontece quando se analisam startups — é que a pelo menos
metade não irá dar resultado. "Em cada dez, cinco poderão seguir em frente
e talvez dois ter sucesso e um muito sucesso", sublinha Michael.
Todas
as cidades serão cidades inteligentes?
Há uns anos seria pouco mais
que futurismo — mas o teste de soluções tecnológicas em vários domínios da vida
nas cidades é a realidade já em muitos espaços urbanos. Mas, será esse o futuro
de todas as cidades? E o que acontecerá a quem não se tornar
"inteligente"?
"Penso que será o destino
das cidades — na essência, ser uma smart city significa criar eficiências. Não
importa a dimensão, se é Tóquio ou Nova Iorque ou uma cidade bem mais pequena.
A nossa discussão é mais no sentido do que serão as cidades do futuro, porque
smart cities, as que usam tecnologia e dados, serão todas", defende
Michale Guerin.
"Se olharmos para a
natureza desta revolução industrial, todos temos um smartphone, todos, gostem
ou não, usam. Acho que a diferença entre as cidades será no calendário de
implementação mas uma cidade rural em Inglaterra poderá ser tão tecnológica
quanto Tóquio. O que vemos é que estes movimentos de smart cities não estão a
ser conduzidos por governos centrais, mas por cidades e regiões — veja-se o
caso da Califórnia ou de Nova Iorque que apesar do governo americano atual ser
adepto de carvão, já se demarcaram e afirmaram que irão manter os compromissos
dos acordos de Paris e com os seus cidadãos antes de mais", remata Oliver
Hall.
Santander
testa IoT
Outro exemplo de soluções de
cidades inteligentes chegou de Santander pela voz de Juan Rámon Santana,
simultaneamente investigador na Universidade de Cantabria e um dos líderes do
"SmartSantander".
“SmartSantander pode ser
considerado a semente da iniciativa de smart cities em Santander. Começou como
um projeto europeu, em 2010, com o objetivo ambicioso de ativar uma miríade de
sensores na cidade em diversos ecossistemas como o ambiental, trânsito, mobilidade,
etc”, conta.
Mais uma vez, um projeto que
tem como base uma cidade de pequena dimensão — 180 mil habitantes — e uma
economia muito suportada em serviços. Um ambiente muito favorável às principais
linhas do program: experimentação de soluções de IoT (Internet of Things) que
podem ir de áreas como estacionamento, rega de parques e jardins, realidade
aumentada ou gestão do lixo. Nesta última aplicação, por exemplo, foram
colocados mais de 1000 sensores em caixotes do lixo para medir a sua capacidade
e notificar quando estão cheios - informação que melhora a recolha de lixo,
organização de horários e o serviço prestado aos cidadãos.
"Aveiro
Steamcity" entre os vencedores do programa europeu "Ações Urbanas Inovadoras"
Um dia antes do arranque do
TechDays, Aveiro, a cidade que promove o evento, tinha recebido uma boa notícia
no que respeita aos planos da cidade em matéria de utilização de tecnologias de
smart cities. O projeto Aveiro Steamcity que, segundo nota da Comissão
Europeia, “ajudará a preparar a comunidade local para a nova revolução
tecnológica associada à 5G com um observatório laboral para aumentar a resposta
educativa e em termos de qualificações” — foi distinguido no âmbito de
"Ações Urbanas Inovadoras", sendo o primeiro em Portugal a ser
selecionado neste âmbito.
Terá assim um investimento de
6,1 milhões de euros ao longo de três anos oriundo de uma dotação total da
União Europeia de 92 milhões de euros ao abrigo do Fundo Europeu de
Desenvolvimento Regional para financiar “soluções inovadoras para desafios
urbanos como a qualidade do ar, as alterações climáticas, a habitação, o
emprego e as competências na economia local.”
Este foi um dos pontos em
destaque na apresentação do responsável pela área de empreendedorismo e
inovação da Câmara de Aveiro, André Costa, que detalhou as parcerias realizadas
para a execução do Aveiro Steamcity e que envolvem os Altice Labs, sediados na
cidade, a Universidade de Aveiro, o Instituto de Telecomunicações, a INOVARIA e
a CEDES. "O desafio hoje não é como criar novos empregos, mas como
melhorar o valor acrescentado e a riqueza económica e social com os empregos
criados. Nós queremos ajudar as empresas a repensar os recursos que precisam
para inovar, crescer e atrair um novo tipo de talento".
O que leva à descodificação do
que significa Aveiro Steamcity: STEAM é o acrónimo para Ciências (Science),
Tecnologia (Technology), Engenharia (Engineering), Arte (Arts) e Matemática
(Mathematics). São estas áreas e competências que a cidade quer casar com a
tecnologia 5G tendo como objetivo integrá-las no contexto de um contexto urbano
inovador. "Queremos que a cidade seja um testbed digital e queremos ter os
nossos cidadãos preparados para esta mudança radical", explicou André Costa.
"É um grande desafio, tem riscos mas a cidade e os parceiros que tem estão
muito motivados para o fazer".
A discussão sobre Cidades
Inteligentes contou ainda com uma apresentação de Pedro Sanguinho da Nokia
sobre os veículos 5G e como irão impactar o futuro da mobilidade, uma das áreas
com mais problemas e desafios no âmbito das cidades do futuro. Rute Vasco – Portugal in “Sapo24”
TechDays - A
tecnologia faz parte do nosso dia-a-dia desde o início da humanidade:
ferramentas em pedra, o controlo do fogo, as primeiras peças de vestuário, a
álgebra, os transístores e muitos outros exemplos. Grandes sonhos, aspirações
visionárias, fracassos inabaláveis e a capacidade de nos superarmos, levou a
humanidade a grandes inovações. A humanidade enfrenta hoje grandes mudanças
tecnológicas que trespassam todas as gerações. A revolução tecnológica está
presente em tudo que fazemos. Faz parte das nossas vidas. A inovação está a
mudar a forma como fazemos negócios, a sustentar a criação de novas indústrias
e a transformar a sociedade em que vivemos, a uma velocidade acelerada. Mas, todos
esses desafios trazem, também, novas oportunidades.
Para mais informações aceda aqui
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