SÃO PAULO – Como o governo brasileiro em 2005, ao
lado do argentino, boicotou a formação do Acordo de Livre-Comércio das Américas
(Alca), o País agora não dispõe de um fórum comercial adequado para se defender
das consequências que podem resultar da renegociação do Tratado Norte-Americano
de Livre-Comércio (Nafta), especialmente para as exportações brasileiras com
destino ao México. Sem contar que essa renegociação entre Estados Unidos e
México deverá afetar negativamente as tratativas que o governo brasileiro
estava desenvolvendo, por intermédio do Mercosul, com o governo mexicano.
Embora a sua participação nas
exportações totais do Brasil seja reduzida, em torno de 1,8%, aquele país
constitui um mercado atraente para os produtos manufaturados, que merece ser
preservado, ainda mais numa situação como a de agora em que cresce o fenômeno
da desindustrialização e, ao mesmo tempo, aumenta a participação de commodities agrícolas e minerais na
pauta exportadora. Segundo dados da Associação de Comércio Exterior do Brasil
(AEB), as vendas de produtos primários no primeiro semestre cresceram 10,6% em
relação ao mesmo período de 2017, enquanto as de manufaturados subiram apenas
6,6%. Para piorar o quadro, as vendas de bens semimanufaturados caíram 1,4%.
Cerca de 20% dos produtos
manufaturados que o Brasil exporta para o México estão no setor automotivo,
entre motores, partes e peças, mas essa participação pode ser reduzida se ficar
decidido que aquele país terá de elevar o seu conteúdo regional mínimo, de
62,5% para 75%, para a venda de automóveis sem tarifas aos Estados Unidos e
Canadá, além da obrigatoriedade de que alguns insumos de aço e alumínio para a
indústria automotiva sejam comprados daqueles países.
A política comercial do
governo de Donald Trump que dá ênfase ao protecionismo também pode afetar o
setor agrícola brasileiro, se a União Europeia tiver de fazer concessões nessa
área para os Estados Unidos, o que fatalmente levará o bloco europeu a recuar
diante das demandas do Mercosul. Nesse caso, as vendas de commodities, que vêm crescendo de maneira significativa, também
podem sofrer um impacto negativo.
Obviamente, ninguém defende um
freio nas vendas de commodities, até
porque esse segmento vem garantindo superávits na balança comercial, mas o que
não pode ocorrer é que o País volte a ser apenas um fornecedor de
matérias-primas, como ao tempo do Brasil colonial.
Portanto, o que se espera é
que o governo que sair das urnas crie, a partir de janeiro de 2019, condições,
inclusive com uma diplomacia comercial mais incisiva que abra mercados, para
que o parque fabril brasileiro não seja sucateado ou até mesmo desativado. Até
porque os produtos manufaturados, além de agregar valor, redundam na criação de
empregos, o que acaba por estimular o mercado interno e faz com que o País
cresça. Milton Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato
dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São
Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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