Deve
ficar operacional já este ano um fundo para a concretização de projectos comuns
de ciência e tecnologia, fruto da cooperação entre Macau e Portugal. A
informação foi avançada pelo Ministro Augusto Santos Silva, que falou ainda de
mais quatro pilares na agenda bilateral, que passa também pelos domínios
económico e educativo
No seguimento da 5ª Reunião da
Comissão Mista Macau-Portugal, o Ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE)
português descreveu cinco projectos concretos que exprimem a agenda de
colaboração entre as duas partes. Um deles é a criação de um fundo para projectos
comuns de ciência e tecnologia. “Contamos ter o fundo operacionalizado até ao
fim deste ano para que se inicie o primeiro concurso para projectos conjuntos”,
avançou Augusto Santos Silva.
O fundo resulta de um
memorando assinado no primeiro semestre deste ano entre a Fundação de Ciência e
Tecnologia de Portugal e a sua congénere na RAEM, mas não se sabe ainda qual o
seu montante.
Para além deste projecto,
prevê-se também a cooperação no domínio da economia, relativamente à defesa dos
consumidores. A intensificação da presença de empresas portuguesas em Macau é
outro objectivo onde a tecnologia volta a ganhar importância.
“Comecei a minha manhã [de
sábado] por visitar a MIF e pude constatar com muita alegria que o número de
empresas [portuguesas] presentes este ano é praticamente o dobro” do habitual.
“Mas, ainda mais importante do que isso, são empresas que sem deixarem a área
tradicional e boa do agro-alimentar, intervêm também na área dos serviços e da
tecnologia”, comentou.
A cooperação a nível do ensino
vai também continuar, com mais iniciativas de mobilidade interuniversitária,
tendo Augusto Santos Silva destacado os acordos desenvolvidos pela Universidade
de Macau e Instituto Politécnico com instituições de ensino superior
portuguesas. Para o Ministro, esses acordos têm aumentado devido ao quinto
ponto estratégico: o reconhecimento recíproco de habilitações e graus, que
“facilita a mobilidade dos estudantes e enriquece os nossos dois países através
da formação dos seus jovens quadros que serão o futuro de ambas as nossas
nações”.
O MNE referiu a importância da
Comissão Mista, realçando ter sido a quinta reunião em sete anos, com a
primeira realizada em 2011. Uma prova da intensidade e dos contactos bilaterais
entre os dois governos, frisou, notando que este encontro serviu também para
iniciar os preparativos das celebrações planeadas para 2019: o 40º aniversário
das relações diplomáticas entre a China e Portugal e os 20 anos da RAEM.
Por sua vez, Chui Sai On
destacou que as duas partes avançaram em áreas chave, apesar de ter referido
existirem “algumas assimetrias”. “Houve um abundante intercâmbio de ideias,
alcançámos importantes consensos e produzimos bons resultados. O nosso encontro
serviu para dar novo estímulo à cooperação entre Macau e Portugal para
incrementar o bem-estar dos nossos povos”, disse o Chefe do Executivo.
Para além de apostas na
educação e tecnologia, o líder da RAEM quer apoiar mais empresários
portugueses, para que invistam nos países lusófonos e na Grande Baía. Noutra
vertente, referiu que a equipa de futebol de Portugal foi convidada para
participar em actividades desportivas em Macau.
Base
asiática para ensino do Português
Chui Sai On voltou a frisar
que a RAEM tem capacidade para se tornar na “melhor base da Ásia para o ensino
da Língua Portuguesa”, e que os fortes resultados obtidos sustentam o papel de
plataforma entre a China e os países de Língua Portuguesa. O bilinguismo, tão
valorizado no território, foi também alvo de atenção na Escola Portuguesa de
Macau (EPM), que Augusto Santos Silva visitou após a reunião da Comissão Mista.
A estrutura de financiamento
da EPM foi abordada na reunião, por iniciativa do Ministro, que disse tê-lo
feito para agradecer o apoio financeiro do Governo da RAEM. “É um sinal muito
concreto do empenho das autoridades macaenses na preservação da herança
portuguesa e na difusão da língua portuguesa”, sublinhou. A escola serve o bilinguismo
também na vertente inversa, de ensino do Mandarim.
Questionado sobre as
desistências do Mandarim, o presidente da direcção da EPM, Manuel Machado,
explicou que os alunos “têm tendência a abandonar quando chegam ao secundário
por causa das obrigações que têm para com as outras disciplinas”, mas que “o
processo é acompanhado de perto pela escola no sentido de vir a colmatar essa
situação”. No início do percurso escolar há uma adesão superior a 90% ao ensino
do Mandarim, mas no final do 12º ano, apenas entre cinco a 10 estudantes
terminam com essa vertente.
Diálogo
com conselheiros
A presidente do Conselho
Regional das Comunidades Portuguesas na Ásia e Oceânia falou também com Augusto
Santos Silva para lhe apresentar “questões dos portugueses recém-chegados a
Macau, algumas situações da dificuldade de obter o título de residência,
problemas de integração, e do apoio que os conselheiros têm dado à comunidade
local no tratamento de documentação”.
Segundo Rita Santos, uma das
questões mais prementes prende-se com os atrasos na obtenção de documentação,
nomeadamente de certificados de nascimento, já que “muitos pais ficam
preocupados de não poderem viajar com os seus filhos por falta de documentação
adequada”, forçando a que recorram a advogados de Portugal para solucionar a
questão.
Além disso, foi também
requerido um aumento salarial para os trabalhadores do Consulado, bem como
proposto que possam beneficiar do pagamento de impostos em Macau à luz da
convenção para evitar a dupla tributação. “É uma forma de ajudá-los a enfrentar
as dificuldades financeiras face à carestia de vida aqui em Macau”, disse Rita
Santos.
Noutro âmbito, o Ministro
considerou que seria “ilegítimo e inapropriado” comentar as “políticas de
contratação” da Assembleia Legislativa, relativamente à não renovação dos
contratos dos juristas portugueses Paulo Taipa e Paulo Cardinal, apesar de
dizer estar “informado” do ocorrido. “É uma prerrogativa e também uma
responsabilidade própria da Assembleia Legislativa de Macau proceder às
renovações ou não desses contratos”, disse, frisando que “o que interessa”
sobre a inserção profissional dos cidadãos portugueses é que “os termos em que
ocorreu a transferência, e designadamente a Lei Básica, sejam cumpridos por
todos”.
A visita de Santos Silva
culminou com uma recepção à comunidade portuguesa na residência consular, onde
o Executivo da RAEM esteve representado pelo Secretário para a Economia e
Finanças, Lionel Leong.
Recursos
no Fórum Macau em consolidação
À margem de uma visita à MIF,
Augusto Santos Silva destacou o Fórum Macau como uma “plataforma óbvia de
contacto” entre a China e os países lusófonos. Segundo a Rádio Macau, o
Ministro desvalorizou o facto de Portugal nunca ter tido um delegado permanente
no organismo, salientando que o secretário-geral adjunto do Fórum, Rodrigo
Brum, “é uma personalidade portuguesa” e “a delegada da AICEP em Macau trabalha
também muito intimamente com o Fórum”. “Vamos progredindo e consolidando,
também no que diz respeito aos recursos humanos necessários”. Salomé Fernandes – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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