Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Macau – Casa de Portugal distingue melhores alunas em língua portuguesa

As seis melhores alunas de língua portuguesa de algumas escolas do ensino secundário e superior da RAEM viram o seu esforço e dedicação reconhecidos, na sexta-feira, pela Casa de Portugal. O interesse por uma língua que na maioria dos casos não é a materna manifestou-se desde cedo entre as premiadas, que encaram este reconhecimento como um incentivo para fazer mais e melhor



A Casa de Portugal em Macau (CPM) voltou a distinguir os melhores alunos de Português de algumas instituições de ensino secundário e superior do território. A cerimónia teve lugar na sede da associação de matriz portuguesa, onde estiveram reunidas as premiadas mas também os docentes e familiares que contribuíram para elevar e solidificar os conhecimentos das jovens.

Na edição deste ano foram atribuídos prémios pecuniários no valor de 3000 patacas a seis alunas pelos excelentes resultados na aprendizagem da língua de Camões que, na maioria dos casos, envolve estudantes de Português como língua não-materna, à excepção de Luísa Vilão. A frequentar o 10º ano, a aluna da Escola Portuguesa de Macau (EPM) foi a única premiada pelos distintos resultados alcançados no final do 9º ano de escolaridade em 2017/2018. O prémio representa um incentivo para “continuar a ter boas notas a Português e a tentar sempre melhorar”. No entanto, reconhece, “não fiquei muito surpreendida porque ao longo do ano tinha as melhores notas da turma por isso estava um bocadinho à espera”.

“Como nasci em Portugal, o Português sempre foi a língua que falava e sempre foi mais fácil os testes e falar, e também estudava mais em casa. Como também tinha muitas pessoas na minha turma cuja língua materna não era o Português, talvez não fosse tão difícil ter as melhores notas”, admitiu ainda.

Além do contacto diário com a língua durante as aulas, Luísa Vilão esforça-se por apostar na leitura, embora esse hábito, à semelhança do que se já tornou há muito uma tendência entre os jovens, se esteja a perder. “Na escola temos de ler alguns livros obrigatórios. Não costumo ler muito, lia mais quando era pequena porque a minha mãe comprava-me sempre muitos livros”, concluiu.

Chan Siok Uan é um caso diferente. Tem 15 anos, também está no 10º ano e estuda Português desde o ensino primário. A partir daí, o gosto e curiosidade por uma língua completamente diferente da materna foi crescendo de tal modo que foi escolhida pela Direcção para os Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) para integrar o leque de premiados desta edição.

Terminou o 9º ano com 98 valores, numa escala de 0 a 100. “É uma grande honra porque sei que há muitas pessoas em Macau que aprendem Português. Também queremos expressar a importância da língua e cultura portuguesas. Estou muito contente”, reagiu, com um sorriso e entusiasmo, em declarações à Tribuna de Macau

A estudante da Escola Oficial Zheng Guanying salienta que o interesse pela língua deve-se também à variedade oferecida pelo estabelecimento de ensino. “Além de uma disciplina de Língua Portuguesa também aprendemos, em Português, Geografia, Educação Musical e Educação Física. Por isso, temos muito mais oportunidades para aprender a língua e progressivamente vou tendo mais interesse pelo Português”, disse.

Além disso, pesa o facto do gosto pela língua coincidir também com a curiosidade sobre outras componentes associadas a Portugal, à sua cultura, costumes e literatura. “Gosto muito da pronúncia da língua portuguesa mas também da gastronomia. Através da disciplina de Geografia conseguimos ficar a saber mais sobre a história e geografia de Portugal e, por isso, tenho mais conhecimentos sobre a história”, contou, notando que o gosto pelas palavras escritas é também uma das vertentes que mais aprecia neste caminho de aprendizagem. “Gosto de ler Camões e […] também já li o Principezinho. Leio também livros na biblioteca da minha escola onde há muitas obras de autores portugueses, como por exemplo Uma Aventura em Macau”.

Interesse vai da língua à cultura

Entre as seis premiadas constam ainda Ho Cheok U, da Universidade de Macau, e Wong Lai Meng, do Instituto Politécnico (IPM) com quem a Tribuna de Macau esteve à conversa. Licenciada em Tradução e Interpretação do IPM, Wong Lai Meng é a única da família que fala português. Também por isso, a distinção ganha outra forma, além de ser um “reconhecimento pelo meu empenho”.

Apaixonada pela literatura de Sophia Mello Breyner, a jovem de 22 anos, nascida em Macau, confessa que sempre se interessou pela tradução e interpretação sino-lusa devido à clara diferença que as separa, mas que também as une. “Sempre tive muito interesse porque as línguas chinesa e portuguesa são muito diferentes. De facto, comecei a estudar Português desde o segundo ano e, no início, claro que foi muito difícil, mas com mais estudo e prática, também por causa da cultura portuguesa, comecei a adorar esta língua”, explicou.

O Português começou também a ser uma plataforma para conhecer novas pessoas, crescer enquanto pessoa e enriquecer conhecimentos. “No segundo ano da licenciatura tive a oportunidade de ir estudar para Portugal, em Leiria, e a vida era muito aborrecida mas conheci muita gente, fiz muitos amigos, provei muita comida portuguesa e foi uma experiência muito boa”, vincou.

A Casa de Portugal distinguiu ainda Yuan Iok In e Lei Chi San pelas melhores classificações na disciplina de Português.

Na cerimónia de entrega dos seis prémios esteve presente o Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves, naquela que foi a sua primeira participação oficial num evento organizado por uma associação de matriz portuguesa. “É [um evento] importante porque é organizado por uma associação portuguesa e, em segundo lugar, o que nos faz reunir aqui hoje [na sexta-feira] é uma das questões que considero mais importantes: a defesa, promoção e divulgação da língua portuguesa sobretudo entre os mais jovens”, disse aos jornalistas.

“Esse é um dos meus principais objectivos para o meu trabalho na RAEM: promover a língua portuguesa, ver como podemos apoiar mais a EPM, a difusão da língua portuguesa noutras escolas, privadas e públicas, será certamente uma das minhas prioridades”, sublinhou Paulo Cunha Alves, que também elogiou as premiadas pelo esforço em aprender o que considera ser uma “língua de contacto e aproximação que vos vai permitir conseguir oportunidades de emprego que não conseguiriam atingir se falassem apenas a vossa língua-mãe”. “Nessa medida, a língua e cultura portuguesas devem andar sempre de mãos dadas e para aprender a língua temos de conhecer a história portuguesa. Saber sobre o passado ajuda a aprender o presente”, destacou o diplomata. Catarina Almeida – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

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