As
seis melhores alunas de língua portuguesa de algumas escolas do ensino
secundário e superior da RAEM viram o seu esforço e dedicação reconhecidos, na
sexta-feira, pela Casa de Portugal. O interesse por uma língua que na maioria
dos casos não é a materna manifestou-se desde cedo entre as premiadas, que
encaram este reconhecimento como um incentivo para fazer mais e melhor
A Casa de Portugal em Macau
(CPM) voltou a distinguir os melhores alunos de Português de algumas
instituições de ensino secundário e superior do território. A cerimónia teve
lugar na sede da associação de matriz portuguesa, onde estiveram reunidas as
premiadas mas também os docentes e familiares que contribuíram para elevar e
solidificar os conhecimentos das jovens.
Na edição deste ano foram
atribuídos prémios pecuniários no valor de 3000 patacas a seis alunas pelos
excelentes resultados na aprendizagem da língua de Camões que, na maioria dos
casos, envolve estudantes de Português como língua não-materna, à excepção de
Luísa Vilão. A frequentar o 10º ano, a aluna da Escola Portuguesa de Macau
(EPM) foi a única premiada pelos distintos resultados alcançados no final do 9º
ano de escolaridade em 2017/2018. O prémio representa um incentivo para “continuar
a ter boas notas a Português e a tentar sempre melhorar”. No entanto,
reconhece, “não fiquei muito surpreendida porque ao longo do ano tinha as
melhores notas da turma por isso estava um bocadinho à espera”.
“Como nasci em Portugal, o
Português sempre foi a língua que falava e sempre foi mais fácil os testes e
falar, e também estudava mais em casa. Como também tinha muitas pessoas na
minha turma cuja língua materna não era o Português, talvez não fosse tão
difícil ter as melhores notas”, admitiu ainda.
Além do contacto diário com a
língua durante as aulas, Luísa Vilão esforça-se por apostar na leitura, embora
esse hábito, à semelhança do que se já tornou há muito uma tendência entre os
jovens, se esteja a perder. “Na escola temos de ler alguns livros obrigatórios.
Não costumo ler muito, lia mais quando era pequena porque a minha mãe
comprava-me sempre muitos livros”, concluiu.
Chan Siok Uan é um caso
diferente. Tem 15 anos, também está no 10º ano e estuda Português desde o
ensino primário. A partir daí, o gosto e curiosidade por uma língua
completamente diferente da materna foi crescendo de tal modo que foi escolhida
pela Direcção para os Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) para integrar o
leque de premiados desta edição.
Terminou o 9º ano com 98
valores, numa escala de 0 a 100. “É uma grande honra porque sei que há muitas
pessoas em Macau que aprendem Português. Também queremos expressar a
importância da língua e cultura portuguesas. Estou muito contente”, reagiu, com
um sorriso e entusiasmo, em declarações à Tribuna de Macau
A estudante da Escola Oficial
Zheng Guanying salienta que o interesse pela língua deve-se também à variedade
oferecida pelo estabelecimento de ensino. “Além de uma disciplina de Língua
Portuguesa também aprendemos, em Português, Geografia, Educação Musical e
Educação Física. Por isso, temos muito mais oportunidades para aprender a
língua e progressivamente vou tendo mais interesse pelo Português”, disse.
Além disso, pesa o facto do
gosto pela língua coincidir também com a curiosidade sobre outras componentes
associadas a Portugal, à sua cultura, costumes e literatura. “Gosto muito da
pronúncia da língua portuguesa mas também da gastronomia. Através da disciplina
de Geografia conseguimos ficar a saber mais sobre a história e geografia de
Portugal e, por isso, tenho mais conhecimentos sobre a história”, contou,
notando que o gosto pelas palavras escritas é também uma das vertentes que mais
aprecia neste caminho de aprendizagem. “Gosto de ler Camões e […] também já li
o Principezinho. Leio também livros na biblioteca da minha escola onde há
muitas obras de autores portugueses, como por exemplo Uma Aventura em Macau”.
Interesse
vai da língua à cultura
Entre as seis premiadas
constam ainda Ho Cheok U, da Universidade de Macau, e Wong Lai Meng, do
Instituto Politécnico (IPM) com quem a Tribuna de Macau esteve à conversa.
Licenciada em Tradução e Interpretação do IPM, Wong Lai Meng é a única da
família que fala português. Também por isso, a distinção ganha outra forma,
além de ser um “reconhecimento pelo meu empenho”.
Apaixonada pela literatura de
Sophia Mello Breyner, a jovem de 22 anos, nascida em Macau, confessa que sempre
se interessou pela tradução e interpretação sino-lusa devido à clara diferença
que as separa, mas que também as une. “Sempre tive muito interesse porque as
línguas chinesa e portuguesa são muito diferentes. De facto, comecei a estudar
Português desde o segundo ano e, no início, claro que foi muito difícil, mas
com mais estudo e prática, também por causa da cultura portuguesa, comecei a
adorar esta língua”, explicou.
O Português começou também a
ser uma plataforma para conhecer novas pessoas, crescer enquanto pessoa e
enriquecer conhecimentos. “No segundo ano da licenciatura tive a oportunidade
de ir estudar para Portugal, em Leiria, e a vida era muito aborrecida mas
conheci muita gente, fiz muitos amigos, provei muita comida portuguesa e foi
uma experiência muito boa”, vincou.
A Casa de Portugal distinguiu
ainda Yuan Iok In e Lei Chi San pelas melhores classificações na disciplina de
Português.
Na cerimónia de entrega dos
seis prémios esteve presente o Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong,
Paulo Cunha Alves, naquela que foi a sua primeira participação oficial num
evento organizado por uma associação de matriz portuguesa. “É [um evento]
importante porque é organizado por uma associação portuguesa e, em segundo
lugar, o que nos faz reunir aqui hoje [na sexta-feira] é uma das questões que
considero mais importantes: a defesa, promoção e divulgação da língua
portuguesa sobretudo entre os mais jovens”, disse aos jornalistas.
“Esse é um dos meus principais
objectivos para o meu trabalho na RAEM: promover a língua portuguesa, ver como
podemos apoiar mais a EPM, a difusão da língua portuguesa noutras escolas,
privadas e públicas, será certamente uma das minhas prioridades”, sublinhou
Paulo Cunha Alves, que também elogiou as premiadas pelo esforço em aprender o
que considera ser uma “língua de contacto e aproximação que vos vai permitir
conseguir oportunidades de emprego que não conseguiriam atingir se falassem
apenas a vossa língua-mãe”. “Nessa medida, a língua e cultura portuguesas devem
andar sempre de mãos dadas e para aprender a língua temos de conhecer a
história portuguesa. Saber sobre o passado ajuda a aprender o presente”,
destacou o diplomata. Catarina Almeida –
Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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