Com um novo romance a caminho, o
jornalista e escritor Adelto Gonçalves encerra a carreira como professor
O jornalista e escritor
Adelto Gonçalves traçou uma carreira exemplar. Atuou no campo acadêmico como
professor universitário nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e
Direito e, como jornalista, teve passagens pelos jornais Cidade Santos e A Tribuna,
na editoria de esportes de ambos e no Estado
de S. Paulo, onde foi subeditor de política.
Por meio do jornalismo,
conheceu mais de 30 países e foi correspondente internacional da revista Época em Lisboa, onde escreveu uma série
de reportagens sobre as comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil.
Como escritor, recebeu menção honrosa com o livro Os vira-latas da madrugada, em 1980. No ano seguinte, a editora José
Olympio publicou o livro, que teve bastante repercussão na imprensa.
Na época, a Folha de S.Paulo publicou resenha do
professor Cláudio Lembo, que viria a ser
governador do Estado anos mais tarde. A obra se destaca, pois é uma das poucas
que, dentro do gênero de ficção, têm o golpe militar de 1964 como pano de fundo.
Após 34 anos, o livro ganhou
uma segunda edição pela Associação Cultural Letra Selvagem, de Taubaté-SP, com
capa e ilustrações do artista plástico Ênio Squeff. O livro traz um acréscimo,
o prefácio escrito pelo jornalista Marcos Faerman, que chegou a ser impresso na
primeira edição, mas que foi arrancado página a página por pressões de “forças
ocultas”, já que, à época, a editora estava sob intervenção, conta o
jornalista. Abaixo, a íntegra da entrevista.
Primeira
Impressão - Como o jornalismo influenciou na preparação dos seus livros?
Adelto
Gonçalves – O
jornalismo me ajudou a depurar o texto. Quando fiz mestrado em Letras na USP em
1988, já era jornalista bastante experiente, com livros publicados. À época,
procurei o professor Mario Miguel González, da USP, e deixei com ele um portfólio
de resenhas de livros de autores hispanoamericanos que já havia publicado. E
ele me disse que não precisava de mais nada para começar o curso de mestrado.
PI
- Você recebeu diversos prêmios por seu trabalho como escritor. Existe algum
que deixou uma recordação especial?
AG – A menção honrosa que
ganhei do Prêmio de Romance José Lins do Rego, da Livraria José Olympio
Editora, do Rio de Janeiro, em 1980, com o livro Os vira-latas da madrugada. Eu nunca mais havia relido o livro, o
que fiz só agora para acompanhar a revisão para a segunda edição. Fui tentado a
reescrever algumas passagens, corrigir alguns pequenos erros de gramática ou
mesmo retirar algumas expressões em nome do ideal do politicamente correto de
hoje, mas, por fim, optei por deixá-lo praticamente como apareceu em 1981,
mantendo o tom coloquial e "espontâneo" da narrativa, que mais se
aproxima da naturalidade das personagens do beira-cais.
PI
- Qual sua inspiração para escrever?
AG – Como intelectual, tenho
duas facetas: como ficcionista, estreei com o livro de contos Mariela Morta, em 1977, em edição de
autor. Além de Os vira-latas da madrugada,
publiquei o romance Barcelona Brasileira,
que saiu primeiro em Portugal pela editora Nova Arrancada, em 1999, e depois,
em 2002, pela Publisher Brasil, de São Paulo. O livro saiu primeiro em Portugal
porque, em 1997, quando publiquei Fernando
Pessoa: a voz de Deus, livro de artigos e ensaios, pela Editora da
Unisanta, o ex-embaixador do Brasil em Portugal, José Aparecido de Oliveira,
enviou um exemplar para Dário Moreira de Castro Alves, outro ex-embaixador
brasileiro em Lisboa, que, à época, estava escrevendo um prefácio para um livro
sobre Fernando Pessoa para a editora Nova Arrancada e citou o meu livro nesse
texto. Então, a Nova Arrancada se interessou pelo meu trabalho sobre Pessoa,
mas acabou optando por publicar o romance Barcelona
brasileira, depois que informei que era um trabalho inédito. Como
pesquisador, tenho ainda um trabalho inédito, O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São
Paulo (1788-1797), que desenvolvi em 2013-2014 com bolsa de pesquisa da Universidade
Paulista (Unip).
PI
- Como foi sua primeira experiência no jornalismo?
AG – Comecei como repórter de
esportes do jornal Cidade de Santos,
à época em que estava no segundo ano da Faculdade de Comunicação da atual
Unisantos. Fiquei três meses e passei para a seção de esportes de A Tribuna, de Santos, onde permaneci até
me formar em Jornalismo em 1974. Em 1975, fui para o Estado de S.Paulo e lá cheguei a subeditor de Política.
PI
- Você já foi correspondente da revista Época
em Lisboa. Teve alguma dificuldade em se adaptar ao outro país? Sofreu
algum preconceito por ser brasileiro? O que isso trouxe de experiência?
AG – Nunca sofri nenhum
preconceito por ser brasileiro. Pelo contrário. Fui correspondente da revista Época em Lisboa ao tempo em que estava
lá para pesquisar a vida e a obra de Bocage. Fiz várias reportagens
interessantes para a revista sobre as comemorações dos 500 anos do
descobrimento do Brasil, inclusive uma sobre a casa onde morou e morreu Pedro
Álvares Cabral em Santarém.
PI
- Em sua opinião, quais as características de um bom jornalista?
AG – Em primeiro lugar, um bom
jornalista brasileiro deve dominar a Língua Portuguesa, seu instrumento de
trabalho. Com o tempo, vai aprender a investigar e a produzir boas reportagens.
Infelizmente, o que se vê hoje imprensa brasileira são matérias mal escritas.
Além de acabar com a seção de revisão, os jornais, para cortar despesas,
dispensaram os redatores mais experientes. O ideal é manter uma redação
mesclada de jovens e jornalistas mais experientes.
PI
- O que mais lhe satisfez na carreira de jornalista?
AG – Foi a oportunidade de
conhecer mais de 30 países. Hoje, sou assessor cultural e de imprensa do Centro
Lusófono Camões da Universidade Estatal Pedagógica Hertzen, de São Petersburgo,
depois de visita que fiz àquela instituição em 2011. Por indicação do
ex-embaixador Dário Moreira de Castro Alves, escrevi os prefácios de dois
livros de contos de Machado de Assis que foram publicados pelo Centro em edição
russo-portuguesa em 2006 e 2007. Os estudantes russos de Português do Centro
gostaram tanto de minha visita que eu e minha esposa fomos recepcionados com
bandeirinhas brasileiras na estação ferroviária de São Petersburgo, um momento
inesquecível. Participei também do livro Studi
su Fernando Pessoa, publicado em 2010 na Itália. O livro reúne os maiores
especialistas do mundo em Fernando Pessoa (1888-1935) na visão de seu editor, o
professor Brunello De Cusatis, da Universidade de Perugia. Continuo a escrever
resenhas de livros. Sou colaborador desde 1994 da Revista Vértice, de Lisboa, e escrevo com frequência para o
quinzenário As Artes Entre as Letras,
do Porto, e para o Jornal Opção, de
Goiânia. Escrevo ainda para sites do Brasil e de Portugal e para uma revista
digital de Moçambique, a Literatas.
Já escrevi prefácios para livros de três autores moçambicanos.
PI
- Dentre os livros que você escreveu, qual é o seu favorito?
AG
– Penso que
o romance Barcelona Brasileira foi o
livro que me deixou mais satisfeito. É um romance que trata do anarquismo no
porto de Santos na década de1910-1920. E vai até a fundação do Partido
Comunista do Brasil em 1922.
PI
- Quais são seus próximos projetos?
AG – Em 2014, encerrei minha
carreira como professor universitário. Agora, moro numa pequena cidade do
interior de São Paulo, mas continuo a atuar como assessor de imprensa na área
empresarial. Com a tranquilidade da vida numa cidade do interior, penso em
aproveitar o tempo para concluir um romance que já tem título: Memorial Republicano. Aborda um caso de
corrupção nos primeiros tempos da República no Rio de Janeiro. O romance já
anda por volta de 60 páginas, mas ficou parado por falta de tempo. Raphael Matos – Brasil in “Jornal Primeira Impressão”
*
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* Primeira Impressão, jornal-laboratório da Faculdade de Artes e
Comunicação da Universidade Santa Cecília (Unisanta), de Santos-SP, nº154, maio/junho 2015, pág.39.
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Os Vira-Latas da
Madrugada, de Adelto Gonçalves, com prefácio de Marcos Faerman e
posfácio de Maria Angélica Guimarães Lopes, ilustrações e capa de Enio Squeff..
Taubaté-SP: Associação Cultural LetraSelvagem, 216 págs., 2015, R$ 35,00. E-mail:
letraselvagem@letraselvagem.com.br Site:
www.letraselvagem.com.br
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