O
Expresso foi conhecer o maior porta-contentores do mundo - MSC Zoe - e
acompanhou as suas manobras de entrada no porto de Sines. Se fossem colocados
em linha, os 19 mil contentores que transporta estender-se-iam por 115
quilómetros
É como se fosse um ilhéu com
quase meio quilómetro de comprimento. Só que projeta na perpendicular ao mar, a
partir da linha de água, uma parede com mais de 15 andares. Quem chega de
lancha ao porta-contentores MSC Zoe, parado ao largo da costa, terá facilmente
esta perceção. Aliás, foi o que aconteceu terça-feira à equipa do Expresso,
quando foi conhecer este navio. A diferença é que este ilhéu dá a volta ao
mundo pelos oceanos, transportando o equivalente a 19.224 contentores de seis
metros de comprimento.
Antes da equipa do Expresso
ter chegado ao MSC Zoe - parado nas águas escuras da costa alentejana, de onde
só se via ao longe o molhe exterior de Sines -, elementos ligados à
administração portuária local e ao terminal de contentores explicaram o “bilhete
de identidade” do Zoe.
A noção mais relevante sobre
a importância do Zoe capta-se num exercício simples: alinhando todos os
contentores que transporta. Assim, teremos uma linha contínua com 115
quilómetros de extensão. Eis as características mais relevantes do maior porta
contentores que até esta quarta-feira rumou ao porto de Sines.
É verdade que os seus 396
metros de comprimento não ultrapassam os 400 metros do gigante concorrente
Barzan, pertencente ao armador UASC, do Koweit. E também não é mais comprido
que os meganavios do armador dinamarquês Maersk - Magleby, Madison, Mc-Kinney,
Magestic, Marie e Mary.
Mas é inegável que nenhum
navio concorrente transporta 19.224 TEU (a unidade padrão correspondente a um
contentor de 20 pés, isto é, de seis metros de comprimento). É, por isso,
juntamente com os seus “irmãos gémeos” MSC Oscar e MSC Oliver pertencentes ao
mesmo armador - o grupo suíço Mediterranean Shipping Company (MSC), fundado em
1970 por Gianluigi Aponte - classificado como o maior porta-contentores do
mundo.
Outro dado curioso sobre o
Zoe é que foi batizado há dias em Hamburgo pela neta do fundador da MSC, com
quatro anos de idade, chamada precisamente Zoe, acompanhada na efeméride pelos
seus pais, Alexa Aponte Vago e Pierfrancesco Vago. De resto, este gigante
construído no estaleiro sul-coreano da Daewoo, seguiu o ritual instituído pelo
armador Gianluigi Aponte de dar o nome dos seus netos aos mais recentes navios
da sua frota - que simbolizam o futuro da sua empresa.
Foi sabendo isso que a
equipa do Expresso deixou a pequena doca lateral do porto de Sines embarcando
na lancha dos pilotos do porto de Sines, rumo ao MSC Zoe. Com a proa levantada,
a lancha sulcou veloz as águas profundas da costa alentejana, aproximando-se
depressa do gigantesco MSC Zoe que aguardava, ao largo, a chegada do piloto
Miguel Vieira de Castro.
Com o céu coberto de nuvens
mas sem ondulação no mar, a missão reservada a este especialista em manobras
portuárias seria diferente do habitual, na manhã de 11 de agosto: iria comandar
as operações de entrada inaugural no porto de Sines de um casco com quase meio
quilómetro de comprimento e perto de 60 metros de largura. Essa missão só seria
concluída após a sua acostagem e amarração ao cais do terminal de contentores
concessionado ao grupo PSA, de Singapura.
ieira de Castro garantiu que
apesar das nuvens cinzentas que toldavam a manhã, as condições de mar eram
excelentes para esta operação, pois nem havia ondulação. Mesmo assim, dois ou
três metros de ondulação não fariam diferença ao MSC Zoe. O pior seria sair da
lancha e pegar nas escadas lançadas de uma porta de acesso, aberta a meio do
casco do MSC Zoe.
A aproximação ao porta
contentores foi feita pela proa, cuja dimensão tornou minúscula a lancha dos
pilotos de Sines. Todo o MSC Zoe foi contornado, o que deu uma ideia precisa
dos 396 metros que tem de cada lado, até chegarmos à popa, onde, por baixo do
nome, tem a inscrição do país de registo: o Panamá. A rotação completa a 360
graus, em torno do navio, perfaz cerca de um quilómetro dentro de água.
“Colada” a lancha ao lado do
Zoe que estava virado a sul da costa alentejana - com a sua proa alinhada em
direção à entrada no porto de Sines -, a equipa que acompanhou o piloto Miguel
Vieira de Castro pegou nas escadas e trepou, degrau a degrau, para bordo do
porta contentores. Entre a comitiva estava o presidente executivo da MSC
Portugal, Carlos Vasconcelos, e o administrador executivo da Administração dos
Portos de Sines e do Algarve, José Pedro Soares - ambos subiram aquela escada
de corda com muita concentração, sem olhar para baixo, para as águas escuras
oceânicas da costa alentejana.
Dentro do Zoe, tudo estava
incólume, reluzente e sem dedadas. Havia um intenso cheio a tinta fresca, que
denunciava os poucos dias de vida que o porta contentores tinha. A tripulação é
multiétnica, com predomínio de asiáticos e italianos. A equipa do Expresso foi
conduzida por mais acessos de escadas verticais, passou por corredores que
certamente teriam mais de 250 metros de comprimento, até chegar a um elevador
que daria acesso ao topo da torre de comando. “Agora temos elevadores, mas nos
navios mais antigos era preciso subir tudo em escadas”, comentou com humor um
dos elementos da tripulação, de origem italiana. A placa colocada no acesso ao
elevador identifica 10 níveis de “decks”. Mas o navio tem mais. “Na parte
exterior da zona de carga pode transportar 11.256 TEU. E na parte inferior
carrega 7.999 TEU. No total, 19.224 TEU”, explica outro elemento da tripulação.
O Zoe pode levar uma
tripulação máxima de 35 pessoas. Mas na altura em que rumou a Sines, vindo de
Antuérpia, trazia cerca de 20 tripulantes. A ideia de 20 pessoas num navio
daquelas dimensões, feito para dar voltas ao mundo, transmite um estranho
sentimento de isolamento. Mas nenhum tripulante se queixa disso porque as
tarefas diárias não dão tréguas.
Depois de três rebocadores
da Svitzer terem chegarem ao Zoe, começou a operação de aproximação ao porto.
Com toda a comitiva no topo da torre de comando, o piloto Miguel Vieira de
Castro assumiu o controlo das operações, acompanhado pelo comandante Pica
Domenico, que se encontrava no centro da sala, em frente aos diversos ecrãs
digitais, com indicações técnicas sobre o navio e mapas com as características
do fundo do mar e a localização geográfica local.
Ambos são veteranos do
transporte marítimo. Miguel de Castro não é um piloto qualquer. É
vice-presidente da Associação Europeia de Pilotos Marítimos. E Pica Domenico
tem 36 anos de profissão, 26 dos quais como “capitão”. Miguel Castro diz que
como é a primeira vez que o Zoe entra em Sines, justifica-se o aparato de ser
apoiado por três rebocadores. Numa situação recorrente, dois chegariam.
Da sala de comando vê-se
todo o porto de Sines, todos os navios que estão nas redondezas e os
rebocadores parecem miniaturas, lá em baixo. Para o lado da proa, a área de
transporte de contentores é inferior à área que fica para a popa, que, lá de
cima, mais parece um campo de futebol cheio de peças de lego. Do topo do navio,
por cima da sala de comando, onde rodam os radares, o mar circundante quase
parece mais redondo.
Com um intercomunicador na
mão, Pica Domenico passou para fora da sala e foi até ao fim da extensão
exterior esquerda da torre de comando. No fim desse “braço”, abriu uma consola
que, vista de longe, mais parecia um enorme grelhador para churrascos. Assim
que o Zoe passou o molhe exterior do porto de Sines, soou várias vezes a buzina
- que deve ter sido ouvida em todo o porto e provavelmente também no centro de
Sines. “Comandamos toda a operação final deste extremo lateral exterior da
torre de comando”, explicou o primeiro oficial do Zoe.
Os rebocadores começaram o
seu trabalho de tração lateral do porta contentores, rodando o navio até ficar
de lado, paralelo ao cais do terminal de contentores. É desconcertante a facilidade
da operação de “arrumar” o gigante Zoe à plataforma do Terminal XXI, em frente
às enormes gruas que mantinham erguidos os longos braços com os quais retiravam
e colocavam contentores nas 23 filas alinhadas no deck exterior.
Em terra já estava tudo
pronto para dar início a uma operação cronometrada que iria operar 3000 TEUs no
Zoe. “Será tudo muito rápido, porque o Zoe tem de estar o mínimo tempo possível
em Sines para seguir viagem para Tanger Med”, explica o responsável da MSC
Portugal.
Para Carlos Vasconcelos, a
entrada do MSC Zoe em Sines é um marco na operação de contentores do Terminal
XXI, pois a partir de agora estão reunidas todas as condições para a atividade
disparar. “O crescimento desta operação vai ser considerável nos próximos anos,
muito mais rápido do que tem sido nos últimos anos, razão pela qual é
fundamental começar a pensar no desenvolvimento da operação de contentores de
Sines”, refere.
Além do mercado
internacional ficar a saber que um gigante como o MSC Zoe entra e sai de Sines
com a maior das facilidades - o que contribuirá para atrair o número de grandes
porta contentores que rumam ao porto alentejano, incluindo os do armador
dinamarquês Maersk -, é relevante saber que a MSC ganhou recentemente a
privatização da CP Carga, e que pretende transformar o operador ferroviário
português de mercadorias no líder ibérico deste sector. A MSC tem operações de
contentores de grande dimensão em Barcelona e Valência, e tem um projeto de
ligação destes portos e do porto de Sines à zona logística de Madrid, onde se
localiza o maior centro de consumo do mercado ibérico.
Ambos são veteranos do
transporte marítimo. Miguel de Castro não é um piloto qualquer. É
vice-presidente da Associação Europeia de Pilotos Marítimos. E Pica Domenico tem
36 anos de profissão, 26 dos quais como “capitão”. Miguel Castro diz que como é
a primeira vez que o Zoe entra em Sines, justifica-se o aparato de ser apoiado
por três rebocadores. Numa situação recorrente, dois chegariam.
Da sala de comando vê-se
todo o porto de Sines, todos os navios que estão nas redondezas e os
rebocadores parecem miniaturas, lá em baixo. Para o lado da proa, a área de
transporte de contentores é inferior à área que fica para a popa, que, lá de
cima, mais parece um campo de futebol cheio de peças de lego. Do topo do navio,
por cima da sala de comando, onde rodam os radares, o mar circundante quase
parece mais redondo.
Com um intercomunicador na
mão, Pica Domenico passou para fora da sala e foi até ao fim da extensão
exterior esquerda da torre de comando. No fim desse “braço”, abriu uma consola
que, vista de longe, mais parecia um enorme grelhador para churrascos. Assim
que o Zoe passou o molhe exterior do porto de Sines, soou várias vezes a buzina
- que deve ter sido ouvida em todo o porto e provavelmente também no centro de
Sines. “Comandamos toda a operação final deste extremo lateral exterior da
torre de comando”, explicou o primeiro oficial do Zoe.
Os rebocadores começaram o
seu trabalho de tração lateral do porta contentores, rodando o navio até ficar
de lado, paralelo ao cais do terminal de contentores. É desconcertante a
facilidade da operação de “arrumar” o gigante Zoe à plataforma do Terminal XXI,
em frente às enormes gruas que mantinham erguidos os longos braços com os quais
retiravam e colocavam contentores nas 23 filas alinhadas no deck exterior.
Em terra já estava tudo
pronto para dar início a uma operação cronometrada que iria operar 3000 TEUs no
Zoe. “Será tudo muito rápido, porque o Zoe tem de estar o mínimo tempo possível
em Sines para seguir viagem para Tanger Med”, explica o responsável da MSC
Portugal.
Para Carlos Vasconcelos, a
entrada do MSC Zoe em Sines é um marco na operação de contentores do Terminal
XXI, pois a partir de agora estão reunidas todas as condições para a atividade
disparar. “O crescimento desta operação vai ser considerável nos próximos anos,
muito mais rápido do que tem sido nos últimos anos, razão pela qual é
fundamental começar a pensar no desenvolvimento da operação de contentores de
Sines”, refere.
Além do mercado
internacional ficar a saber que um gigante como o MSC Zoe entra e sai de Sines
com a maior das facilidades - o que contribuirá para atrair o número de grandes
porta contentores que rumam ao porto alentejano, incluindo os do armador dinamarquês
Maersk -, é relevante saber que a MSC ganhou recentemente a privatização da CP
Carga, e que pretende transformar o operador ferroviário português de
mercadorias no líder ibérico deste sector. A MSC tem operações de contentores
de grande dimensão em Barcelona e Valência, e tem um projeto de ligação destes
portos e do porto de Sines à zona logística de Madrid, onde se localiza o maior
centro de consumo do mercado ibérico.
Pica Domenico, nascido em
Sorrento, na região da Campania, que pertence à província de Nápoles, diz que
já leva navios porta-contentores a Sines há cerca de oito anos, mas admite que
a entrada do MSC Zoe trará um salto qualitativo à atividade do porto alentejano.
“Agora que o Zoe está arramado ao cais, tudo será muito rápido”, comenta,
apertando a mão a Miguel de Castro pelo apoio dado a esta entrada inaugural em
Sines. “A seguir vamos para Tanger Med, para depois irmos para o canal do Suez,
rumo a Singapura, e seguirmos para os portos da China, em Xangai, Qingdao,
Ningbo e Hong Kong”, refere Domenico.
“São 75 dias de viagem no
total. O que não é nada comparado com o mar que tenho cruzado desde 1979.
Espero que tenham gostado. O Zoe é um bom navio”. João Palma-Ferreira – Portugal in
“Semanário Expresso”
MSC Zoe no Porto de Sines |
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