Adelto Gonçalves |
É o caso da insistência do
governo federal em manter no bairro da Ponta da Praia terminais que movimentam
grãos pelo Porto de Santos. Vivendo em bairro densamente povoado, os moradores
têm se queixado repetidamente de doenças respiratórias, tal a enorme quantidade
de pó que é lançada diariamente na atmosfera. A Prefeitura tem feito o que pode
para convencer as autoridades federais a transferir esses terminais para a área
continental do município, região pouco povoada, que poderia receber instalações
graneleiras modernas, mas todo o seu esforço tem sido vão.
A Prefeitura sugeriu que o
governo não prorrogasse os contratos das empresas que seriam encerrados em
2007. Houve até recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas a luta foi
infrutífera. A empresa que mais movimenta grãos no Porto conseguiu em dezembro
de 2014 a prorrogação de seu contrato por 20 anos. Como vivem distantes do
problema, as autoridades federais demonstraram total insensibilidade diante de
uma questão que afeta a saúde pública de uma cidade.
Segundo a Secretaria de
Assuntos Portuários do município de Santos, os equipamentos utilizados pelas
empresas graneleiras estão totalmente defasados e, na maioria, datam do começo
da década de 1970, época em que o País não dispunha de tecnologia para
construir moegas e esteiras para o transporte de milho e soja para os navios. O
que se conclui é que, se houvesse uma atuação firme dos órgãos encarregados da
fiscalização, essas empresas já teriam sido não só multadas como proibidas de
atuar, tal o descumprimento das normas reguladoras e protetoras do meio
ambiente. Segundo a Secretaria, as multas aplicadas já superaram a marca de R$
9 milhões, mas, ao que parece, não foram suficientes para alterar o quadro.
O problema, porém, não se
restringe à movimentação dos grãos pela esteira até o shiploader, o equipamento que suga a carga para o porão da
embarcação, mas permite que considerável quantidade de pó seja lançado ao ar.
Também caminhões – nem sempre adaptados com caçambas apropriadas – costumam
despejar nas ruas e avenidas portuárias uma grande quantidade de granéis.
Não é preciso dizer que
esses grãos servem como alimento para ratos, pombos e morcegos que costumam
transmitir doenças ao ser humano. Portanto, se houvesse maior sensibilidade por
parte das autoridades de Brasília, a área de movimentação de grãos da Ponta da
Praia já teria sido transferida para a região continental de Santos. Adelto Gonçalves - Brasil
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Adelto Gonçalves, jornalista
especializado em comércio exterior, é doutor em Letras pela Universidade de São
Paulo (USP) e autor de Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo
Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail:
marilizadelto@uol.com.br
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