O navio MSC Zoe, um dos maiores porta-contêineres do mundo, atracou, em
agosto de 2015, pela primeira vez no porto de Sines, o único em Portugal que
tinha capacidade para recebê-lo, seguindo com destino ao Extremo Oriente, em
viagem que tivera início em Hamburgo, com passagem por Antuérpia, marcando a
abertura do serviço do armador suíço entre a Ásia e o Norte da Europa.
Com 395,4 metros de
comprimento e capacidade para 19.220 TEUs (unidade equivalente a um contêiner
de 20 pés), este é o terceiro navio da MSC a navegar pelo Hemisfério Norte,
dentro de uma programação que prevê a construção de 20 supercargueiros. É de se
lembrar que, na Europa, além de Sines, outros portos, como Hamburgo, Antuérpia,
Algeciras, no Sul da Espanha, Maasvlakte 2, na Holanda, e London Gateway,
dispõem de infraestrutura portuária para receber porta-contêineres com estas
dimensões. Até aqui, o maior porta-contêineres que havia atracado em Sines
tinha capacidade para 14 mil TEUs.
Como se sabe, não há a menor
possibilidade de que, um dia, esse navio venha a atracar no porto de Santos, a
não ser que seja construído um terminal off
shore. O maior navio que já atracou em Santos foi o CMA CGM Tigris, com 300 metros de comprimento e capacidade para
10.622 TEUs, o que se deu em fevereiro de 2015.
Parece claro que essa é uma
tendência irreversível, pois os custos do frete têm sistematicamente diminuído
nos últimos anos em razão da economia de escala que os meganavios oferecem.
Diante disso, Santos corre o risco de perder em breve alguns dos seus serviços
regulares, se não houver a construção de uma infraestrutura moderna compatível
para aceitar a atracação de maiores porta-contêineres.
Isso significa que a quase totalidade
de sua atual infraestrutura pode ficar ociosa, diante da impossibilidade de
receber embarcações com dimensões superiores a 336 metros de extensão, seu
limite atual, mas que depende das condições da maré. Com um movimento de 3,6
milhões TEUs em 2014, Santos é o porto sul-americano que ocupa hoje a posição
mais elevada no ranking de
movimentação de carga.
O porto de Vitória-ES é o que
oferece melhores condições geográficas para se adaptar aos novos tempos. Mas,
por questões geopolíticas, o governo brasileiro havia optado por investir
recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na
construção do porto de Rocha, no Uruguai, que, com 60 pés de profundidade,
estará apto a receber meganavios da Ásia e da África.
De acordo com o projeto, o
porto de Rocha deverá movimentar 80 milhões de toneladas por ano, mas sabe-se
que o Uruguai não tem condições de sozinho receber ou exportar cargas que
justifiquem esse número. Oferecendo maior calado e menos burocracia, Rocha
haveria de atrair contêineres e granéis que normalmente seguiriam para os
portos de Buenos Aires, Rio Grande-RS, Imbituba-SC, Paranaguá-PR e,
principalmente, Santos. Se vai sair do papel, é o que não se sabe. Até porque o
novo governo uruguaio já anunciou que esse projeto não está entre suas
prioridades. Adelto Gonçalves - Brasil
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Adelto Gonçalves, jornalista
especializado em comércio exterior, é doutor em Letras pela Universidade de São
Paulo (USP) e autor de Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo
Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail:
marilizadelto@uol.com.br
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