SÃO PAULO – Se deter 1,41% de tudo o
que se vende no planeta, marca alcançada em 2011 e a melhor em meio século, já
não era uma posição muito confortável para o Brasil, levando-se em conta o seu
tamanho, população e Produto Interno Bruto (PIB), humilhante é a queda que se
vem registrando nos últimos anos em sua participação nas exportações mundiais. Segundo a Associação de Comércio Exterior do
Brasil (AEB), em 2014 essa participação caiu para 1,21%, marca igual à de 2008,
e em 2015 deverá atingir 1,14%.
Nesse ritmo, fatalmente, antes do
final da década, essa porcentagem estará perto de 0,8%. Essa é uma previsão,
que assume ares de catástrofe, e faz-se porque as cotações mundiais de commodities, que até aqui vinham
sustentando o superávit na corrente de comércio (importações/exportações),
estão em baixa, devendo registrar uma queda de 10,2% na receita de exportação,
segundo previsão da AEB. Isso se dá porque há uma oferta em nível superior à
demanda internacional de produtos como minério de ferro, soja e petróleo. No
caso de petróleo bruto e óleos combustíveis, a queda deverá ser compensada pela
elevação da quantidade exportada. Mesmo assim, a previsão é que as commodities venham a apresentar uma
redução de 10,2% na receita de exportação.
Já os manufaturados vêm em queda livre
desde 2008, o que é uma demonstração inequívoca do fracasso da política de
comércio exterior adotada pelo País nos últimos 12 anos. Embora a taxa cambial
média prevista de R$ 2,75 possa proporcionar alguma competitividade a alguns
segmentos, a perspectiva não é otimista, principalmente em razão da situação
instável do principal mercado de destino, a Argentina, e de outros países
sul-americanos.
Esses países enfrentam também
problemas com a queda nas cotações de suas commodities
e devem ter menor poder de compra. Para piorar, Venezuela e Rússia, nações que
têm proporcionado superávits comerciais ao Brasil, passam por situação
econômica difícil, o que poderá produzir efeitos negativos nas vendas de produtos
manufaturados para esses mercados.
Aliás, a regressão das exportações de
manufaturados tirou o Brasil de mercados importantes como Estados Unidos e
União Europeia e, mesmo que haja uma reativação das vendas de produtos acabados
por meio de benefícios fiscais e fundo de financiamento de exportações, haverá
necessariamente uma demanda de tempo para reconquistar espaços que já foram
ocupados por fornecedores de outros países.
O que se espera é que haja por parte
do novo governo uma conscientização das dificuldades que se avizinham e que
tenha coragem para executar as reformas há tanto tempo preconizadas nas áreas
tributária e trabalhista, ao lado de medidas que possam acelerar a
desburocratização aduaneira. Sem deixar de investir em obras de infraestrutura
que possam reduzir os custos logísticos, o que inclui maior participação na
matriz de transporte dos modais ferroviário e hidroviário e da cabotagem. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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