SÃO PAULO – Os números de 2014
continuam a mostrar o fraco desempenho do comércio exterior brasileiro,
resultado de uma política industrial adotada nos últimos 12 anos que precisa
ser revista urgentemente. Caso contrário, o País corre o risco de entrar numa
situação irreversível de degeneração econômica, que pode trazer consequências
sociais imprevisíveis.
A título de exemplo, pode-se lembrar
que, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações de
automóveis recuaram 41,8% em comparação com 2013. Houve uma queda de 15,3% na
produção e de 7,1% nas vendas, ainda que o governo tenha contemplado o setor
com uma redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Como o
mercado interno não apresenta a capacidade de absorção de outros anos e a
Argentina passa por uma situação crítica, as perspectivas não são animadoras.
Resultado: a indústria automotiva está com uma capacidade de produção superior
à demanda que os mercados interno e externo podem oferecer.
No setor de máquinas agrícolas, o
panorama não é diferente. De acordo com a Associação Nacional de Fabricantes de
Veículos Automotores (Anfavea), em 2014, o mercado doméstico absorveu 68,5 mil
unidades, o que representou uma queda de 17,4% em relação a 2013. A entidade atribui a
retração ao fato de o governo ter restringido as regras da Agência Especial de
Financiamento Industrial (Finame), subsidiária do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para a compra de máquinas agrícolas
pelas pequenas e médias empresas. Além disso, a crise argentina contribuiu para
a queda nas exportações: 13,4 mil unidades vendidas em 2014 contra 15,6 mil em
2013, um recuo de 12,2%.
Essa falta de apoio às pequenas e
médias empresas também se reflete nas exportações de uma forma geral. Dados do
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostram que as pequenas
exportadoras representam apenas 1% do volume exportado, embora em número
cheguem a 62% do total. Essa participação só poderá aumentar se houver maiores
facilidades de acesso às linhas de crédito, além de uma redução das garantias
exigidas pelos bancos para financiamento.
Numa demonstração clara de
reconhecimento dos males provocados pela cegueira ideológica que caracterizou
os últimos três governos, a presidente Dilma Rousseff já acertou uma visita a
Washington em 2015 com o objetivo de “reabrir” o maior mercado do planeta aos
produtos brasileiros. Isso poderá beneficiar especialmente o segmento de manufaturados
menos sofisticados, que vêm exportando cada vez mais. É de lembrar que, em
2014, os Estados Unidos passaram a ocupar, pela primeira vez, desde 2009, o
lugar de principal destino das exportações brasileiras de manufaturados.
Já os manufaturados com maior valor
agregado têm dificuldades para encontrar mercado, principalmente em razão de sua
falta de competitividade, como reconheceu o novo ministro do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, ao lembrar que em 30 anos a
participação da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB) caiu
de 25% para 14%. Talvez para não causar constrangimentos, evitou fazer a mesma
avaliação em relação aos últimos 12 anos. Milton
Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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