SÃO PAULO – Em 2009, para justificar a
adesão à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) da Guiné Equatorial,
país africano governado desde 1979 por partido único e por um mesmo dirigente
autoritário e onde poucas pessoas falam o Português, uma alta autoridade do
governo brasileiro da época saiu-se com esta: “Negócios são negócios”. Essa
estratégia política, ao que parece, não foi seguida em relação aos Estados Unidos,
o maior mercado do planeta, pois houve nos últimos governos um propósito
deliberado de procurar um distanciamento com aquela nação, a pretexto de
diminuir uma possível dependência comercial e política.
Ao que parece, o atual governo já
deixou para trás esse tipo de doença infantil e tem procurado se reaproximar de
Washington. E, não fosse o episódio de julho de 2013, quando veio à tona o
escândalo sobre a espionagem de
cidadãos e empresas brasileiras pela Agência de Segurança Nacional dos Estados
Unidos (NSA, na sigla em inglês), que levou a
presidente brasileira a cancelar uma visita àquela nação, as negociações
estariam bem mais adiantadas.
Seja como for, o resultado daquela
desastrada estratégia pode ser conferido nos últimos dados sobre a corrente de
comércio (importações/exportações) entre os dois países divulgados pelo
Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), ainda que
se deva levar em conta também os efeitos da crise financeira global que se
registrou a partir de 2008.
Na área de exportações, em 2014, o
Brasil vendeu mercadorias para os Estados Unidos no montante de US$ 27 bilhões,
o que representou um crescimento de 9,63% em relação a 2013 (US$ 24,6 bilhões),
praticamente igualando a melhor marca até agora, obtida em 2008 (US$ 27,4
bilhões). Em 2009, esse valor caiu para US$ 15,6 bilhões, mas, desde então, foi
registrada uma recuperação contínua. É de se ressaltar que, do montante de
2014, US$ 19 bilhões foram resultado da venda de produtos semimanufaturados e
manufaturados, enquanto US$ 6,3 bilhões, de produtos básicos. Ou seja, isso
mostra que o mercado norte-americano é extremamente importante para a
sobrevivência da indústria brasileira, especialmente a paulista, porque absorve
mais produtos de maior valor agregado.
Na área de importações, em 2014, o
Brasil comprou US$ 34,9 bilhões em mercadorias, o que representou uma queda de
2,83% em relação a 2013 (US$ 36 bilhões), mas manteve a marca acima de US$ 30
bilhões que se registra desde 2011. Em 2008, época do início da crise global, o
montante foi de US$ 25,6 bilhões, tendo caído para US$ 20 bilhões em 2009,
recuperando-se em 2010 (US$ 27 bilhões).
O que se constata também é que o
Brasil desde 2009 importa mais do que exporta para os Estados Unidos. Eis os
números: em 2014, o déficit do Brasil foi de US$ 7,9 bilhões; em 2013, de US$
11,4 bilhões; em 2012, de US$ 5,6 bilhões; em 2011, de US$ 8,1 bilhões; em
2010, de US$ 7,7 bilhões; e em 2009, de US$ 4,4 bilhões. Em outras palavras: o
Brasil segue numa direção contrária à da maioria dos países, já que o mercado
norte-americano é majoritariamente importador. É como se o Brasil fosse o país
desenvolvido e os Estados Unidos a nação em desenvolvimento.
Como se vê, algo está errado na
estratégia comercial brasileira. E o novo governo precisa revê-la urgentemente.
Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação
Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC).
E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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