Brasil
fecha ano com deficit comercial pela primeira vez desde 2000
O Brasil fechou 2014 com um
deficit comercial de US$ 3,93 bilhões. Esta é a primeira vez, desde 2000, em
que o país encerra o ano com o resultado das importações superando o das
exportações.
No acumulado do ano, as
exportações somaram US$ 225,1 bilhões, enquanto as importações chegaram a US$
229 bilhões.
Os números foram divulgados
ontem, segunda-feira, 5 de janeiro de 2015, pelo Mdic (Ministério do Desenvolvimento)
e são os piores desde 1998, quando o deficit no ano foi de US$ 6,6 bilhões.
O governo vinha adiando ao
máximo admitir a possibilidade de deficit na balança comercial brasileira.
Até início de novembro do
ano passado, mesmo com acúmulo de resultados negativos bilionários nas contas,
o governo ainda insistia na possibilidade de terminar 2014 com saldo positivo.
Apenas ao consolidar os
resultados do mês de novembro, quando foi registrado deficit de US$ 2,4
bilhões, o governo se viu forçado a revisar suas expectativas –o resultado foi
o pior para meses de novembro dos últimos vinte anos, segundo indica a série
histórica divulgada pelo ministério.
JUSTIFICATIVAS
Dentre as justificativas
apontadas pela pasta para o mau desempenho da balança comercial está a retração
nas vendas de manufaturados brasileiros (-13,7% frente a 2013),
semimanufaturados (4,8% também em comparação com 2013) e de produtos básicos
(-3,1% diante dos resultados de 2013).
Na lista de manufaturados
são considerados, por exemplo, automóveis, plataformas de petróleo, açúcar
refinado, autopeças, motores para veículos, aviões. Todos esses produtos
fecharam o ano com índices negativos nas exportações.
Para semimanufaturados
considera-se, por exemplo, a exportação de alumínio, óleo de soja bruto, cobre,
ouro e ferro fundido, também com resultado inferior ao observado em 2013.
Da mesma forma, em produtos
básicos entram produtos como milho em grãos, fumo em folhas e carne de frango,
todos com redução nas exportações.
DEZEMBRO
Já as transações comerciais
em dezembro apresentaram saldo comercial positivo. No mês foi registrado um
superavit de US$ 293 milhões.
No período, as exportações
atingiram US$ 17,49 bilhões –retração de 19,9% frente ao resultado de 2013.
As importações totalizaram
US$ 17,19 bilhões, uma queda de 9,8% também em comparação com mesmo período de
2013.
CRISE
Os Estados Unidos passaram a
ocupar, pela primeira vez, desde 2009, o lugar de principal destino das
exportações brasileiras de manufaturados.
O país foi responsável por
comprar o equivalente a US$ 13,17 bilhões desse tipo de produto brasileiro.
A Argentina, que liderava
este ranking ao longo dos últimos anos, fechou 2014 em segundo lugar,
absorvendo US$ 12,8 bilhões das nossas exportações de manufaturados.
De acordo com o secretário
do Comércio Exterior do Mdic, Daniel Marteleto Godinho, o comércio com a
Argentina foi afetado "duramente" pela recessão no país, com retração
de US$ 5,3 bilhões no resultado das exportações, o que equivale a uma redução
de 27% frente aos resultados de 2013.
"Em um cenário de queda
na renda, os produtos que mais têm seu consumo diminuído são os manufaturados.
Exatamente os principais produtos da pauta brasileira de exportação para
Argentina", explicou.
PROJEÇÕES
Apesar do resultado negativo
em 2014, as projeções para 2015 feitas pelo governo são positivas.
Godinho evitou anunciar o
valor projetado para o resultado da balança comercial, mas afirmou que o
governo está trabalhando para que haja superavit nas contas.
Entre os fatores que podem
colaborar com um resultado melhor neste ano, Godinho listou uma possível redução
do deficit na contra petróleo (US$ 16,6 bilhões em 2014), atrelado a um efeito
combinado da queda dos preços internacionais com aumento da produção
brasileira; o crescimento da economia americana em 2015; uma expectativa de
câmbio mais favorável às exportações; aumento produção de minério de ferro,
principalmente pela Vale; crescimento de 4% da safra brasileira de grãos –que
pode romper pela primeira vez a barreira dos 200 milhões de toneladas, com
ajuda do crescimento da produção de soja, estimado em 11%.
Já na lista de desafios que
devem ser enfrentados neste ano está, por exemplo, a queda dos preços das
commodities no mercado internacional, afetando a soja, milho e a venda de
minério de ferro –o motivo seria um aumento da produção mundial–; as incertezas
na economia internacional, já que, segundo avaliações do governo brasileiro, a
recuperação econômica da União Européia "não empolga", estando
estimada para crescimento de 1,3% no ano, frente o registrado crescimento de
0,8,% em 2014; a provável manutenção de um cenário de recessão na Argentina; a
queda da economia Russa e o menor crescimento esperado para a economia chinesa.
Júlia Borba – Brasil in "Folha de S. Paulo"
Sem comentários:
Enviar um comentário