A reabertura do caminho-de-ferro de Benguela,
em 2014, ficará como obra emblemática da China em Angola, mas também como
símbolo de um ano em que a relação entre aquele país asiático e os países de
língua portuguesa continuou a ganhar velocidade.
Os laços chineses com Angola, Moçambique ou
Cabo Verde passam por Macau e por Portugal, que em 2014 viu elevar a 10 mil
milhões de euros o investimento chinês no país, com vários novos negócios em
perspectiva para 2015, agora no sector financeiro.
No caso concreto de Moçambique, o mais
marcante em 2014 foi o primeiro veículo saído da linha de produção da Matchedje
Motor, a primeira empresa de montagem de automóveis de Moçambique, um
investimento da empresa China Tong Jian Investment Co., Ltd.
O ano prestes a iniciar deverá trazer
novidades no reforço da posição chinesa na produção de gás natural em
Moçambique, tendo um dos cinco primeiros contratos de fornecimento a longo
prazo sido fechado com a China National Offshore Oil Corp, de acordo com a
Reuters.
O interesse de petrolíferas chinesas no gás
natural de Moçambique tinha já resultado na compra pela Sinopec à petrolífera
italiana Eni de uma participação de 20% na Área 4, vizinha da explorada pela
Anadarko Petroleum, por 4,2 mil milhões de dólares.
Em Portugal, no início, as empresas chinesas
investiram na energia – EDP – Energias de Portugal, activos da EDP Renováveis e
Redes Energéticas Nacionais – mas em 2014 o foco foram os serviços – a maior
seguradora portuguesa, a Fidelidade, por 1635 milhões de euros, e, através
desta, a Espírito Santo Saúde (agora Luz Saúde), por 478,5 milhões de euros.
Agora, as atenções estão concentradas no
sector financeiro: o BES Investimento (BESI) foi comprado pelo banco de
investimento Haitong e o Novo Banco, a instituição financeira que ficou com os
activos “sãos” do Banco Espírito Santo, deverá receber uma proposta de compra
por 3500 milhões de euros da Fosun International, diz a Imprensa portuguesa.
A China Three Gorges, que deu o “tiro de
partida” investindo 5,7 mil milhões de euros na EDP, começa a ter os frutos da
parceria: investimentos conjuntos a iniciarem-se em África e América Latina, em
particular barragens no Brasil e Peru.
Mas também a nível “micro” Portugal vai
beneficiando do investimento chinês: de acordo com a Imprensa, a concessão de
vistos dourados a cidadãos representou em encaixe de 900 milhões de euros para
o imobiliário, sobretudo de luxo.
Em Angola, os tempos são de contenção
orçamental devido à queda do preço do petróleo, e o ano que agora começa será
de dificuldades.
Certamente amenizando-as, o Banco de
Desenvolvimento da China vai conceder um empréstimo de 2 mil milhões de dólares
à Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola, podendo seguir-se outros
“financiamentos de longo prazo”, atendendo aos planos futuros da petrolífera,
que incluem a construção da refinaria do Lobito.
Desde 2002, o total de financiamento
concedido pela China a Angola ronda 14,5 mil milhões de dólares, segundo
cálculos da Reuters.
Entre os projectos empresariais, destaque
para o da empresa estatal chinesa CITIC Construction Co. que vai investir 5 mil
milhões de dólares em 2015 numa exploração agrícola em Angola, para produção de
milho, soja e trigo.
Emblemática do ano foi a conclusão das obras
de reconstrução dos 1344 quilómetros do caminho-de-ferro de Benguela, ao fim de
10 anos, que segundo a Economist Intelligence Unit vai ter um efeito
multiplicador na economia, através do estímulo a sectores como a extracção de
diamantes e agrícola no centro do país.
Em Cabo Verde, 2014 fica como o ano da
inauguração do Estádio Nacional, a maior infra-estrutura desportiva do
arquipélago que foi financiada pela China, enquanto na vizinha Guiné-Bissau foi
lançada a primeira pedra do futuro Palácio da Justiça.
Até a relação de Pequim com São Tomé e
Príncipe se tornou menos distante no ano que agora termina, com a visita de
Manuel Pinto da Costa, a primeira de um presidente são-tomense à China em quase
vinte anos, ainda que a título privado.
Quanto ao Brasil, o ano foi de visita de
Estado do presidente chinês, Xi Jinping, que foi desbloquear dois dos
principais problemas brasileiros no mercado chinês: o embargo da carne
brasileira e a produção de aviões pela Embraer.
Também em 2014, o Fundo de Cooperação e Desenvolvimento
China-Países de Língua Portuguesa aprovou dois projectos: um em Angola, ligado
à iluminação pública através de energia solar, e outro em Moçambique, no sector
agrícola, numa altura em que estão em análise 50 projectos do Brasil,
Guiné-Bissau, Timor-Leste, Moçambique e Angola.
O ano terminou com a visita a Macau do
Presidente da China, Xi Jinping que aproveitou a deslocação para lembrar as
oportunidades trazidas pelas reformas na China, para transformar Macau num
centro mundial de turismo e lazer e numa plataforma de serviços na cooperação
económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa. – Macauhub - Moçambique
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