SÃO PAULO – Ainda que se queira evitar qualquer sintoma
de sinistrose, a verdade é que para 2015 está armado um cenário de estagnação
para o comércio exterior, que nada deverá contribuir para a expansão da
economia brasileira. Segundo dados da Associação de Comércio Exterior do Brasil
(AEB), a expectativa é que as exportações atinjam US$ 215,3 bilhões, o que
significará uma queda de 4,3% em relação aos US$ 225 bilhões de 2014. Já para
as importações o que se prevê é um montante de US$ 207,2 bilhões, o que
representará uma queda de 9,8% em relação aos US$ 229,6 bilhões alcançados em
2014.
Se a Pangloss, o eterno otimista
imaginado por Voltaire (1694-1778), fosse dada a oportunidade de analisar estas
projeções, com certeza, ele trataria de comemorá-los, pois, em números
absolutos, significam que, em 2015, haverá um superávit na balança comercial de
US$ 8,1 bilhões, o que permitirá reverter o déficit de US$ 4,5 bilhões
registrado em 2014. Mas esta é apenas uma meia verdade, ou seja, uma afirmação que
não é falsa, mas na qual se oculta alguma informação. Afinal, o superávit será
alcançado não pelo aumento das exportações, mas por uma forte queda nas
importações. E, principalmente, por uma redução na corrente de comércio
(exportações/importações), o que significa queda na atividade econômica.
Pior: o superávit só será
alcançado se a China continuar com crescimento econômico elevado, o que
significa que as cotações das matérias-primas (commodities) serão mantidas em patamar elevado. Dessa maneira, será
possível manter o superávit e, de certo modo, “esconder” os problemas cruciais
que afligem o País, que passam pela destruição do seu parque industrial na
medida em que não se consegue deter a perda de competitividade dos produtos
manufaturados, que se iniciou em 2007.
Essa perda de
competitividade tem se refletido no fechamento de mercados importantes para o
manufaturado brasileiro, como os Estados Unidos, o maior importador do planeta,
e a União Europeia. Sem contar que o principal destino dos manufaturados
brasileiros, a Argentina, enfrenta muita instabilidade, a exemplo de outros
países latino-americanos e africanos, que passam a ter menor poder de
importação na medida em que suas commodities
registram queda nas cotações mundiais. É o caso da Venezuela, que vinha
proporcionando superávits comerciais ao Brasil. A esse grupo deve-se juntar a
Rússia, país com o qual o Brasil mantém superávit comercial, mas que poderá
reduzir suas compras.
O que fazer? Se quiser reverter esse
quadro, o novo governo precisa se valer do relativo cacife que as urnas lhe
deram para realizar as reformas estruturais tão reclamadas nas áreas tributária
e trabalhista, além de investir com maior vigor na infraestrutura para baixar
os custos logísticos e procurar reduzir a burocracia. Só assim os produtos
manufaturados voltarão se tornar competitivos, sem ficar na dependência de uma
taxa de câmbio que, na verdade, só tem favorecido alguns segmentos. Caso
contrário, o Brasil corre o risco de se tornar apenas um fornecedor de
matérias-primas. Mauro Dias – Brasil
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Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é
vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor
de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br
Site: www.fiorde.com.br
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