Os milhares de angolanos que entraram ilegalmente na Namíbia para fugir à fome e ao desemprego, nas últimas semanas, poderão ser repatriados em breve através de um mecanismo que está a ser preparado pelo Governo de Luanda em colaboração com as autoridades namibianas
O
governador de Omusati, na Namíbia, que faz fronteira com Angola, avançou que
pelo menos 7000 angolanos que fugiram da fome e do desemprego devido à seca nas
províncias do sul, estão acampados em vários locais desta região, uma das que
acolheram mais cidadãos nacionais nestas condições nas últimas semanas.
Como
o Novo Jornal noticiou, ultimamente, devido ao acumular dos efeitos devastadores
da seca prolongada que afecta as províncias do sul de Angola, milhares de
angolanos, especialmente homens e mulheres, muitos com filhos pequenos,
passaram ilegalmente a fronteira para a Namíbia, onde procuram desesperadamente
comida e trabalho na agricultura, por vezes a troco de migalhas.
Erginus
Endjala, governador da região de Omusati, que lembra que os empregadores
namibianos estão impedidos de acolher angolanos porque a entrada destes no país
é ilegal devido às restrições geradas pelas medidas de controlo da pandemia da
Covid-19, ressalta que estão a decorrer conversações entre as autoridades dos
dois países de forma a encontrar soluções.
Na
semana passada, a embaixadora angolana na Namíbia, Jovelina Costa, deslocou-se
às regiões que fazem fronteira com Angola para analisar a situação com as
autoridades locais e recolher informação sobre o número e as necessidades dos
angolanos que passaram a fronteira nos últimos tempos.
Uma
das medidas em análise, segundo o governador de Omusati, citado pelo The
Namibian - a imprensa namibiana tem dado grande destaque a este assunto - é a abertura
das fronteiras para que os angolanos, desesperados pela fome e desemprego,
possam encontrar, legalmente, trabalho no país vizinho e, essencialmente, lhes
possa ser prestada assistência humanitária.
Erginus
Endjala disse mesmo que "não se pode virar as costas a pessoas que
procuram fugir da fome fechando-lhes as fronteiras", ao mesmo tempo que adiantava
que o Governo de Luanda está a preparar um sistema de transporte para repatriar
os cidadãos angolanos que se encontram na condição de imigrantes ilegais em
território namibiano.
O
responsável sublinhou que esse repatriamento só poderá suceder depois de as
autoridades angolanas terem criado condições mínimas para o efeito, incluindo a
garantia de alimentação para as pessoas que vão ser deslocadas.
Para
já, as duas regiões com mais concentração de angolanos que deixaram o seu País
para procurar comida e trabalho no país vizinho estão, na sua maior parte,
concentrados nas regiões de Omusati Ohangwena, para onde o Governo de Windhoek
enviou 500 sacos de milho e 2000 latas de peixe em conserva.
Endjala
notou que o Governo namibiano está a fazer "um grande esforço para ajudar
estas pessoas" apesar de também estar a lidar com "problemas sérios devido
à pandemia da Covid-19".
"Estamos
a ajudar com o pouco que temos", disse, ao mesmo tempo que lembrou que o
Governo de Luanda prometeu "enviar ajuda para garantir alimentos e abrigo
a estas pessoas".
E
observou que os angolanos que estão nestas condições procuram essencialmente
trabalho como pastores ou empregados domésticos, mal remunerados, mas que isso
não deixa de obrigar os empregadores a pedir uma autorização legal para o
fazerem.
O
que significa que o consulado de Angola deve emitir um "cartão verde"
para cada cidadão que tiver conseguido um contrato de trabalho, de forma a evitar
acusações de tráfico ilegal de seres humanos e evitar que estes sejam
deportados.
Recorde-se
que a maior parte destas pessoas está a sobreviver há várias semanas da ajuda
de organizações humanitárias e de pessoas que podem ajudar com alimentos, roupas
e mesmo medicamentos.
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