A artista plástica portuguesa Cátia Esteves criou um lustre monumental para adornar a escadaria de honra da Câmara do 11.º bairro de Paris, num cruzamento entre o estilo neoclássico do edifício e a arte contemporânea que agradou aos habitantes
“Sinceramente,
não tive qualquer crítica. Para quem não conhecia antes o espaço, parece que a
obra esteve sempre ali. Cátia conseguiu colocar uma obra contemporânea num
local clássico e, ao mesmo tempo, criar algo que parece sempre ter ali estado”,
afirmou o presidente da Câmara do 11.º bairro, François Vauglin, em declarações
à agência Lusa.
Paris
está dividida em 20 bairros e o 11.º vai desde a Praça da Bastilha até à Praça
Republique, sendo um bairro boémio, com bastante vida noturna e onde vivem 150
mil pessoas. Todos os estes bairros são geridos localmente pelo equivalente de
uma junta de freguesia, e estão depois reunidos administrativamente na Câmara
Municipal de Paris.
O
edifício da Câmara do 11.º bairro data de 1865, e foi palco de algumas das
principais convulsões internas da capital, tendo mesmo servido de refúgio à
Comuna de Paris em maio de 1871.
François
Vauglin encontrou pela primeira vez uma obra de Cátia Esteves num festival de
artistas locais, que decorre nos jardins do 11.º bairro, e sentiu que aquela
seria a artista certa para adornar a escadaria monumental da Câmara.
“Vi
a obra dela no jardim Truillot, um jardim que construímos há três anos, e era
uma obra abstrata, relativamente pequena, em papel, eu disse-me que havia ali
alguma coisa e que ela poderia fazer uma obra especial para a nossa escada de
honra”, contou o responsável autárquico.
Cátia
Esteves instalou-se há sete anos em Paris. Após os estudos de Arquitetura, em
Lisboa, e um ano no Brasil, a portuguesa começou a trabalhar num ateliê de
arquitetura em Bruxelas, mas, à parte, começou a fazer algumas esculturas por
sentir necessidade de se expressar.
Uma
das suas obras mais conhecidas, a “Gota”, surgiu em 2014, trazendo-a até à
capital gaulesa. Nos seus trabalhos, a artista portuguesa utiliza matérias que
à primeira vista não dariam origem a peças de arte.
“Gosto
de transformar o que não tem valor para lhe dar uma segunda vida, especialmente
recursos naturais como o papel, e que eu depois formalizo e volto a dar um
corpo associado à natureza”, explicou a artista.
Papel,
cartão, esferovite e latão são os principais materiais utilizados por Cátia
Esteves, sempre associados à luz.
“A
luz é algo importante para mim, talvez devido à minha formação de arquiteta, a
luz permite-me intervir no espaço, ela consegue englobar a obra e todo um
contexto”, relatou.
E
luz era o que faltava na escadaria de honra desta Câmara onde os habitantes do
bairro passam para falar com o seu autarca, mas também para se casarem ou para
as cerimónias com mais pompa.
“Foi
um desafio incrível. O desenho da obra foi inspirado no lugar, é uma
arquitetura neoclássica, onde existe um espírito um pouco austero e que
responde a uma ordem de proporções, e a minha peça foi desenhada em função do
espaço”, explicou Cátia Esteves.
Foi
assim que nasceu a peça “Transition”, um lustre que pesa quase 200 quilogramas,
com 4,5 metros de altura e 2,78 metros de diâmetro. Uma estrutura onde vários
tubos de latão acabam por se dobrar de forma anti-gravitacional, com as pontas
cobertas de papel modelado.
Com
um custo total de 20 mil euros, a peça foi instalada no início de dezembro e
foi formalmente inaugurada há uma semana, com a presença do embaixador de
Portugal em França, Jorge Torres Pereira.
No
currículo, Cátia Esteves tem também uma presença na Noite Branca de 2020, uma
iniciativa anual que decorre em outubro, nas ruas de Paris. “Sweet Dreams”, a
instalação que nessa noite adornou uma das pontes junto a Notre Dame foi “uma
semente que se planta” e que “os resultados chegam com o tempo”, segundo a artista.
Cátia
Esteves está já a preparar a próxima exposição com a peça “Poesia”, patente na
Galerie des Gobelins a partir de abril.
Devido
às restrições sanitárias, num primeiro momento a exposição será virtual e,
possivelmente, receberá visitas em maio, dependendo da evolução da pandemia.
Já
para os autarcas parisienses, esta é a altura de dar visibilidade aos artistas,
atingidos pela pandemia e oportunidades culturais aos habitantes impedidos de
visitarem museus.
“Mesmo
ao nosso nível modesto de Câmara de bairro, temos muito a fazer. Nós estamos em
contacto com vários artistas para criar exposições ao ar livre, por exemplo,
nas vedações dos nossos jardins. E também adquirimos obras regularmente para
ajudar os artistas”, concluiu François Vauglin. In “Bom dia
Europa” - Luxemburgo
Sem comentários:
Enviar um comentário