O
presidente da Associação Comercial Internacional para os Mercados Lusófonos
disse que a nova lei de Macau sobre a medicina tradicional chinesa vai
intensificar a exportação destes produtos para países africanos de língua
portuguesa.
“A
informação que tenho é que há pelo menos 25 empresas que se chegaram à frente a
pedir emissão de alvarás para produção” de produtos associados à medicina
tradicional chinesa, cuja indústria representa anualmente um negócio de muitas
centenas milhões de euros, em especial no mercado asiático, adiantou Eduardo
Ambrósio, presidente da Associação Comercial Internacional para os Mercados
Lusófonos (ACIML).
O
objectivo é produzir e registar em Macau, para dar mais valor e confiança nos
países de expressão portuguesa”, explicou, acrescentando que a exportação
também deve abranger equipamentos médicos descartáveis, muitos dos quais “têm
sido comprados à Índia e são mais caros”.
Mercados
como Angola, Moçambique e Cabo Verde são considerados importantes e de grande
potencialidade, concretizou Eduardo Ambrósio. Esta aposta está em sintonia com
um dos mercados definidos como prioritários para a ACIML, o da Grande Baía, um
projeto de Pequim de criar uma metrópole mundial que integra Hong Kong, Macau e
nove cidades da província de Guangdong, com cerca de 70 milhões de habitantes e
um Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 1,2 mil milhões de euros, semelhante
ao PIB da Austrália, da Indonésia e do México, países que integram o G20.
No
início deste ano, o Governo de Macau defendeu que a cooperação entre o antigo
território administrado por Portugal e a cidade chinesa de Shenzhen deve
apostar na exploração dos mercados lusófonos, nomeadamente no desenvolvimento
da indústria da medicina tradicional chinesa. “Muitas empresas que pretendem
internacionalização” podem “aproveitar o papel de plataforma de Macau para
explorar os mercados dos países lusófonos”, defendeu o chefe do Governo num
ciclo de visitas a cidades da Grande Baía.
Ho
Iat Seng disse em Shenzhen “que Macau está empenhado em desenvolver a indústria
da medicina tradicional chinesa e que, no futuro, os medicamentos podem ser
registados em Macau e vendidos para a Grande Baía e gradualmente até às outras
regiões”.
A
proposta de lei, que está em fase final de discussão em Macau, visa regular “a
obrigatoriedade de obtenção de licenças para o fabrico, importação, exportação,
comércio por grosso e a retalho de medicamentos tradicionais chineses”, mas
também melhorar a segurança através do “regime de inscrição de medicamentos
tradicionais chineses”. “A proposta de lei estabelece o regime de inscrição de
medicamentos tradicionais chineses, de modo a reforçar a supervisão da
atividade farmacêutica de medicina tradicional chinesa, garantir ainda mais a
qualidade e a segurança dos medicamentos tradicionais chineses fabricados,
importados e circulados legalmente em Macau, aumentando a competitividade da
exportação de medicamentos tradicionais chineses fabricados em Macau”, explicou
o Governo, aquando da sua apresentação, em outubro do ano passado.
A
proposta de lei foi apresentada no mesmo dia em que foi divulgado o “Plano de
Construção da Área Importante de Medicina Tradicional Chinesa da Grande Baía
Guangdong-Hong Kong-Macau (2020-2025)”.
Após
a passagem da administração de Macau das mãos de Portugal para a China em 1999,
Pequim definiu que uma das prioridades do território passaria por servir de
plataforma cultural, comercial e económica sino-lusófona. Pequim acabou mesmo
por criar em Macau, em outubro de 2003, o Fórum para a Cooperação Económica e
Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, onde se encontram
representados os oito países de língua portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe).
Portugal pode aproveitar a tensão Pequim/Camberra para
exportar mais vinho para China
O
presidente da ACIML disse também que Portugal pode aproveitar a tensão política
e diplomática entre Pequim e Camberra para exportar mais vinho para a China.
“Portugal pode tornar-se num dos maiores fornecedores de vinho no mercado
chinês”, defendeu Eduardo Ambrósio, lembrando que a China tem imposto elevadas
taxas alfandegárias sobre o vinho australiano. Em resposta à tensão diplomática
entre os dois países, desde que a Austrália excluiu o grupo chinês de
telecomunicações Huawei do desenvolvimento da sua rede de quinta geração (5G),
por motivos de segurança nacional.
Principal
parceiro comercial da Austrália, a China não perdoou também o facto de Camberra
ter apelado a uma investigação internacional sobre as origens da pandemia de
covid-19, o que enfureceu Pequim, que considerou que o pedido tem segundas
intenções políticas.
Segundo
dados do Instituto da Vinha e do Vinho, as exportações de Portugal para a China
decresceram mais de um terço no último ano, quando comprado com os dados de
2019. No mercado chinês, para além da Austrália, Portugal concorre com os
vinhos espanhóis e italianos.
O
presidente da ACIML salientou ainda que a aposta empresarial de exportação para
o mercado chinês tem de se focar “em produtos de primeira qualidade”. E deu
exemplos, para além do vinho: o café produzido em boa parte dos países
lusófonos (com o Brasil à cabeça), a madeira e o algodão de Moçambique, o caju
da Guiné-Bissau.
A
água é outro dos exemplos, defendendo que se tem fracassado na promoção na
China. “Há que corrigir esse ‘gap’ [falha] e procurar entrar no mercado,
como conseguiu a França”, explicou. A associação, sediada em Macau, tem todas
as condições para conseguir fazer a ponte entre os diferentes mercados,
sustentou, já que os empresários “percebem os chineses, Macau e os países de
língua portuguesa, a cultura e os mercados”, sustentou.
Museu do café para tentar aposta na China
O
presidente da Associação Comercial Internacional para os Mercados Lusófonos
quer um museu lusófono do café em Macau que traduza a nova aposta empresarial
na exportação do produto para a China. A criação do museu depende “de um acordo
com o Governo de Macau”, com “o apoio do [empresário] Rui Nabeiro, da Delta”
Cafés, explicou Eduardo Ambrósio.
A
ideia do Museu do Café dos países de língua portuguesa passa por permitir a
residentes de Macau e turistas contacto com a produção e cultura do produto nos
países lusófonos, mas tem também um outro significado: traduzir “a aposta que
se quer fazer no mercado da China continental”, acrescentou. O líder da ACIML
lembrou que “o consumo do café está a crescer 20% em termos anuais”, com “os
jovens a beberem cada vez mais café e menos chá”.
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