Cada
vez é maior a presença de ‘soldados da paz’ portugueses e luso-americanos no
corpo de bombeiros de Newark, a primeira linha dos serviços de protecção civil
no maior centro urbano do estado de New Jersey.
De
acordo com John Ferreira, presidente da Portuguese-American Firefighter
Association (PAFA), criada em 2018, “para além dos 54 membros que neste momento
fazem parte da PAFA, devem existir outros 10 ou 15, colocando o número total de
bombeiros de origem portuguesa em Newark por volta dos 70.”
Há bombeiros a falar português um pouco por toda a
corporação
Muito
embora a grande concentração deva registar-se nos quatro quartéis localizados
no Bairro Leste, onde está o grosso da comunidade portuguesa, há bombeiros a
falar português um pouco por toda a corporação; os luso-americanos também estão
a subir na carreira, existindo já, de acordo com Ferreira, um chefe português
(Arthur Evaristo) e cerca de 7 capitães. “O nosso proximo objectivo é trazer
uma mulher de origem lusa para as nossas fileiras”, afirma o presidente da
PAFA, que já nasceu em Newark, com origens em Cantanhede e Murtosa, e está
afecto ao ‘Engine 15’, na zona norte da cidade.
A apagar fogos há 224 anos
Criado
há 224 anos, o Newark Fire Department (NFD) – ou Newark Fire Division, como
também é designado, conta nos dias de hoje com 600 bombeiros a tempo inteiro,
distribuídos por 16 quartéis; é a maior corporação do género em New Jersey,
cobrindo a área superior a 26 milhas quadradas que compreende Newark, cuja
população ronda os 300 mil habitantes.
Os
bombeiros são profissionais (ou voluntários) dedicados à protecção de vidas
humanas e bens em perigo, mediante a prevenção e extinção de incêndios, o
socorro de feridos, doentes ou náufragos e ainda a prestação de outros serviços
afins.
A
prova da pujança da presença lusa no NFD, é bem visível num dos quartéis da
corporação em North Newark. No ‘Ladder 6/Engine 13’, trabalham 5 bombeiros de
origem portuguesa – incluindo o capitão José Alves, de 56 anos. “Tornei-me
bombeiro em 1996 e, na altura, fui o quinto português a entrar para o NFD”,
diz, em entrevista ao jornal Luso-Americano.
Transmontano,
tinha perto de 10 anos quando emigrou para Newark, “onde vivo desde então e de
onde acho que nunca vou sair.” Depois de ter passado por várias zonas da
cidade, há 11 anos, ao subir a capitão, foi colocado no ‘Engine 13’, a orientar
o grupo de sapadores que avança com as mangueiras de água.
Falar
português “é uma mais-valia aqui em Newark”, reconhece o capitão, que diz ter
convencido os seus superiores a permitirem a colocação de pequenos autocolantes
da bandeira de Portugal nos capacetes. “Os estatutos dos bombeiros não permitem
a utilização de símbolos, mas fizemos ver à NFD que, ao nos identificarmos de
imediato como portugueses, chegamos mais depressa às pessoas no caso de um
incêndio”, explica. “É muito reconfortante para os moradores da cidade que
protegemos saberem que se podem comunicar na sua língua materna e a nós também
nos simplifica a tarefa.”
Anthony
Gomes, 34, está igualmente com o ‘Engine 13’; nasceu em Newark, filho de pais
minhotos, e sempre sonhou ser bombeiro. “Foi aqui que cresci e me tornei homem
e esta carreira permite-me ajudar a minha cidade e a minha gente”, diz.
Chegou
há 4 anos a ‘soldado da paz’, depois de ter feito os exames de admissão à
carreira e o treino de três meses na academia de formação. “Estive noutros
quartéis antes de ter sido aqui colocado”, nota Gomes, que passava em pequeno
os verões em Portugal com os avós e também fala o seu idioma.
Erasmo
Assunção, 43, pertence à ‘Ladder 6’ e é também natural de Newark – com raízes
na Murtosa. Tinha já 38 anos quando entrou para o NFD e actua com o grupo de
sapadores que, ao chegar a um edifício em chamas, cria condições para a
ventilação através do telhado e vai abrindo caminho às mangueiras de água.
“A
COVID não representou uma grande mudança de actuação para nós, porque, como
bombeiros, já estávamos habituados à utilização do equipamento de protecção
individual”, refere.
Bowie
Fonseca, 36, descobriu a profissão em 2014 e está afecto ao ‘Ladder 6’; nasceu
e cresceu no Ironbound, filho de pai aveirense e mãe lisboeta. “Sempre gostei
da combinação entre o trabalho manual e esta camaradagem que se sente entre
bombeiros”, diz. “É uma espécie de irmandade em que nos protegemos uns aos
outros. Aliás, quando temos mesmo de enfrentar um edifício em chamas, por
exemplo, em vez de fugir dele, tem de haver confiança entre nós.”
Assunção
também reconhece a imprevisibilidade do trabalho de sapador. “Seja num prédio a
arder ou num automóvel que capotou na auto-estrada, tudo pode acontecer”,
sublinha.
A diversidade como grandeza
A
contribuição dos portugueses para a protecção civil em Newark não passa ao lado
da alta cúpula do NFD. “O facto de termos no nosso seio elementos de vários
grupos étnicos e até etários, só contribui para a grandeza do nosso
departamento”, afirma o vice-chefe Richard Gail, responsável de operações,
falando ao jornal Luso-Americano. “É esta força multicultural que nos permite
quebrar o fosso entre o FDN e as comunidades que serve.” Henrique Mano – Estados
Unidos da América in “Jornal Luso-Americano”
Sem comentários:
Enviar um comentário