Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 30 de março de 2021

Japão – Fukushima 10 anos depois


O tempo parece ter parado há uma década nas cidades ao redor da danificada central nuclear japonesa de Fukushima. A maioria permanece quase deserta, apesar dos esforços das autoridades para descontaminar e revitalizar a área desde o desastre nuclear que foi desencadeado pelo grande terramoto e tsunami em 11 de Março de 2011.

Ruas recém pavimentadas, mas vazias, e novas estações de trem sem um único passageiro coexistem na área de acesso restrito, onde residências e empresas também permanecem abandonadas.

Traços do acidente que forçou a evacuação de mais de 160 mil pessoas e o fechamento de cidades inteiras devido à contaminação radioactiva ainda são visíveis nas áreas afectadas, onde o governo japonês investiu somas multimilionárias para tentar restaurar o senso de normalidade que ainda parece longe.

Coincidindo com o 10º aniversário do desastre, a prefeitura de Fukushima foi escolhida para sediar o início da maratona da tocha olímpica no Japão, que culminará com a abertura dos Jogos de Tóquio, programada para 23 de Julho.

A maratona está a passar por cidades no raio de 20 km ao redor da central Fukushima Daiichi, que foi evacuada após o acidente. Até há um ano, a maioria delas era designada como zonas de “difícil regresso” devido aos níveis excessivos de resíduos radioactivos que emanavam da planta.

Partes dessas cidades foram declaradas habitáveis ​​novamente pelas autoridades após árdua limpeza e descontaminação, e equipadas com novas infra-estruturas como centros cívicos, bibliotecas e estações ferroviárias com o objectivo de trazer a população de volta.

Mas o acesso à maioria dos municípios ainda é restrito devido à alta contaminação radioactiva. Cerca de 337 quilómetros quadrados ainda são designados como zonas de evacuação, mantendo mais de 36 mil pessoas deslocadas.

O embelezamento das zonas por onde está a passar a tocha incomoda algumas pessoas, como Yukiko Mihara porque sente que as autoridades e alguns moradores da área “querem fingir que as consequências da catástrofe não existem”.

Após o acidente, ela diz que sua família foi forçada a fechar um estabelecimento comercial em Namie e mudar-se para outra área do Japão, onde ainda residem.

Yasushi Niitsuma, dono de um restaurante na mesma cidade, que mal recuperou 10% de sua população de uma década atrás, diz: “Parece que eles querem trazer a rota da tocha para mostrar a reconstrução, mas a reconstrução nem sequer foi concluída.”

Numa escola abandonada em Namie que está prestes a ser demolida, os quadros negros das salas de aula ainda mostram a data, escrita a giz, que mudaria o destino desta região.

Futaba, uma cidade que abriga as instalações nucleares de Daiichi, tinha 7000 residentes, todos evacuados após o acidente, e nenhum deles conseguiu regressar.

Em frente à estação ferroviária, murais coloridos pintados por artistas japoneses – um deles com a mensagem “Lá vamos nós!” – aguarda visitantes.

No bairro, as casas são invadidas pela vegetação e cercadas por objectos do quotidiano, e roupas, calçados e outros bens cobertos de poeira podem ser vistos dentro de lojas com telhados e janelas quebradas.

De acordo com dados oficiais, só em 2019, o governo regional gastou 2,7 mil milhões de USD em novos projectos de infra-estrutura, recuperação económica e promoção de seus produtos para separá-los do estigma de contaminação nuclear.

Parte desse montante foi usada para reconstruir o trecho Tomioka-Namie da linha férrea Joban (que atravessa o nordeste do Japão), que foi reaberta em Março de 2020 após nove anos.

Durante uma visita à área, a Efe não conseguiu ver nenhum passageiro durante o trânsito do trem por essas estações, que exibem indicadores electrónicos do nível de radioactividade ambiental em sua entrada.

“Receio que após estes 10 anos, ainda virão tempos mais difíceis” diz Mihara, que acredita que “estão a ser ignorados os sentimentos” das pessoas que viviam na área afectada. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Agências Internacionais”


 

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