Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 27 de março de 2021

Galiza – Entrevista à historiadora Encarna Otero

Neste ano 2021 há 40 anos desde que o galego passou a ser considerada língua co-oficial na Galiza, passando a ter um status legal que lhe permitiria sair dos espaços informais e íntimos aos que fora relegada pola ditadura franquista. Para analisar este período, iremos realizar ao longo de todo o ano, umha série de entrevistas a diferentes agentes sociais para darem a sua avaliaçom a respeito do processo, e também abrir possíveis novas vias de intervençom para o futuro.

Desta volta entrevistamos a historiadora, mestra e política nacionalista Encarna Otero.

Qual foi a melhor iniciativa nestes quarenta anos para melhorar o status do galego?

Cuido que houvo muitas, mas destacam principalmente as que partirom da base social. Sobretudo no mundo do ensino, com iniciativas do próprio professorado para fazer do galego língua veicular e criar ferramentas, como livros, materiais de apoio, etc. Forom respostas ante as próprias necessidades.

E depois todas as campanhas de valorizaçom, como as de Queremos Galego. Também no mundo da justiça e da empresa houvo iniciativas de valorizaçom, com gente detrás como Joaquim Monteagudo ou Pepinho de Teis, que tenhem construído desde diferentes âmbitos. Também no cinema ou na cultura.

A nível institucional, figerom-se cousas durante o governo bipartito da Xunta, e a nível local com os serviços de Normalizaçom Linguística Municipais, nos Concelhos onde existem.

Quem fijo mui pouco ou quase nada forom as universidades: aí nom se normalizou o galego como idioma de investigaçom e de criaçom de conhecimento, estám todas elas mui por debaixo do que se tem feito a nível social, é umha vergonha.

Se pudesses recuar no tempo, que mudarias para que a situaçom na atualidade fosse melhor?

Eu focaria em três pilares: O primeiro, retomar a iniciativa de Carvalho Calero, e devolver o galego ao seu tronco comum, que é o português. Frente o triunfo do ILN de tornar a fala em norma, cumpre retomar propostas que contribuam e fortaleçam um idioma tam danado como o galego, e reintegrá-lo no mundo da lusofonia. Eu levo três anos estudando português na Escola de Idiomas, e o que descubro é que estudando português melhoro muitíssimo o meu galego.

Em segundo lugar, penso que cumpre aplicar a legislaçom e o reconhecimento legal do galego, tanto na Constituiçom Espanhola como no Estatuto de Autonomia e garantir o direito ao uso, tanto numha vertente interior, dentro do País, como exterior, dimensionando-o como língua que permite a comunicaçom com quatro continentes.

Cousa que nunca se fijo, através das instituiçons que teriam competências para isto, que som o governo galego e o parlamento da Galiza.

E terceiro, já que Galiza tem um problema de auto-ódio, cumprem campanhas positivas de seduçom e de valorizaçom. Propostas de carinho, de ternura, de autoestima, e de posicionamento no mundo. Fazendo finca-pé em que temos a sorte de que se fala em quatro continentes.

Que haveria que mudar a partir de agora para tentar minimizar e reverter a perda de falantes?

Cumpre normalizar o galego em todas as esferas da vida. E para isto cumprem campanhas de seduçom: olha que bem namoramos em galego, olha que bem compramos em galego, que bem se trabalha em galego, etc. Tenhem que ser campanhas sempre em positivo, e desbotar a ideia de que o idioma é um assunto do nacionalismo: O galego é o idioma do país, penses como pensares politicamente.

Há cousas que som pilares transversais, e o idioma é um deles. Se nós nom o defendemos quem o vai fazer?

Além disso, é necessário cumprir a lei Paz Andrade, que foi aprovada por unanimidade: E em todos os centros de educaçom secundária deveria ser obrigatório ter a opçom de estudar português, isto iria mudar muito a visom do idioma.

Achas que seria possível que a nossa língua tivesse duas normas oficiais, uma similar à atual e outra ligada com as suas variedades internacionais?

Eu aí tenho as minhas dúvidas, acho que o galego devera ter umha norma oficial que nom fosse o da ILG-RAG, mas umha ortografia que estivesse mais próxima da lusofonia. Também Moçambique ou Brasil tenhem as suas normas, mas dentro do tronco comum. Por umha questom de eficácia, seguiria de novo com Carvalho, a normativa do galego tem que estar vinculada ao seu tronco comum, que nom é o espanhol, é o mundo lusófono, as diferentes variantes do português.

Seria mui eficaz, até a nível económico, a nível cultural… relacionar-se com todo esse mundo falando no mesmo idioma. Entendo que o galego teria as suas próprias variantes, de vocabulário e traços que sempre há, mas a norma nom é o mesmo que a fala, seria melhor mudar a norma que atualmente temos.

Era preferível a norma dos 80, que permitia terminaçons em -zom, e que agora nom se está a usar. Isso seria recuperar inclusive o galego das Irmandades da Fala. O ILG fijo um trabalho enorme de recolher as variantes da fala, mas figerom um dano mui grande ao assumir que a fala era o que definiria a norma. Dizer isto nom é negar as variedades dialectais, já sabemos que em Ourense falam diferente que nas Rias Baixas, mas isto som variedades, umha riqueza por ser um idioma vivo.

Em aquela altura o que se fijo foi impor esta posiçom, e ademais dumha forma mui violenta e houvo muita confrontaçom. Hoje estamos noutra situaçom. Com o PP nom há nada que fazer, que até apoia a falácia de que o espanhol está em perigo em algum lugar da Galiza. Mas entre outros setores, as novas geraçons podem encontrar consensos e abrir um novo caminho, que permita que o idioma se reincorpore no seu tronco natural. E seduzir à gente sabendo que com o galego se vai a qualquer parte, de que o galego é útil, que se calhar umhas décadas atrás nom era possível. In “Portal Galego da Língua” - Galiza  

 

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