O
analista económico Aliu Soares Cassamá disse que é possível prever que a
Guiné-Bissau entre em incumprimento financeiro, tendo em conta o elevado nível
de dívida externa, que ronda os 80% do Produto Interno Bruto (PIB).
Para
Soares Cassamá, economista, a situação da Guiné-Bissau “tende a degradar-se” à
luz dos próprios critérios de convergência da União Económica e Monetária da
África Ocidental (UEMOA), que determina que nenhum país pode ter dívida pública
superior a 70% do seu PIB.
Quadro
sénior de um banco comercial em Bissau, o economista entende que “ou o país
inicia rapidamente a renegociação da sua dívida ou o seu perdão ou então corre
risco de vir a entrar em ‘default’ (incumprimento financeiro)”, observou.
Aliu
Soares Cassamá comentou a situação na Zâmbia, declarada pela agência de notação
financeira Standard & Poor’s como o primeiro país africano a entrar em
incumprimento financeiro devido à pandemia de covid-19.
O
economista explicou que um país entra em ‘default’ quando a sua dívida pública
dispara de forma exponencial ao mesmo tempo que tem as Finanças Públicas em
degradação acentuada.
No
caso da Guiné-Bissau, Aliu Soares Cassamá disse que o quadro existe, a que
acresce ainda, refere, uma flexibilidade “cada vez mais reduzida” de o país
conseguir financiamento externo, com a visível queda das receitas coletadas
internamente.
Aliu
Soares Cassamá apontou que neste momento a receita interna da Guiné-Bissau
“caiu em 50%” e que dessa colecta 76% são destinados para o pagamento de
salários aos servidores públicos e os restantes 24% “nem chegam para pagar
dívidas ou fazer investimentos”, frisou.
O
caminho para evitar o colapso, destacou Cassamá, seria produzir mais,
desenvolver o sector industrial, promover reformas no ensino e no quadro
fiscal, evitar “o endividamento irracional” e sair da dependência de uma
economia baseada sobretudo na castanha do caju, notou.
“A
Guiné-Bissau corre sérios riscos de entrar em incumprimento financeiro devido
ao elevado serviço de dívida e forte dependência das receitas da castanha do
caju”, observou o analista.
Em
resumo, disse Soares Cassamá, o quadro atual de dependência de toda a economia
guineense na castanha do caju caracteriza-se pelo baixo nível de crescimento e
uma acentuada instabilidade macroeconómica.
O
analista prevê também que a economia guineense “vai sofrer ainda mais”, dada a
sua fragilidade e exposição ao chamado choque externo, sobretudo quando, disse,
começar a aparecer o verdadeiro impacto provocado pela covid-19.
Até
porque, sublinhou Aliu Soares Cassamá, os principais credores do país “vão
estar à espera”.
Soares
Cassamá explicou que os credores a que se refere são Banco Mundial, Fundo
Monetário Internacional, Banco de Desenvolvimento da África Ocidental, Banco
Africano de Desenvolvimento e União Económica e Monetária da África Ocidental.
O
Ministério das Finanças da Guiné-Bissau está a tentar estabelecer um novo
programa com o Fundo Monetário Internacional, com o apoio do Banco Mundial, com
o objetivo de “equacionar a sustentabilidade” da dívida do país.
O
Conselho de Ministros da Guiné-Bissau deliberou adiar a discussão do Orçamento
do Estado de 2021 por causa das “negociações em curso com as instituições de
Bretton Woods”, segundo o comunicado divulgado à imprensa.
Num
relatório, divulgado na semana passada, o Fundo Monetário Internacional prevê
que a economia guineense cresça 3% em 2021. In “O Século
de Joanesburgo” – África do Sul
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