Ambientalistas
acreditam que o gaio-comum poderá ser um dos aliados na reflorestação dos 440000
hectares que este ano foram arrasados pelos incêndios em Portugal
Com o nome científico de
“Garralus glandarius”, o gaio-comum é uma ave habitual nas florestas da
Península Ibérica que se destaca pelos seus tons azuis e acinzentados e tem a
particularidade de comer determinados frutos, como bolotas ou castanhas, que guarda
sob a terra para ter alimentos ao longo de todo o ano. É precisamente esta característica
que a associação ambientalista portuguesa “Montis” quer aproveitar,
desenvolvendo uma campanha de “crowdfunding”
para obter fundos.
No final de Novembro, a
associação lançou a campanha para arrecadar dinheiro que será usado para
comprar as bolotas necessárias para os gaios-comuns procederem ao
reflorestamento indirecto de carvalhos nos montes arrasados pelas chamas,
explicou à agência EFE uma das suas responsáveis, Isabel dos Santos.
Os gaios armazenam bolotas num
raio mínimo de cinco quilómetros para posterior consumo. Em apenas um Inverno,
um gaio pode esconder no solo entre 3000 e 5000 bolotas que, depois, podem ser
potenciais carvalhos, sobreiros ou azinheiras. De acordo com Isabel dos Santos,
muitas dessas bolotas que escondem são esquecidas pelos próprios pássaros e
acabam por germinar.
Estes pássaros costumam utilizar
inclusive as cotilédones de ditos rebentos – sem prejudicar o crescimento da
planta – para alimentar as suas crias durante a Primavera.
Desta forma “utilizaremos
processos naturais para o processo de expansão dos carvalhos, mediante o
comportamento de uma espécie de ave que possibilita uma sementeira muito barata”,
defendeu a especialista da “Montis”.
Para isso, a associação vai
colocar bolotas em diferentes tabuleiros de madeira em zonas altas (inacessíveis
para os roedores que também comem bolotas). Antes disso, os ambientalistas vão
assegurar que os gaios-comuns habitam nas zonas próximas aos locais
incendiados.
A associação vai iniciar esta
iniciativa em várias zonas da região Centro de Portugal muito prejudicadas
pelos fogos, como a Serra de Arada, Serra de Freita e na comarca de Caramulo.
No início do Outono chegaram a
colocar um primeiro tabuleiro com bolotas para que fossem recolhidas pelos
gaios-comuns, mas foi engolido pelas chamas durante a onda de incêndios que
queimou milhares de hectares no país. Tendo em conta que o gaio-comum é capaz
de transportar frutos como as bolotas por distâncias superiores a 100 quilómetros,
esta é uma das melhores opções para a propagação natural deste tipo de
sementes, considera a “Montis”.
Nos últimos meses, uma das
prioridades de Portugal tem sido o reflorestamento das florestas ardidas
mediante árvores autóctones que, ao contrário dos pinheiros e eucaliptos (mais
rentáveis), não favorecem a propagação dos incêndios. Para os especialistas, o
reflorestamento das florestas lusas com carvalhos e sobreiros é a melhor opção,
comparativamente ao pinheiro preto e o eucalipto, espécies que não favorecem a
biodiversidade e são aliados dos incêndios.
Voluntários e entidades
ambientalistas também iniciaram a iniciativa “Semear Portugal por Via Aérea”,
que consiste em lançar sementes desde aeronaves para reflorestar os montes
queimados de zonas como a Serra da Estrela. In
“Jornal Tribuna de Macau”
Sem comentários:
Enviar um comentário