Chegou
à capital chinesa há sete anos e foi ficando. Paulo Quaresma é agora
responsável pelas cozinhas do hotel Legendale e do restaurante “Camões”. À Tribuna
salienta que os ricos azulejos azuis atraem a atenção do público chinês, mas
também nota que é difícil manter um restaurante português aberto
É numa das alas do hotel
Legendale, perto de Wanfujing, em Pequim, que se encontra o restaurante
“Camões”. Passando pela árvore de Natal de dimensões consideráveis no hall de
entrada, rapidamente se trocam os tons dourados pelos azuis dos azulejos e
decoração a condizer.
Criado em 2009, o espaço é uma
ode aos azulejos portugueses, ao poeta que lhe empresta o nome, a algumas
frases pintadas nas paredes e a outros ícones da cultura portuguesa, como a
guitarra. Nas escadas por detrás do balcão, há ainda espaço para as Ruínas de
São Paulo, de uma Macau recuada no passado.
Há sete anos em Pequim, Paulo
Quaresma é agora o “chef” do “Camões” e de toda a área de restauração do
Legendale, à excepção do restaurante chinês. “Trabalhava em Portugal, mas as
coisas não estavam famosas e pensei que se aparecesse uma boa oportunidade no
estrangeiro, iria para aquela que oferecesse algo concreto”, começou por contar
à Tribuna.
A resposta chegou e foi para o
“Camões”. “A princípio pensei que fosse para Macau, mas com o desenrolar da
conversa percebi que era para o centro de Pequim”, afirmou, acrescentando que
viajou sem expectativas e foi ficando.
“Como passei muito tempo com
os chefes, agora fazem tudo bem sozinhos. Venho todos os dias ao restaurante,
mas eles dão conta do recado. Nos menus ou convidados especiais é que poderei
ter um papel maior” referiu.
Segundo recorda, “o hotel foi
desenvolvido para os Jogos Olímpicos de 2008 e a ideia de David Chow era dar a
conhecer parte da cultura portuguesa ao povo chinês e também oferecer algo
diferente”. “Poucas pessoas conhecem comida portuguesa, portanto, seria mais
uma oferta de pratos internacionais e ocidentais para os convidados e hóspedes
do hotel”.
No entanto, admite ser “muito
difícil para um restaurante português sobreviver estes anos todos, sem estar
inserido numa estrutura como um hotel, e mesmo em hotel seria difícil sem David
Chow”. O Hotel Hilton chegou a ter outro chefe português que, no entanto, já
cessou funções.
Entre as dificuldades sentidas
na operação de um espaço de restauração português, salienta a falta de
produtos, como enchidos e carne de porco que não estão certificados. Tal facto
complica a execução e autenticidade de alguns pratos.
Paulo Quaresma admite que
poderia fazer outros pratos como açordas, mas não seriam atractivos para os
clientes. Aliás, mesmo no caso do bacalhau, é necessário por vezes explicar aos
clientes que é diferente do peixe fresco a que estão habituados. “Muitas vezes
tenho de explicar que faz parte da nossa cultura gastronómica e que não tem
nada de errado”, conta.
O arroz de marisco e o de pato
são os favoritos, porque estão próximos dos gostos chineses, mas também há quem
arrisque o presunto Pata Negra e leitão assado.
Quanto à decoração, adianta
que os chineses gostam de tirar fotografias, porque acham curioso que os
azulejos sejam parecidos com as pinturas dos seus vasos.
Olhando para a cidade em si,
Paulo Quaresma realça que, quando chegou em 2010, as principais mudanças já se tinham
dado com os Jogos Olímpicos. “Mesmo assim, vemos muitas zonas destruídas e reconstruídas,
muitos arranha-céus, hotéis de cinco estrelas, edifícios de escritórios. Vemos
muitas mudanças físicas, destruição de hutongs e reconstrução. Também há
mudanças na parte cultural”, destacou.
O choque inicial desapareceu e
agora,casado com uma mulher local e dois filhos, pensa em voltar a Portugal,
mas admite que estará sempre dividido entre os dois países.
“Também aprendi muito cá.
Recordo-me quando era pequeno apenas sabíamos que era um país fechado, não se prestava
muita atenção, mas quando chegamos e vemos a realidade, vamos gostando e
ficando. Está a ser positivo”, disse.
A seu ver, como há falta de
contacto, a China continua a ser um “bicho mau do outro lado do Mundo, sobre o
qual os meios de comunicação só dizem coisas más”. Porém, acredita que essa
percepção está a mudar com os turistas e investimento chinês.
Outro contributo é dado pelos
muitos estudantes portugueses que chegam a Pequim. No regresso a Portugal, “vão
mostrando o que é realmente estar na China, o quão diferente é do que pensam”.
Por outro lado, segundo
Paulo Quaresma, os chineses têm poucas informações sobre Portugal, até porque o
mercado é tão grande que é difícil fazer chegar a mensagem. No entanto, revela,
“qualquer taxista conhece o Ronaldo”, além de que “Figo, Nuno Gomes e Rui Costa
também são conhecidos”. Liane Ferreira –
Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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