SÃO PAULO – Quando
escreveu Admirável Mundo Novo (1931),
o escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963) imaginou um cenário que à época
pareceria pouco factível, mas que hoje já se mostra superado se comparado ao
estágio que o mundo desenvolvido alcançou. Quem esteve na Suíça nos últimos
anos sabe que lá os supermercados já não têm funcionários nos caixas e são os
próprios consumidores que passam os produtos nos equipamentos de leitura e
fazem o pagamento com cartões.
São profissões
que começam a desaparecer, a exemplo do que se deu em outros tempos com os
carroceiros, os carvoeiros, os acendedores de lampiões e outros profissionais.
Nesse caminho também seguem as redes bancárias que não só fecham agências como
dispensam funcionários, já que hoje cerca de 60% das transações são feitas de
maneira virtual, sem a necessidade da presença física de um bancário.
Em outros
setores de serviços, esse caminho também parece inexorável. Na área de
logística, por exemplo, são muitas as mudanças, principalmente na parte
tecnológica, em que ocorreu grande redução no tempo de operação dos navios
atracados. No porto de Roterdã, na Holanda, um dos mais movimentados do mundo e
12º no ranking do Lloyd List Maritime Intelligence, de
Londres, um contêiner com commodities
ou produtos industrializados demora, em média, menos de dois dias para ser
liberado.
Já no porto de
Santos, importações parametrizadas pela Alfândega para os canais amarelo e
vermelho costumam demorar ao redor de 20 dias. Para verificar e liberar a
madeira das embalagens, o Ministério da Agricultura demora alguns dias. Mas,
muitas vezes, chega ao absurdo de obrigar o importador a enviar (reexportar) a
embalagem para a origem quando verificado algum indício ou vestígio de
"besouro chinês", o que causa demora e custos altíssimos. Na verdade,
essas embalagens efetivamente condenadas poderiam ser incineradas no País com menor
risco sanitário, já que os processos para a sua reexportação não apresentam
maiores cuidados.
Como se sabe,
tudo isso aumenta os custos de transporte e armazenagem, além de provocar
atrasos na linha de produção das indústrias que dependem de insumos importados.
Todos esses custos acabam repassados para o preço final do produto, que chega
mais caro às mãos do consumidor local ou do exterior.
Estudo do Centro
das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) mostrou que as deficiências do
País, como alta carga tributária, excesso de burocracia, corrupção, juros
elevados, alto custo da energia, excesso de regulação, legislação confusa,
falta de investimentos em infraestrutura e defasagem tecnológica, tornam os manufaturados
nacionais 34,2% mais caros que os similares importados. Do lado inverso, os produtos
nacionais perdem espaço no mercado externo por falta de preço competitivo.
No Brasil, parece
que ainda estamos distantes do mundo admirável que Huxley imaginou, mas, aos
trancos e barrancos, esse cenário se avizinha com espantosa velocidade. Se no
campo caminhões e tratores começam a ser operados sem motoristas, alguns portos
já funcionam com guindastes, pórticos e carregadores de navios operados por
controle-remoto. É o mundo novo e admirável que vem por aí. Milton Lourenço - Brasil
Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato
dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São
Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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