A Galeria da Fundação Rui
Cunha acolheu ontem a sessão de lançamento de mais um livro do Professor
Cândido do Carmo Azevedo, intitulado “Macau – Cinco Séculos de Divertimento”. A
obra foi apresentada pelo professor Carlos André.
O 10º livro do autor, que
depois de quase 30 anos em Macau vai regressar definitivamente a Portugal no
final deste ano, resulta de parte da investigação que fez para a sua
dissertação de doutoramento, para a qual dedicou seis anos de pesquisa sobre o
diálogo intercultural do século XVI ao XX. “Macau – Cinco Séculos de
Divertimento” é focado no percurso do divertimento no território, omitindo o
que diz respeito aos outros territórios da diáspora oriental.
“Para tal, sem pressas tenho
trabalhado desde 2010, mas melhorando e actualizando. A dificuldade é não haver
arquivos referente ao tema lúdico. Tem de ser procurado nas pastas das
Instituições”, disse o autor à Tribuna.
Cândido Azevedo optou por
iniciar a obra com a fixação dos portugueses em Macau, indo até meados do
século XX, porque “é a data do início do fim do Império oriental que,
enfrentando um vasto campo de adversidades, havia chegado debilitado ao século
XX, e que desapareceria em 20 anos, entre os anos 50 e 70”, disse.
“Com a evolução da sociedade
muitos costumes perderam-se, outros transformaram-se quer na sociedade chinesa
quer na portuguesa. Mas o percurso lúdico de matriz portuguesa, constata-se que
não foi um sucesso”, comentou. Aponta como motivos para isto a dificuldade lusa
de se impor culturalmente sob uma cultura milenária como é a chinesa, bem como
o sucesso obtido pela cultura britânica.
Os vestígios da herança lúdica
deixada pelos portugueses é limitada a actividades escolares e religiosas. Em
termos escolares, resta a memória dos recreios com jogos, enquanto associados à
Igreja que mantém festas regulares e cíclicas.
Para abordar o tema, o autor
optou por dividir o percurso do divertimento em três períodos. O da dominação,
onde a tentativa de definir uma ordem social se reflectia em ostentação e
solenidade por parte de uma minoria privilegiada, sendo que “a dança, o teatro,
a caça e os variados jogos equestres destacavam-se por serem as práticas mais
expressivas de tal estatuto social”.
A segunda fase é marcada pela
implantação do liberalismo. “A aristocracia, agora ociosa e decadente, procura
ainda mostrar à burguesia em ascensão e à “elite nativa”, agora convidada, a
necessidade da elegância, força e habilidade de outrora”, sendo as actividades
principais o passeio público, a associação recreativa, os bailes e os banhos,
os jogos de salão e de ar livre, a bicicleta, a náutica, o teatro, a ginástica,
as lanternas mágicas e o auto-china.
É com a chegada da modernidade
que surge em Macau “a influência inglesa e o seu sport”, explicou Cândido
Azevedo, acrescentando que “agora sim, surge o desporto, a que todos aderem, a
facilitar o empreendimento nunca antes conseguido, pelo menos na sua maior
parte”.
Esta influência traz com ela o
destaque para valores como o cavalheirismo. “Um modelo a integrar, pois
concilia as atitudes e comportamentos, a experiência do prazer e do entusiasmo
numa sociedade mais justa do que as anteriores”, afirmou. Salomé Fernandes – Macau in
“Jornal Tribuna de Macau”
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