Codesp
prevê redução de custos, além de desafogar os acessos rodoviários ao cais
santista
O Porto de Santos prepara o
lançamento, nos próximos dias, do projeto para a utilização de suas hidrovias.
A proposta é que o complexo tenha serviços de transporte de cargas em barcaças
pelos rios da região, ligando as duas margens do estuário e, também, as zonas
portuária e retroportuária, chegando ao Polo Industrial de Cubatão e
plataformas logísticas dessa cidade.
Com isso, a Companhia Docas do
Estado de São Paulo (Codesp, a Autoridade Portuária), responsável pela
iniciativa, prevê reduzir os custos e impactos ambientais da atividade
portuária nas cidades da Baixada Santista, além de desafogar os acessos
rodoviários ao cais santista.
Detalhes do projeto,
desenvolvido pela Codesp, foram revelados pelo presidente da companhia, José
Alex Oliva, em entrevista exclusiva. Segundo ele, a ideia é “lançar o projeto,
ofertar a oportunidade para a iniciativa privada e dar início a uma nova fase
de expansão do Porto com a exploração do modal hidroviário”.
Próximos
passos
Nos próximos dias, a Docas
reunirá empresários e apresentará a proposta de exploração das hidrovias e as
ações que adotou para viabilizar o serviço. Caberá à Autoridade Portuária
garantir a utilização das vias de navegação, sinalizando-a e regularizando seu
uso, inclusive com a definição de normas para a atividade.
As regras foram definidas nos
últimos meses a partir de reuniões entre representantes da Codesp, da Agência
Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq, o órgão regulador do setor) e da
Capitania dos Portos de São Paulo (CPSP).
Na reunião, também serão
apresentadas possíveis “linhas de navegação” a serem explorados pela iniciativa
privada. Uma delas prevê a passagem pelos terminais especializados na
movimentação de contêineres no complexo, levando as cargas de uma margem do
estuário a outra, em barcaças com até 150 contêineres, e substituindo o
transporte rodoviário regional conhecido como “vira”.
Outra linha ligará as instalações
portuárias a plataformas logísticas do retroporto, em Cubatão, sendo uma
alternativa à utilização de caminhões nesse trajeto. Essa possibilidade chegou
a ser considerada pela Libra Terminais (que tem uma unidade retroportuária em
Cubatão) no final da década passada, mas não avançou.
Há, ainda, uma terceira opção:
utilizar barcaças para levar matérias-primas importadas da região do cais até
as indústrias de Cubatão, como defendia a fabricante de cloro, soda e derivados
Carbocloro no início da última década. O projeto, porém, foi descartado devido
a custos.
Atribuições
Enquanto a Autoridade
Portuária cuidará das normas de exploração do serviço e das vias de navegação,
caberá à iniciativa privada realizar o transporte, adquirir os equipamentos de
movimentação de cargas (guindastes) e ainda construir os atracadouros e cais
para as barcaças na área retroportuária.
“Vamos estimular os terminais
e as empresas de navegação a fazerem uso dessa alternativa econômica. O
objetivo é ofertar a infraestrutura para que a iniciativa privada faça seus
negócios. E todos vão ganhar: teremos custos logísticos menores, estradas não
tão congestionadas, um modal com menor consumo de combustível e, portanto,
menor emissão de poluentes e impactos ambientais”.
Oliva pretende se reunir com
os caminhoneiros e explicar à categoria que ela também ganhará com o projeto.
“Eles deixarão de fazer viagens longas e se concentrarão em percursos curtos.
Pegarão mais serviços”.
O executivo prevê a operação
do serviço operante em até dois anos, mas considerando reuniões feitas com
terminais e empresas de navegação, ele acredita que já possa ter uma linha em
ação até o final do ano.
O projeto chegou a ser
apresentado por Oliva ao ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil,
Maurício Quintella, em viagem ao Porto de Antuérpia (Bélgica) no final do mês
passado — visita técnica que integrou a programação da edição deste ano do
Santos Export — Fórum Internacional para a Expansão do Porto de Santos,
promovido pelo Grupo Tribuna e pela Una Marketing de Eventos. O modal
hidroviário é estratégico para a movimentação de cargas no complexo belga, que
registra uma média de 915 escalas de barcaças por semana.
Ideia
antiga
A ideia de explorar o
transporte hidroviário no Porto é debatida desde a década passada. Em 2012,
essa opção foi tema de um estudo da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico
da Engenharia (FDTE), ligada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
(USP). A pesquisa apontou que a região conta com 200 quilômetros de vias navegáveis
e 25 deles sem restrições (o principal obstáculo encontrado foi a altura dos
vãos de pontes rodoviárias e ferroviárias), além de identificar cinco rotas
comerciais (confira no infográfico ao lado).
Especialistas
apontam vantagens do modal
A implantação do transporte
hidroviário é vista como um avanço por especialistas no setor. Eles destacam
que o modal apresenta um menor consumo de combustível por toneladas
transportadas e, consequentemente, um volume de emissões de CO2 na atmosfera
inferior. E ainda apontam a diminuição do tráfego de caminhões nas vias da
região e melhor distribuição de cargas no complexo santista, com a implantação
do projeto.
O transporte hidroviário de
cargas é visto como o mais limpo e barato. A cada mil toneladas transportadas
por quilômetro, são gastos apenas quatro litros de combustíveis. O consumo
aumenta para seis litros quando o modal utilizado é o ferroviário. E sobe para
15 litros quando os caminhões fazem o transporte da carga.
“Na travessia da Margem
Direita para a Margem Esquerda, não vai precisar fazer a volta, que chega a dar
70 quilômetros, no transporte rodoviário ou mesmo no ferroviário. Você pode
atravessar em uma barcaça. É um investimento baixo, um consumo de combustível
baixo, então tende a ser um transporte com um custo de produção muito baixo”,
destacou o consultor portuário e ex-diretor da Companhia Docas do Estado de São
Paulo (Codesp) Frederico Bussinger, do Instituto de Desenvolvimento, Logística,
Transporte e Meio Ambiente (Idelt).
O especialista ainda aponta
que o transporte hidroviário é muito utilizado nos portos mais modernos do
mundo. Neles, as barcaças passam pelos terminais, recolhendo contêineres e
fazendo a distribuição, serviço também proposta para Santos.
Para o presidente da Federação
Nacional dos Portuários (Fenop), Sérgio Aquino, essa iniciativa permitirá a
exploração de novas áreas no Porto, que poderão ser acessadas pelas barcaças.
“É fundamental que se faça esta interligação do Porto com a retroárea. Com
isso, você expande o chamado complexo portuário e reduz a interferência no
trânsito, utilizando caminhão onde ele precisa ser utilizado e priorizando o
transporte aquaviário onde ele pode ser competitivo”.
A implantação do transporte
hidroviário é vista como um avanço por especialistas no setor. Eles destacam
que o modal apresenta um menor consumo de combustível por toneladas
transportadas e, consequentemente, um volume de emissões de CO2 na atmosfera
inferior. E ainda apontam a diminuição do tráfego de caminhões nas vias da região
e melhor distribuição de cargas no complexo santista, com a implantação do
projeto.
O transporte hidroviário de
cargas é visto como o mais limpo e barato. A cada mil toneladas transportadas
por quilômetro, são gastos apenas quatro litros de combustíveis. O consumo
aumenta para seis litros quando o modal utilizado é o ferroviário. E sobe para
15 litros quando os caminhões fazem o transporte da carga.
“Na travessia da Margem
Direita para a Margem Esquerda, não vai precisar fazer a volta, que chega a dar
70 quilômetros, no transporte rodoviário ou mesmo no ferroviário. Você pode
atravessar em uma barcaça. É um investimento baixo, um consumo de combustível
baixo, então tende a ser um transporte com um custo de produção muito baixo”,
destacou o consultor portuário e ex-diretor da Companhia Docas do Estado de São
Paulo (Codesp) Frederico Bussinger, do Instituto de Desenvolvimento, Logística,
Transporte e Meio Ambiente (Idelt).
O especialista ainda aponta
que o transporte hidroviário é muito utilizado nos portos mais modernos do
mundo. Neles, as barcaças passam pelos terminais, recolhendo contêineres e
fazendo a distribuição, serviço também proposta para Santos.
Para o presidente da Federação
Nacional dos Portuários (Fenop), Sérgio Aquino, essa iniciativa permitirá a
exploração de novas áreas no Porto, que poderão ser acessadas pelas barcaças.
“É fundamental que se faça esta interligação do Porto com a retroárea. Com
isso, você expande o chamado complexo portuário e reduz a interferência no
trânsito, utilizando caminhão onde ele precisa ser utilizado e priorizando o
transporte aquaviário onde ele pode ser competitivo”.
Consultor
faz alerta sobre novos custos
Para o consultor portuário
Fabrizio Pierdomênico, o transporte hidroviário só é viável quando se tem um
volume grande de cargas que precisam ser transportadas por longas distância. O
ex-diretor da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) aponta os riscos
de aumento dos custos logísticos e ainda o crescimento do tráfego de
embarcações no canal de navegação do Porto de Santos.
“Eu entendo que todo esse
processo de trazer o contêiner do outro lado do País, dar um tombo nele,
colocar em uma pilha, depois tirar da pilha, colocar em uma barcaça para trazer
e, depois, distribuir para os terminais vai agregar mais custos à carga. Seria
diferente se saísse do ponto de origem da carga em uma barcaça para o destino
final”.
Pontos
positivos
Defensor da utilização do
transporte hidroviário no Porto de Santos, o engenheiro Henry Robinson acredita
no potencial e na importância do modal para a região desde a década passada,
quando ainda atuava como diretor técnico da Libra Terminais e foi um dos
idealizadores do projeto do uso de barcaças ligando a instalação a sua unidade
retroportuário em 2006. O empreendimento acabou não avançando.
“Santos apresenta grande
riqueza no meio hidroviário. Há obstruções, que são as pontes (com vãos muito
baixos e que precisariam ser elevados), mas tem um bom potencial. Mesmo com a
barreira física que é a Serra, há a possibilidade de explorarmos as hidrovias
na logística local, tanto intermargens como entre o cais e o retroporto, mas
temos de ter volume e deve ser um serviço com common user, que qualquer um pode
contratar”, explica o executivo portuário e professor da Universidade
Metropolitana de Santos (Unimes).
Ele também destaca que a
adoção do serviço, substituindo o transporte rodoviário em determinados
trechos, não pode aumentar o custo logístico. “O usuário não suporta mais um
custo. Então, a utilização das barcaças tem de ser projetada de modo a não
encarecer a operação. Também temos de ver como ficará a utilização da mão de
obra. Essa foi uma questão bem crítica quando debatemos esse projeto para a
Libra em 2006”. Leopoldo Figueiredo, Fernanda
Balbino – Brasil in “A Tribuna”
Sem comentários:
Enviar um comentário