Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP) acaba de celebrar os 21 anos da sua criação com
algumas decisões que, não implicando uma mudança essencial, podem gerar novas
dinâmicas e expectativas.
A última reunião do Conselho
de Ministros, realizada o passado 20 de julho em Brasília, produziu duas
novidades de interesse em relação aos “observadores associados”, países que não
entram no grupo restrito dos membros de pleno direito, e os “observadores
consultivos”, categoria reservada às entidades da sociedade civil.
No primeiro caso, o Conselho
de Ministros adotou uma «Resolução sobre o reforço da cooperação com os
observadores associados» que pretende dar um papel mais claro a estes países
membros, até ao presente num papel limitado. Com esta decisão promove o acesso
dos seus representantes aos expedientes internos, e a sua implicação nas
políticas comuns, por meio da participação em reuniões do Comité de Concertação
Permanente e o Conselho de Ministros, em fórmulas que ainda terão de ser
estabelecidas. Desse modo os associados, como a Turquia, Senegal, Uruguai,
Japão ou a Maurícia, adquirem maior margem de manobra em termos políticos e
diplomáticos, o que acarreta simultaneamente o alargamento da CPLP em termos de
capacidade de atuação em cenários que vão além do espaço de língua oficial
portuguesa.
As discussões sobre o
alargamento da CPLP e as dúvidas que suscita a entrada de novos países “não
lusófonos”, são temas que têm vindo a ser comentados na comunicação social de
Portugal com relativa frequência. O assunto vai muito além da questão da Guiné
Equatorial e do seu processo de admissão, primeiro como país associado, depois
como membro de pleno direito. Equaciona-se entre manter a organização
estritamente no território de língua portuguesa, como oficial ou de herança, ou
o estabelecimento de fórmulas de integração e colaboração de países que, sem
ter uma relação direta com a nossa língua, mostram interesse em fazer parte do
conjunto lusófono, por diversos motivos. Por outras palavras, a escolha
situa-se entre manter a CPLP no atual espaço, ou promover um alargamento que a
converta num ator com peso a larga escala.
Quanto aos observadores
consultivos, a CPLP adotou uma resolução em que foi aceite a Academia Galega da
Língua Portuguesa, com o patrocínio do Governo da República de Angola. A
decisão fecha o périplo desta candidatura galega, apresentada em 2011, e vem
reconhecer o papel da sociedade civil neste processo, dispondo agora de um
interlocutor direto nesse organismo internacional.
É
possível entrar na CPLP?
Isso não significa a entrada
formal da Galiza na CPLP. Poderia ser admitida, em determinadas condições. Os
galegos fomos consultados, através das Irmandades da Fala da Galiza e Portugal,
em 1989, por iniciativa do Governo do Brasil, sobre o processo de criação do
Instituto Internacional da Língua Portuguesa. E novamente em março de 1993, na
ronda de consultas sobre a criação da CPLP, por iniciativa do Embaixador José
Aparecido de Oliveira, como pode ser observado na documentação da Comissão
Galega do Acordo Ortográfico, de que a Academia Galega da Língua Portuguesa é
depositária.
Em segundo lugar, diversos
governos galegos tiveram atuações em direção à CPLP. Isso aconteceu durante as
presidências de Manuel Fraga e Emílio Pérez Touriño. Como sabemos, com
resultados insatisfatórios. Em 1989, porque a redação inicial do projeto,
concebido como comunidade de povos, se converteu em comunidade de estados, o
que impossibilitou formalmente a admissão da Galiza. Contudo, os estatutos
incluíram um parágrafo para a entrada como observadores associados de
«entidades territoriais dotadas de órgãos de administração autónoma».
Posteriormente, durante a presidência de Touriño, falhou a negociação com o
Ministerio de Asuntos Exteriores da Espanha, provavelmente porque não fora
preparada adequadamente.
Lei
Paz-Andrade
A lição dessas experiências
apontava para a necessidade de procurar um grande acordo político e social,
reunindo apoios para retomar essa iniciativa. Isso implicava que os principais
motores das políticas antilusófonas nas décadas de 1980 e 1990, instauradoras
do modelo isolacionista para o galego, deveriam chegar, de alguma forma, a
algum entendimento com o reintegracionismo. Isto aconteceu, parcialmente, com a
Iniciativa Legislativa Popular Paz-Andrade, convertida em lei do Parlamento da
Galiza em março de 2014.
A lei fornece um instrumento
valioso para desenvolver as políticas tendentes a essa integração na Lusofonia.
Porém, aos três anos da sua aprovação, há vários riscos que ameaçam gravemente
o processo, como o facto de não ter-se criado uma só vaga para professores de
português no ensino público, o que é um claro incumprimento dos acordos e
produz frustração nos milhares de pessoas assinantes da ILP. Outro risco não
menos importante é a inexistência de uma comissão oficial de trabalho sobre a
aproximação da Lusofonia, como se sugeriu no Parecer sobre o Desenvolvimento da
Lei Paz-Andrade, documento imprescindível que deveria servir como roteiro.
Contrariamente ao declarado
por representantes do Governo, a política linguística é observada com atenção
no Palácio dos Condes de Penafiel. Apresentar o galego como língua
“intercompreensível”, mas “independente do português” coloca a Galiza,
simbolicamente, da parte de fora. E quem se põe de fora dificilmente pode
sentar-se à mesma mesa. Paralelamente, não pode pedir-se a entrada na CPLP e,
ao mesmo tempo, manter a tradicional política de exclusão das pessoas e
entidades da sociedade galega que publicam em português. Na ausência de
movimentos do Governo e instituições involucradas, a participação direta da sociedade
civil galega na CPLP só poderia deixar em evidência a deterioração das
expectativas geradas com a própria Lei Paz-Andrade. Ângelo Cristóvão – Galiza in
“Novas da Galiza”
José
Ângelo Cristóvão Angueira (Santiago
de Compostela, 1965), licenciado em Psicologia pela Universidade de Santiago,
especializou-se em Psicologia Social. Empresário. Vice-Presidente da Academia
Galega da Língua Portuguesa e membro da sua Comissão de Relações
Internacionais. Sócio Correspondente da Academia das Ciências de Lisboa; Sócio
da AGAL desde 1983 e Sócio fundador da Associação Internacional dos Colóquios
da Lusofonia.
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