Primeiro
romance histórico do escritor
Lançamento em Lisboa, no
próximo Domingo, 15 de Outubro, pelas 18H 30M, na FNAC do Chiado
Imagine-se uma mulher com oito
maridos, quantos mimos teria a dar e a receber, neste dia? No plano real,
eventualmente não se encontre nenhuma, mas, na ficção, tudo pode acontecer. Que
o diga Adelino Timóteo, autor que, como se pretendesse questionar o padrão dos
casais, aventura-se num livro que, à partida, inquieta: “Os oito maridos de dona Luíza Michaela da Cruz”.
A nova obra de Timóteo traz a
história que acontece no início do terceiro quartel do século XIX, época em que
o missionário inglês Livingstone propõe-se a tarefa de evangelizar e combater o
tráfico de escravos nas terras do Rio Zambeze. Nessa altura, Livingstone
desembarca no Prazo do Goengue, onde irá encontrar a voluptuosa mulata, de
olhos vivos, que se chama, nem mais, Dona Luíza Michaela Rita da Cruz. O
encontro inesperado arrasta o missionário até ao extremo da ansiedade, de
acordo com o escrito, como quem se põe a descascar o fruto para chegar à polpa
da mulher. E nisso vai saciando a curiosidade sobre a natureza e a vida dela,
até a dar-se com os seus oito maridos”.
As peripécias da narrativa
consagram o personagem estrangeiro como biógrafo de dona Luíza e da
"sagrada" família Cruz, do Estado de Massangano, que dificulta a
colonização portuguesa.
Não obstante, o título da nova
obra de Timóteo lembra uma outra, de Jorge Amado, “Dona Flor e seus dois maridos”, mas a inspiração do autor
moçambicano não partiu daí. Adelino Timóteo conta que, antes de começar a
escrever, quando passava por um alfarrabista junto à Brasileira, em Lisboa,
caiu-lhe às mãos o livro “História das
guerras de Zambeze, Chicoa e Massangano (1954)”, de Filipe Gastão de Almeida Eça. Nisso, um capítulo chamou-lhe
atenção, o destaque que o autor fazia à Dona Luiza, na sua percepção, tratada
como uma figura digna de romance, num tema “Dona
Luíza da Cruz e os seus quatro maridos”. “Recordei-me de que “Dona Flor e os seus dois maridos”
escreveu o Jorge Amado em 1966. Disse cá para os meus botões, esse título é bem
moçambicano. Talvez tenha sido essa a fonte de inspiração do Jorge Amado.
Glosei o meu romance muito consciente de que ao nível da ficção há um vasto
filão que a Zambézia daquele tempo oferece, sem ter que emprestar nada ao Jorge
Amado. Podia ter escolhido outro título, mas saber que o título é muito moçambicano
como a história que conto deu-me gozo de fazer um trocadilho”, afirmou Adelino
Timóteo.
“Os
oito maridos de dona Luíza Michaela da Cruz” recupera áurea mística
e misteriosa das donas dos prazos da Zambézia. E, para o escrever, o escritor
teve que investigar. Passou pelo Arquivo Histórico de Moçambique, em Maputo,
lendo páginas da “Tempo” e
amadurecendo ideias.
Timóteo começou a conceber o
romance em Lisboa (Portugal), levando-o a San Sebastian (Espanha), depois
Beira, Linz (Áustria), Amsterdão (Holanda) e Colónia (Alemanha). “Como é normal
nos meus livros, fecundam num lugar e gestam em outros. Mas esta obra, em
particular, rodou muito”, mas a maternidade escolhida para o parto é
Moçambique, com a chancela da Alcance editores.
Adelino Timóteo assume que
esta é a sua primeira experiência no romance histórico. “Respirei uma grande
pulsão do Zambeze até aqui pouco referenciado, até Quelimane. Penso que
descobri neste livro uma áurea misteriosa que me obrigará a escrever mais um ou
dois livros sobre o lugar. Penso no Jorge Amado que escreveu cinco livros sobre
o cacau. E sobre donas dos prazos até poder-se-á escrever mais”. In “O
País” - Moçambique
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