Angola chega à 22.ª Feira
Internacional de Macau (MIF) sem que esteja combinada a celebração de acordos
ou protocolos. Entre as províncias de Luanda e de Guangdong já há, contudo,
projectos em curso, nomeadamente a criação de um parque empresarial, o
Luanda-Guangdong Business Park, que contará, no seu arranque, com mais de duas
dezenas empresas.
A província de Luanda vai
acolher um novo parque empresarial, o Luanda-Guangdong Business Park, com cerca
de dois mil hectares, que vai contar, numa fase inicial, com mais de vinte
empresas criadas em parceria entre as duas províncias. A notícia foi avançada
pelo presidente da Confederação Empresarial de Angola, Francisco Viana, que deu
conta da existência de protocolos de cooperação entre Luanda e Guangdong, ainda
em preparação, e da geminação de cidades dos dois territórios. O representante
dos empresários angolanos assinalou, contudo, a necessidade de se criar em
Angola um melhor ambiente de negócios, nomeadamente com a criação de maiores
facilidades na concessão de vistos para investidores estrangeiros. A ausência
de acordos assinados entre os dois países, no âmbito da 22.ª Feira
Internacional de Macau (MIF), explica-se, diz Francisco Viana, com a fase de
mudança que Angola atravessa, devido à eleição recente do novo Presidente da
República, João Lourenço.
“Estão a ser preparados
protocolos para virem a ser firmados entre a província de Guangdong e a
província de Luanda. É um processo que começou com o general Higino Carneiro,
ex-governador, e que procura não só organizar uma cooperação entre as
províncias, mas também geminar várias cidades da província de Cantão com
cidades da província de Luanda”, explicou ontem à imprensa Francisco Viana. Se
os protocolos ainda não se efectivaram, há já projectos que estão a avançar no
terreno, adiantou o presidente da Confederação Empresarial de Angola, que falou
à margem do Fórum para o Comércio e o Investimento entre Angola, Província de
Guangdong e Macau, no âmbito da 22ª MIF: “A ideia é aproximarmos mais os
empresários, criamos neste momento condições para que seja instalado um parque
empresarial, o Luanda-Guangdong Business Park, que vai ter uma extensão de
cerca de dois mil hectares, em princípio será na zona económica especial de
Luanda”.
Mas não só. Também a vertente
agrícola está a ser considerada: “Por outro lado, temos um outro pacote de uma
área de 150 mil hectares, para desenvolvermos, é como se fosse um género de um
condomínio de agro-negócios, de fazendas, para lançar o agro-negócio. É uma
experiência-piloto que estamos a desenvolver. Temos o apoio claro, quer dos
governos centrais, das nossas embaixadas. Agora a parte mais difícil é fazer da
teoria prática”, adianta Francisco Viana. E onde reside a dificuldade? “Primeiro
porque Angola ainda está na sua fase de mudança. Acabamos de eleger um novo
Presidente. E como há muita coisa que ainda é preciso corrigir, vamos ter um
longo trabalho, nomeadamente para criar um melhor ambiente de negócios,
facilitar a questão dos vistos, a protecção do investimento”. O empresário fala
mesmo em mudança de mentalidade: “E sobretudo criarmos uma mentalidade um
bocadinho mais pró-activa, mais pró-produtiva, para que a gente possa entender
que a nossa economia só irá crescer se produzirmos muito, mas também só irá
crescer se produzirmos de uma forma competitiva. Então há todo esse desafio que
passa também pela formação de recursos humanos, que passa também por termos
instrumentos financeiros de apoio ao empresariado”, defende.
Francisco Viana faz inclusive
referência aos programas de apoio concedidos na União Europeia, que permitiram
a presença na MIF de mais de uma centena de empresas portuguesas: “Os nossos
empresários vieram com os seus próprios pés. Quando saímos de Luanda nem sequer
conseguimos fazer os cambiais, e portanto estamos num patamar realmente
difícil”.
O empresário aponta ainda uma
crítica à lei angolana do investimento privado: “E a própria lei do
investimento, nós acreditamos que a concorrência não se faz criando barreiras,
mas formando competências. Entendemos que essa lei, nalguns aspectos, não é
justa, porque protege demasiado os angolanos, o que depois os vai tornar
incompetentes”.
E qual a calendarização para o
arranque dos projectos já em curso? “Nós já estamos a trabalhar, a zona
económica especial já está totalmente infra-estruturada, já temos uma proposta
de arranque para mais de 20 empresas, portanto vamos já dar sequência a essa
visita técnica para identificar as questões. O nosso presidente da Câmara de
Viana, o que nós chamamos em Angola o administrador, em parceria com a nossa
confederação empresarial, vamos abrir nos escritórios do município o ‘guichet’
de apoio ao investidor nacional e estrangeiro, já estamos a trabalhar”. O
presidente da confederação angolana referiu ainda o projecto de criação de uma
fábrica de cerâmica: “Nós estamos com o projecto de fazer uma fábrica de
cerâmica, até a própria cidade da cerâmica, é um processo muito complexo”,
assumiu.
E a ausência da
assinatura de protocolos e acordos entre a China e Angola, no âmbito da MIF a
que se deve, tendo em conta que é Angola o país convidado? “O problema é que
nós acabamos de mudar de Presidente. Foram nomeados novos governadores, novos
ministros, ainda nem sequer foi aprovado o Orçamento do Estado. E depois esse
tipo de protocolos tem que passar necessariamente pelas Relações Exteriores e
pelo visto dos respectivos Chefes de Estado. Mas é uma questão de tempo, os
protocolos vão ser assinados”, garantiu Francisco Viana. Sílvia Gonçalves – Macau in “Ponto Final”
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