A representante de Moçambique
na edição deste ano da mostra “Sabores do Mundo”, que terminou hoje na Torre de
Macau, é proprietária do único restaurante africano da cidade do Porto. Aberta
há cinco anos, a casa da Tia Orlanda recria Moçambique à beira Douro e já se
tornou uma referência da Invicta.
Orlanda Barros chegou a Macau
com dois anos e um voo de atraso por causa de um cancro que lhe avinagrou os
dias. Agora, que a doença lhe mostrou aparentemente alguma candura, abraça o
que diz ser “o maior desafio da vida”, duas intensas semanas em que veste a
Oriente o papel de embaixadora do melhor que Moçambique tem para oferecer à
mesa: “Nunca pensei estar num evento destes. Quero fazer o meu melhor, espero
corresponder e espero que as pessoas gostem”, confessa, uma nota de
incredulidade, gingando ainda na voz.
O convite para visitar Macau,
para reforçar a fraternidade lusófona que por estes dias faz o conceito saltar
do papel para o palco e do plano das boas intenções para o prato, tem dois anos
e foi feito – e repetido – por Helena Brandão, presidente da Associação dos
Amigos de Moçambique em Macau.
Presa às circunstâncias da
vida (mas nunca derrotada, deixa adivinhar o timbre caloroso da voz), Orlanda
Barros foi adiando a romagem ao Oriente e mesmo este ano, Macau esteve para não
acontecer. Uma brecha pouco habitual no rigor da pontualidade germânica deixou
no chão, por uma série de infindáveis horas, o avião da Lufthansa que acabaria
por trazer Orlanda até ao Oriente. Resultado: quando a cozinheira zambeziana
chegou ao território, na sexta-feira passada, já a mostra “Sabores do Mundo” –
que decorre até domingo, na Torre de Macau – tinha começado.
Na mala – a mesma que Orlanda
Barros segurou, incrédula, entre as mãos enquanto esperava, num aeroporto
alemão que a trouxesse a Hong Kong – trouxe os sabores de Moçambique: um
Moçambique recriado entre a pedraria granítica do coração do Porto, à sombra da
Torre dos Clérigos, mas ainda assim, Moçambique.
Em Portugal há mais de três
décadas e meia, Orlanda Barros – pergunte pela Tia Orlanda na Invicta e
dir-lhe-ão quem é – abriu em 2012 o único restaurante africano do Porto e o
sucesso, temperado com caril de caranguejo e feijão com coco e regado com pombe
ou lipipa, não tardou a surgir: “É visitado por toda a gente, mas
principalmente por pessoas que estiveram em Moçambique e têm alguma recordação
de Moçambique. Alguns vão ao restaurante também por influência de familiares”,
adianta Orlanda.
Sem dissimular o orgulho, a
cozinheira avisa que para quem visita o Porto e quer provar uma matapa, um
caril de gambas, um caril de frango com coco ou outras pérolas da gastronomia
do Índico o melhor é mesmo não arriscar e reservar com antecedência. A procura
tem sido tanta que Orlanda Barros admite que se tem mantido indiferente aos
milhares de turistas e visitantes que assomam diariamente ao Porto: “Eu estou à
espera do povo português e do moçambicano, das pessoas que se fidelizam na
minha comida e que gostam dos pratos que eu preparo. O turista vem hoje e já
não vem amanhã e eu quero o tipo de clientes que experimentam hoje e regressam
amanhã”, confessa.
Neta de um grego, filha
biológica de um indiano e adoptiva de um português, Orlanda Klyronomous Barros
Barbosa apresenta por estes dias, na Torre de Macau, o melhor de uma
gastronomia que é, como ela, um caldo de culturas: “O meu propósito é o de
trazer para aqui a matapa, que é a nossa verdadeira comida. A matapa é um prato
que junta folha de mandioca com amendoim e coco. Pode-se fazer a variante
vegetariana ou então meter-se um bocado de marisco. O mais frequente é o
camarão ou o caranguejo. Trago também o caril de caranguejo e o caril de gambas
e mais uma ou outra coisa: o caril de frango com amendoim e o caril de frango
com coco. Estes são alguns dos pratos que tenciono confeccionar em Macau”,
revela. In “Ponto Final” - Macau
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