Senegaleses
aprendem língua portuguesa por meio de parceria voluntária
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Foto: Lucas Colombo |
Na sala da Escola Municipal Angelo Félix
Ugione, no Bairro Wosocris, em Criciúma, as tardes de domingo, apesar de não
ser um dia habitual de aulas, também são de ensino, mas um pouco mais
diferente. Quem senta nas cadeiras da escola são cerca de 20 senegaleses, que
saíram do país localizado na África Ocidental, para encontrar no Brasil uma
oportunidade de vida melhor. O grupo aprende a língua portuguesa e a matemática
básica lecionadas pelo professor Fernando Miguel Neto. As línguas se misturam,
os olhos são atentos e a vontade de aprender é bastante aparente.
As aulas oferecidas de forma voluntária
iniciaram através da parceria entre o professor Fernando, do Conselho
Comunitário de Segurança (Conseg) do Rio Maina e da direção do grupo escolar. A
iniciativa surgiu após o professor, que deixou as salas de aulas para buscar um
salário melhor nas vendas, encontrar um grupo de seis senegaleses que queria
comprar enxoval, produto por ele comercializado.
“Eles tinham muita dificuldade em entender o
que eu estava falando. Para um deles, que sabia um pouco melhor se comunicar em
português, disse que era professor e ofereci meus serviços se caso eles
tivessem interesse em ter aulas. E esse interesse foi imediato. Eles expuseram
que seria difícil achar um horário, já que trabalham praticamente o dia todo, e
sugeri o domingo à tarde. Já estamos na quarta aula”, lembra o professor, se
referindo à aula de ontem.
Grupo tem interesse em participar
O mais novo da turma tem 17 anos, e o mais
velho, 35. A maioria tem em torno de 20 anos, e trabalha em indústrias de
alimentos. Parte da turma é do Bairro Wosocris, e outra parte do Bairro Jardim
Florença, em Nova Veneza. “Esses eu levo e busco”, diz o professor,
acrescentando que tem um grupo de cerca de dez senegaleses também em Nova
Veneza, e outros que moram no Bairro Próspera, em Criciúma, com interesse em
participar das aulas, mas são impossibilitados por falta de locomoção.
“Eu tenho muito orgulho de dar essas aulas e
me emociono muito. Eles são pessoas muito humildes, com vontade realmente de
aprender, educados, disciplinados e inteligentes. A Cruz Vermelha realizou uma
doação de sapatos recentemente, era bonito de se ver o brilho nos olhos de cada
um. Saber que você está contribuindo para que eles possam entender a língua do
país a qual escolheram para morar, saber ir a um mercado, a uma farmácia, o
nome de uma rua, isso não tem preço”, exclama o professor.
Quatro encontros já foram realizados
As aulas vêm dando resultado. Em quatro
encontros, o grupo já conheceu a moeda brasileira (real) e também como usá-la,
além do alfabeto, diversas palavras e conjugação de verbos. A língua oficial do
Senegal é owolof, mas eles possuem uma cultura bastante rica. Sabem 16 idiomas,
dentre eles o francês. O presidente do Conseg do Rio Maina, Ricardo Colombo,
adianta que há um projeto em andamento, com a Casa da Cultura de Criciúma, para
oferecer aulas de percussão. Essa semana os instrumentos já devem ser
comprados. Um grupo será criado, inclusive fará apresentações na próxima Festa
das Etnias.
“Eles têm que ter um suporte, uma
assistência. Se vierem para cá e não ser instruídos, não ter oportunidades,
como um direcionamento para o emprego e educação, ficarão vagando, perdidos,
com risco de ingressar na criminalidade. Vamos entrar em contato com as
polícias, Civil, Federal e Militar, e quando eles tiverem entendendo o
português fluentemente, iremos promover palestras sobre os direitos deles, de
alerta e prevenção a tudo que é ilícito”.
Os senegaleses vêm precisando de doações.
Roupas, cobertores e móveis são os produtos mais necessitados. De acordo com os
voluntários, um meio de locomoção ou outra maneira que possa fazer com que mais
gente tenha acesso a essas aulas, será muito importante. “Tem alguns que
trabalham domingo de manhã, ou em toda a madrugada de sábado, e vem participar,
com entusiasmo. Força de vontade é o que não falta para eles”, conclui o
professor Fernando.
Contato / Doações: Ricardo Colombo / Presidente do Conselho
Comunitário de Segurança (Conseg) do Rio Maina. Talise Freitas – Brasil in “A Tribuna”
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