Para além do programa já anunciado, com a vinda dos autores portugueses Francisco José Viegas e Valério Romão, o Festival Literário de Macau revelou mais nomes e detalhes do programa da sua 12.ª edição que junta escritores da Grande Baía e da Lusofonia em Macau entre os dias 6 e 15 de Outubro. A par da literatura contemporânea, prestar-se-á tributo a nomes grandes do passado: Camões, Shakespeare, W.H. Auden e J.R.R. Tolkien
Depois
de três edições em que o Festival Literário de Macau, devido à pandemia, apenas
pôde contar com a presença de autores locais, o evento deste ano marca o
regresso de convidados vindos de fora. Segundo um comunicado enviado ontem às
redacções pela organização, de Portugal chegam Valério Romão e Patrícia
Portela, dois jovens escritores que têm em comum a originalidade das suas obras
e passagens anteriores por Macau. Já António Caeiro, outro dos convidados, é um
veterano do jornalismo com largos anos de trabalho na China. No festival vai
apresentar o seu último trabalho, “Os Retornados de Xangai”. Francisco José
Viegas, nome já anunciado, é o único dos participantes do exterior que já antes
esteve no Rota das Letras, em 2015. Vem agora para falar das suas mais recentes
novelas policiais, “Melancholia” e “Luz em Pequim”, e também para apresentar
duas obras da editora Quetzal, que dirige: “O Jogo das Escondidas”, romance
póstumo de Fernando Sobral antes publicado em fascículos pelo jornal Hoje
Macau; e “Jornadas pelo Mundo”, do Conde de Arnoso, que retrata Macau e a China
de finais do séc. XIX.
O
centenário do nascimento de Henrique de Senna Fernandes abre o festival a 6 de
Outubro, com o lançamento do primeiro livro de ensaios sobre a produção
literária do escritor macaense, trabalho dirigido e coordenado por Lola Xavier
e Pedro d’Alte, ambos professores da Universidade Politécnica de Macau. Na mesa
deste primeiro painel vai estar ainda Miguel de Senna Fernandes, também autor e
filho do homenageado. Antes desta sessão, e logo após a cerimónia de abertura
do 12.º Festival Literário de Macau, vai ser inaugurada na galeria da Livraria
Portuguesa a primeira exposição individual de pintura do artista
norte-americano Benjamin Hodges, académico que reside em Macau há vários anos.
Este
ano, o Rota das Letras vai ter a sua base, numa primeira fase, na Livraria
Portuguesa, de 6 a 8 de Outubro, e depois na Casa Garden, sede da Fundação
Oriente, no fim de semana de 13 a 15 do mesmo mês. Por ambos os espaços vão
também passar vários autores de Macau ou aqui baseados: Joe Tang, Erica Lei,
Yang Sio Mann, Isaac Pereira, Rui Rasquinho, Rui Farinha Simões, Paulo
Cardinal, José Basto da Silva, Marisa C. Gaspar, Andrew Pearson, Tim Simpson,
Joshua Ehrlich. Este último, historiador, vai apresentar a obra que
recentemente publicou sobre a Companhia Britânica das Índia Orientais,
justamente num espaço que outrora lhe serviu de sede, a Casa Garden.
A
Grande Baía vai estar representada por nomes importantes das letras chinesas.
Deng Yiguang, escritor de etnia mongol nascido em Chongqing, mas hoje baseado
em Shenzhen, é um autor já galardoado com o Prémio Literário Lu Xun, um dos
mais importantes da China.
Os
seus romances estão traduzidos em várias línguas estrangeiras e têm sido,
frequentemente, adaptados ao cinema. Fu Zhen, natural de Nanchang, em Jiangxi,
agora radicada em Hong Kong, é uma das escritoras mais influentes da nova
geração. Vem a Macau falar do seu primeiro romance, “Zebra”, e também dos
vários livros de viagens que já publicou. Wang Weilian é outro dos jovens
autores chineses de maior talento. Sinal disso, o ter sido distinguido com o
Prémio Literário Mao Dun para Novos Autores e com a medalha de ouro na mais
importante competição literária da China para obras de ficção científica.
Vem
de Cantão, como vem também Zhu Shanbo, autor de vários romances históricos e
colecções de contos. Xiao Hai, hoje a viver em Pequim, é um representante da
chamada poesia operária chinesa, um género literário que está a ressurgir na
China. No Festival Rota das Letras, vai partilhar a mesa de uma sessão com
Valério Romão, que recentemente tem vindo a trabalhar este tema de forma
performativa.
Sara
Ferreira Costa, poeta, escritora e tradutora portuguesa, já esteve antes
envolvida na organização do Rota das Letras, e volta agora como convidada. Vai
apresentar a sua poesia e dirigir uma oficina sobre a tradução de poemas
chineses, coordenando uma sessão livre de poesia, a ter lugar no bar Vasco’s,
no hotel Artyzen-Grand Lapa.
Com
o quinto centenário do nascimento do grande poeta português Luís Vaz de Camões
a aproximar-se a passos largos – é já em 2024 –, o escritor e jornalista Carlos
Morais José, director do Hoje Macau, vai entrevistar na Livraria Portuguesa
Edward Wilson-Lee, professor da Universidade de Cambridge e autor de “A History
of Water” – uma biografia de Camões que narra também, em paralelo, a vida de
Damião de Góis. O autor britânico é especialista em literatura do Renascimento
e vai juntar-se aos professores da Universidade de Macau, Glenn Timmermans e
Nick Groom, seus compatriotas, na celebração de um outro marco importante da
história da literatura: a publicação, há 400 anos, do primeiro livro
inteiramente dedicado à dramaturgia de William Shakespeare – o “First Folio”.
Noutras sessões do evento, Timmermans vai ainda evocar a figura do poeta
britânico W.H. Auden, e Groom vai apresentar a edição mais recente do seu
ensaio sobre a obra de J.R.R. Tolkien.
Quanto
à fotografia, outra arte com lugar já reservado em cada edição do Festival
Literário, vai estar novamente presente através do lançamento de obras da
autoria de Rusty Fox e Francisco Ricarte, e do lançamento do sexto número da
revista Halftone. Rita Gonçalves – Macau in “Ponto
Final”
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